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WhatsApp é usado para divulgar listas ofensivas; polícia e MP apuram casos

Grupos do WhatsApp estão sendo utilizados para difamar pessoas; polícia e Ministério Público buscam responsáveis por crimes - Reprodução
Grupos do WhatsApp estão sendo utilizados para difamar pessoas; polícia e Ministério Público buscam responsáveis por crimes Imagem: Reprodução

Eduardo Schiavoni e Rayder Bragon

Do UOL, em Americana (SP) e Belo Horizonte

23/01/2015 16h09Atualizada em 17/07/2020 20h05

Usuários do WhatsApp têm criado listas no aplicativo em cidades do interior para ofender moradores. Uma das práticas comuns é criar classificações depreciativas de pessoas que estão fora do grupo, como "putas", "homossexuais", "chatos", "cornos", etc.

Em pelo menos duas cidades do interior de São Paulo e de Minas Gerais, há investigação da polícial e uma ação judicial do MP (Ministério Público) para tentar identificar os autores desses grupos difamatórios.

Quem participa dessas listas em aplicativos pode ser enquadrado em três tipos de crime: calúnia (falsamente dizer que alguém cometeu um crime), difamação (dizer algo ofensivo à reputação da pessoa) e injúria (ofender a dignidade ou decoro de alguém).

Além das pessoas que participam dos grupos, quem espalha esse tipo de material também pode ser responsabilizado. "É evidente que essa injúria causa dano a quem é vítima dela. É possível, portanto, que o autor ou mesmo quem repassa seja processado e, se condenado, tenha que indenizar a vítima", explicou o advogado Thiago Coletto, especializado em direitos da personalidade e responsabilidade civil.

Santa Bárbara (MG): pessoas desenvolveram depressão por difamação

Em Santa Bárbara (105 km de Belo Horizonte), a promotoria prepara uma ação pública contra os autores de ofensas no WhatsApp. Há pelo menos dez grupos conhecidos na cidade com conteúdos que ofendem moradores. Algumas pessoas chegaram a desenvolver depressão ou medo de sair de casa, em função das ofensas ditas no aplicativo.

"Tem muitas meninas e meninos que não estão saindo de casa, por vergonha, ficam na cama e estão extremamente deprimidos. Há casos de estudantes que não querem mais frequentar a escola por medo de sofrerem bullying", disse a promotora de Justiça, Carla Rodrigues Fazuoli, que prepara o processo.

Os materiais difamatórios começaram a circular no fim de outubro do ano passado e, basicamente, classifica os listados, entre adolescentes e maiores de idade, como sendo "putas' ou homossexuais.

Duas das listas, às quais o UOL teve acesso, elenca nomes de mulheres que, em alguns casos, são classificadas como "putas" ou têm o nome relacionado a supostas predileções por posições sexuais durante as relações. Em outra, mais de 60 nomes de homens são considerados homossexuais e aos quais são dispensados tratamentos depreciativos.

Tanabi (SP): lista no WhatsApp causou até briga entre moradores

Em Tanabi (a 477 km da cidade de São Paulo), a Polícia Civil investiga o caso de uma lista do WhatsApp que classifica moradores como "os mais chatos", "os mais gays" e "os mais cornos".

Uma assistente social de 36 anos, que pediu para não ter a identidade revelada, foi uma das seis pessoas a procurarem a polícia. Segundo ela, a inclusão dela na lista causou prejuízos à imagem que não serão facilmente apagados.

A lista causou até briga na cidade. Uma professora de 35 anos e sua irmã, de 31, ficaram indignadas ao saberem que seus nomes estavam em uma das listas e foram tomar satisfações com uma farmacêutica de 23 anos. As irmãs foram, então, ao local de trabalho da vítima a agrediram a moça.

A farmacêutica registrou um boletim de ocorrência por agressão e as duas irmãs por injúria. As duas ocorrências estão sendo investigadas. Os nomes foram mantidos em sigilo a pedido da polícia.

Segundo o delegado José Francisco de Mattos Neto, responsável pelo caso, outras pessoas que estejam na lista do WhatsApp devem procurar a Polícia Civil. "Infelizmente as pessoas não procuram a delegacia contra crimes contra a honra, praticados em redes sociais. Mas eles devem ser registrados", diz.