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Usuários fazem "dieta" de redes sociais com corte de internet no celular

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

20/02/2015 06h00

O pacote de internet no celular que deveria durar um mês, às vezes não chega a completar os sete primeiros dias. E, para não ficar sem acesso à rede ou mesmo para não ter que desembolsar muito com os pacotes extras, alguns usuários acabaram sendo submetidos a uma 'dieta forçada' de redes sociais. Sem contar na dependência, cada vez maior, das redes wi-fi. Essa tem sido a principal ferramenta capaz de quebrar esse 'jejum'.

O bloqueio da internet ao fim das franquias tem sido adotado gradativamente pelas principais operadoras do país desde o final do ano passado. Antes, ao fim do limite do pacote de dados, as empresas, ao invés de cortar o serviço, reduziam a velocidade do acesso. Agora, caso queiram manter conexão à rede, os usuários devem contratar pacotes extras.

Essa mudança afetou diretamente a forma como a engenheira Priscila Kohler, 32, interage com as redes sociais. "Percebi que se usasse o Instagram e o Facebook, o meu pacote de dados não chegava a durar nem uma semana", disse a moradora de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. O upgrade em seu plano não foi suficiente para garantir acesso à rede o mês inteiro. Também foi preciso adotar algumas medidas preventivas. "A internet do celular é usadas exclusivamente para consultar o e-mail e o WhatAapp.""

Lívia de Carvalho Menucci, 25 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lívia de Carvalho Menucci, 25
Imagem: Arquivo pessoal

Para não cair na tentação, Priscila decidiu inclusive desinstalar de seu smartphone o aplicativo do Facebook. "Assim não corro o risco", brincou ela, que diz acessar o seu perfil no Instagram apenas quando está conectada na rede wi-fi. Outra alternativa adotada pela engenheira para economizar o pacote de dados foi evitar baixar fotos e vídeos recebidos no WhatsApp. "Só abro exceção para conteúdos profissionais", disse.

A advogada Lívia de Carvalho Menucci, 25, também disse ter adotado medidas similares, mas acrescentou ter ficado ainda "mais dependente do wi-fi". "A qualquer lugar que vou, eu sempre pergunto se eles têm wi-fi. Tem recorrido até os wi-fi públicos, que antes evitada por falta de segurança", afirmou a moradora de Santos, no Litoral Sul de São Paulo, que disse ter passado bem menos tempo no celular desde a mudança adotada pelas operadoras. "São os sacrifícios que temos que fazer para não onerar o bolso.

Já Priscila estima ter reduzido de quatro para uma hora por dia o tempo que gasta à frente do smartphone. "De certa forma, a mudança foi bem funcional. Não tenho mais aquela mania de ficar mexendo no celular pura e simplesmente. Só o uso quando realmente há necessidade", afirmou a engenheira.

Cleison Ferreira, 32 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Cleison Ferreira, 32
Imagem: Arquivo pessoal

A mudança nos 'hábitos virtuais' não se restringe aos paulistas. O UOL consultou sua lista de contatos do WhatsApp e recebeu o retorno de mais de 100 pessoas de diversas regiões do país. A maioria delas disse que teve que restringir o acesso à internet para economizar o pacote de dados. "A nova medida das operadoras afetou e muito o hábito de eu acessar à internet, pois tenho de evitar de baixar vídeos e de ficar em conexão contínua. Para escapar, em lugares públicos procuro pontos onde há rede wi-fi, e em casa acesso rede wi-fi de uma operadora de TV a cabo", contou o bancário Rogério Sousa, 35.

O radialista Cleison Ferreira, 32, que já chegou a contratar dois pacotes extras em um único dia, disse se negar a dar mais dinheiro para as operadoras. "Se você contrata um pacote mensal, ele tem que durar o mês inteiro e não apenas alguns dias", reclamou ele. "Se acaba o meu pacote, me limito a usar a rede wi-fi, que hoje tem em todo e qualquer canto."

Surpresas desagradáveis com fim da conexão

Foi no meio de um percurso para um destino desconhecido, que Priscila acabou ficando na mão com o fim inesperado de seu acesso à internet. "Estava indo para o médico e, como não sabia o caminho, acabei recorrendo ao GPS. Mas, no meio do percurso, a minha conexão foi cortada. Fiquei perdida e acabei tendo que recorrer aos métodos antigos: pedir referências em postos de gasolinas e para pessoas estranhas." A engenheira chegou atrasada na consulta, mas acabou conseguindo ser atendida (menos mal!).

Lívia também não passou por essa experiência ilesa e foi pega de surpresa com o fim do seu pacote de dados no meio de uma transação bancária. "Estava pagando uma conta com vencimento no mesmo dia e no meio da operação recebi uma mensagem dizendo que tinha atingido o limite. O jeito foi correr para um lugar que tivesse wi-fi para concluir o pagamento", contou a advogada, que disse ter ficado muito irritada na ocasião.

Mas tanto Lívia como Priscila disseram acreditar que problemas como esses poderiam ser prevenidos caso fosse possível consultar a evolução dos gastos dos pacotes de dados. "Assim seria possível ter um controle maior do uso da internet", aponta a advogada.  "O ideal seria que pudéssemos fazer as consultas da mesma forma como consultamos os créditos disponíveis", sugeriu a engenheira.

E a qualidade da conexão, melhorou?

Ao anunciar o bloquei do acesso à internet no fim das franquias, as operadoras chegaram a alegar que a medida priorizava a qualidade das conexões. Para Lívia, o serviço realmente ficou melhor. "As coisas têm carregado muito mais rápido e isso me motiva a abrir mais e mais coisas. Tanto é que no primeiro mês acabei me empolgando com essa agilidade, que em menos de 15 dias o meu pacote de dados tinha acabado", relatou ela.

A melhora também foi detectada por Priscila, que destaca como ponto negativo a qualidade do plano adicional. "Quando você compra o plano adicional, a opção oferecida é de um pacote básico, com uma velocidade inferior. E você não tem nem a opção de escolher algo melhor", disse ela, que é cliente Vivo. 

Já Ferreira disse não ter notado melhora alguma nos serviços e não ver vantagem alguma na mudança adotada pelas operadoras. "Vantagem? Só se for para as empresas."

Ação das operadoras

A primeira a adotar o novo modelo de cobrança foi a Vivo, que desde 6 de novembro tem cortado o acesso à rede dos clientes pré-pagos e controle. O corte foi iniciado em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, mas, segundo a empresa, já foi implementado nacionalmente. "O mesmo ajuste deverá ser realizado nos próximos meses para os clientes pós-pagos", disse a operadora por meio de nota.

Medida similar foi adotada pela Oi, que desde 1º de dezembro tem bloqueado o acesso à internet dos usuários dos planos pré-pagos e Oi Controle em todo o país. A empresa, no entanto, não informou se pretende ou não expandir o modelo de cobrança aos planos pós-pagos, tampouco qual seria o prazo para essa adequação.

Já a TIM anunciou que a partir de 20 de março bloqueará o acesso à internet de clientes que atingirem a franquia mensal de planos pós-pagos. A alteração, que desde dezembro já tem atingido os planos pré-pagos e controle da operadora, vai atingir clientes dos planos Infinity Pós (que não é mais comercializado), Liberty, Liberty Express e Liberty Web (para tablets e modem) por todo o país. O bloqueio do plano pós-pago Liberty no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e na área de DDD 19, no interior paulista, também já vinha sendo implementado de maneira gradativa e será concretizado até 18 de março.

A Claro já trabalha com o bloqueio da internet aos clientes pré-pagos e Controle que atingirem o limite da franquia contratada, no interior de São Paulo e nos Estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Acre, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, no Distrito Federal e, amanhã, em Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Para as demais regiões, o bloqueio acontecerá em breve, mas ainda sem data definida.