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Desafio do Google ao reinado do iPhone abre porta para Toshiba

Pavel Alpeyev e Takashi Amano

04/03/2015 18h31

O principal aliado do Google Inc. no combate ao statu quo no segmento de smartphones é uma empresa que o iPhone, da Apple Inc., expulsou do mercado.

A Toshiba Corp. fabrica os chips que operam o aparelho modular do Projeto Ara, do Google, que possibilitará que os usuários substituam telas, câmeras e baterias como se fossem peças de Lego.

Os telefones Ara têm potencial para interromper o ciclo de produto de dois anos da Apple e da Samsung Electronics Co., que depende de upgrades e recursos para atrair consumidores para os novos modelos, de acordo com John Butler e Matthew Kanterman, analistas da Bloomberg Intelligence. Eles também poderiam reduzir o controle que as fabricantes de smartphones têm sobre os fornecedores e possibilitar que fabricantes de peças, como a Toshiba, vendam componentes diretamente aos usuários finais.

"Agora, ou você tem um lugar em um aparelho Apple, ou você não tem nada", disse Takeshi Ono, membro sênior da divisão de microprocessadores da Toshiba, em entrevista de Tóquio no dia 19 de fevereiro. "Quando os obstáculos para instalar novas funções diminuírem, fabricantes de componentes como nós vão se beneficiar".

A plataforma Ara é utilizada para produzir um endosqueleto eletrônico com componentes adicionados magneticamente. O chip comutador da Toshiba fica nesse chassi, transmitindo sinais entre as peças que contêm seus chips-ponte. A fabricante de processadores e grupo industrial com sede em Tóquio também é responsável pela tecnologia que transmite dados entre aparelhos sem contato físico.

O Google tem direitos exclusivos para vender o chip comutador e a Toshiba tem liberdade para vender os chips-ponte a qualquer fabricante de modular, disse Ono. Entre os aparelhos Ara que estão na prancheta de desenho, há um controlador de jogos, ponteiros laser e um módulo de visão noturna, de acordo com o blog projectaraforum.

Vitória da câmera

Um protótipo do smartphone Ara que será lançado em um teste em Porto Rico ainda neste ano terá uma câmera modular criada pela Toshiba, disse Ono. Essa é uma vitória para a empresa em um mercado que é dominado pelos sensores de imagem da Sony Corp. A Toshiba também está desenvolvendo módulos de transferência de dados e carregamento sem fio, disse ele.

A Toshiba vendeu suas operações de telefonia móvel à Fujitsu Ltd. em 2012, sucumbindo ao domínio do iPhone, e agora os chips semicondutores e de memória são responsáveis por cerca de 80 por cento do lucro operacional da empresa. Os chips de memória flash NAND estão presentes em diversos aparelhos, do Galaxy, da Samsung, ao iPad Mini, da Apple, de acordo com os dados da iFixit.

O Projeto Ara proporciona ao conglomerado ? que fabrica de tudo, de escâneres médicos a componentes de energia nuclear, notebooks e televisores ? uma oportunidade para subir na cadeia alimentar do setor de smartphones, disse Ono, da Toshiba.

"O Google está buscando uma mudança de paradigma ao tentar democratizar o hardware dos smartphones e vale a pena investir nisso", disse ele.

De peça em peça, a modularidade vai sendo estabelecida. Como os telefones convencionais têm vantagens em termos de bateria, custo e tamanho, o Projeto Ara vai ter que desenvolver recursos novos e atraentes, disse Ono. Essas deficiências poderiam se tornar menos relevantes quando a plataforma se desenvolver além do formato de smartphone, a fim de englobar diversos aparelhos distintos, disse ele.

"Quando as interfaces estiverem padronizadas não haverá motivos para ficar nos telefones", disse ele. "Nossa perspectiva vai além, para a internet das coisas".