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Cotas são importantes, mas não resolvem falta de mulheres no mercado de TI

13.mar.2015 - Judith De Brito (centro), diretora de RH e Jurídico do UOL, faz abertura do "Encontro de Gerações de Mulheres em TI", realizado no auditório da Folha de S. Paulo - Divulgação
13.mar.2015 - Judith De Brito (centro), diretora de RH e Jurídico do UOL, faz abertura do "Encontro de Gerações de Mulheres em TI", realizado no auditório da Folha de S. Paulo Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

13/03/2015 18h48

Para tentar aumentar a presença feminina no setor de TI (tecnologia da informação), algumas empresas criam ações afirmativas. No entanto, é necessário mais do que estabelecer cotas: é preciso promover a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. A conclusão foi um dos temas debatidos durante o “Encontro de Geração de Mulheres em TI”, realizado nesta sexta-feira (13), em debate no auditório da Folha de S. Paulo.

“Se for uma política paliativa para um problema maior [no caso, incluir a mulher], ótimo. O problema é só fazer por fazer”, disse Camila Attuch, desenvolvedora e embaixadora da Technovation Challenge, iniciativa que ensina meninas a programarem.

Para Camila, as companhias se preocupam com a diversidade e até tomam iniciativas para incluir mais mulheres no setor de tecnologia. Porém, geralmente, há pouca preocupação em tornar a situação feminina equiparada a masculina.

“As mulheres precisam ter igualdade salarial e promoção semelhantes aos dos homens”, afirmou Jaciara Cruz, empreendedora e cofundadora da “Ideias de Futuro”, uma plataforma de financiamento para projetos de educação, sobre o tema.

Segundo o Censo 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres representam apenas um quarto das 520 mil pessoas que trabalham na área de tecnologia no Brasil. Além de serem minoria, também recebem 34% menos do que os homens. Essa desproporção salarial pode chegar a 65% quando considerados os cargos de chefia.

“Não vejo como quadro negativo, mas uma grande oportunidade para ocuparmos esse espaço”, afirmou Judith de Brito, diretora-superintendente do Grupo Folha e diretora de RH e Jurídico do UOL. “Temos que por a mão na massa, mas sem esquecer que ainda existe preconceito.”

Desafios das mulheres

No debate, um dos desafios citados para as mulheres na área de tecnologia é a falta de exemplos. Segundo Camila, na maioria das vezes, os homens têm referências de sucesso masculinas no setor, como Steve Jobs, cofundador da Apple, Bill Gates, cofundador da Microsoft, e Mark Zuckerberg, diretor-executivo e fundador do Facebook.

Há mulheres de sucesso, mas menos pessoas conhecem. Uma das pessoas mais poderosas do Facebook, por exemplo, é Sheryl Sandberg, que é chefe operacional da rede. Outra famosa no setor é Marissa Mayer, que é diretora-executiva do Yahoo!.

Outro problema citado é que as mulheres se arriscam menos. Um estudo de 2014 da empresa de tecnologia HP, publicado no "Harvard Business Review", mostra que os homens se candidatam para vagas quando eles completam apenas 60% dos requisitos. Já as mulheres, só o fazem quando preenchem tudo que é solicitado na descrição da vaga.

"Por uma questão de criação, os meninos costumam ser mais autoconfiantes. Mesmo que não saibam, eles acreditam que vão aprender com esforço. As meninas costumam ser mais reservadas quanto a isso", disse a embaixadora da Technovation Challenge

Mudança de mentalidade

Apesar da baixa presença das mulheres no setor de tecnologia da informação, Ana Carolina Humberg, diretora de tecnologia do Western Union, ressaltou que existe um problema cultural presente na sociedade.

“Às vezes, nós mesmas nos colocamos nesse preconceito. Temos que começar a mudar dentro de casa e mostrar que cuidar dos afazeres domésticos, por exemplo, não é uma obrigação feminina, mas uma responsabilidade das pessoas que vivem no local”, disse.

Complementando a ideia, Jaciara apontou que as mulheres, por fazerem várias tarefas ao mesmo tempo, acabam tendo o “complexo de mulher maravilha”. Ela citou um exemplo pessoal para ilustrar como tem mudado em casa.

“Antes pedia ajuda para lavar a louça e isso parecia ser uma função minha. Com o tempo, passei a chamar meu marido e meu filho dizendo ‘vamos lavar a louça’. Passou a ser uma função compartilhada e isso já ajuda a quebrar estereótipos.”

A Semana da Mulher na Tecnologia é uma iniciativa para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Foram feitas várias palestras entre 9 e 13 de março. Durante o período, empresas do ramo (como UOL Diveo, Twitter, Microsoft, Totvs e Fiap) sediaram eventos para promover a presença da mulher no setor de TI e debates sobre os desafios da inclusão feminina.