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Para especialistas, preço de smartphone trava expansão do uso do 4G no país

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

20/03/2015 06h00Atualizada em 20/03/2015 10h28

Com quase dois anos de presença no Brasil, a tecnologia 4G está longe de atingir a maioria dos usuários que acessa a internet por um dispositivo móvel. Segundo dados da Anatel, em janeiro de 2015, apenas 5% dos acessos de banda larga móvel feitos no país --7,75 milhões do total de 148,83 milhões-- usam a rede que proporciona velocidade nominal de conexão de até 100 Mbps (Megabits por segundo).

Especialistas da área de telecomunicações apontam os altos preços dos smartphones adaptados ao padrão e a falta de investimento em infraestrutura como os principais motivos da baixa representatividade.

Isso porque não basta que a tecnologia seja habilitada pelas operadoras na região em que o consumidor faz uso da internet móvel --é preciso ter um telefone que possa operar com esta tecnologia, e esses modelos ainda pesam no bolso do usuário. "Esses aparelhos ainda custam muito caro e inviabilizam a expansão no uso da tecnologia", afirma Eduardo Tude, da consultoria de telecomunicações Teleco.

A indústria tem dado passos para tentar mudar esta tendência em 2015, como é possível se notar no lançamentos de smartphones de entrada com 4G, como o Moto E, da Motorola. "Com esse barateamento, a expectativa é que o uso da tecnologia cresça consideravelmente no país neste ano", diz Georgia Jordan, analista de telecomunicação da Frost & Sullivan.

Em varejistas, é possível achar aparelhos 4G com preços que variam de R$ 500 (Lumia 635, da Microsoft Device) a R$ 4.700 (iPhone 6 Plus com 128 GB de armazenamento). Em operadoras, o valor é menor ainda, pois algumas delas subsidiam o custo do dispositivo.

Levantamento da Anatel mostra que existem no mundo cerca de 400 equipamentos com tecnologia LTE [que permite a conexão ao 4G], alguns deles já vendidos no Brasil

Custo dos planos 4G também atrapalha aumento no uso

Outra restrição que colabora para afastar o usuário do 4G é o preço dos planos oferecidos pelas operadoras de telefonia celular. As opções que permitem o uso da rede 4G geralmente são mais caras e não estão tem a mesma cobertura em relação à oferta padrão, que ainda usa a rede 3G.

É por isso que, João Carlos Lopes, professor de engenharia de computação do Instituto Mauá de Tecnologia, recomenda que os usuários se certifiquem da existência de sinal do padrão nos locais em que mais usa o dispositivo antes mesmo do investimento. "É bem comum o usuário comprar o aparelho, assinar o plano e ainda assim não ter acesso à rede 4G, já que nos locais em que faz o uso da internet móvel a cobertura não está disponível."

Todas as operadoras, assim como a Anatel, disponibilizam em seus respectivos sites a extensão territorial da cobertura 4G. Além disso, segundo Lopes, há aplicativos que podem auxiliar os usuários a identificarem os locais das redes, bem como o tipo de conexão disponível na região em que o usuário estiver.

As operadoras têm diferentes estratégias para vender seus planos de internet 4G. No entanto, em média, pacotes que envolvam dados em rede 4G e alguns minutos para ligação custam a partir de R$ 70 por mês.

Rede 4G cobre 41,8% da população brasileira

Apesar do uso do 4G ainda ser pequeno, Tude ressalta a extensão da rede no Brasil. "Atualmente, todos os municípios brasileiros com mais de 500 mil habitantes estão adaptados à tecnologia. Ou seja, 147 municípios, incluindo todas as capitais, contam com o serviço. Isso significa que 41,8% da população poderia usar o 4G".

Para Tude, isso faz com que o Brasil esteja está bem próximo da realidade internacional em termos de cobertura. "A rede 4G na Coreia do Sul atinge 63% da população. Já o alcance nos EUA é de 45%. O Brasil está à frente de países da Europa Ocidental, onde o índice gira em torno de 15%", cita. "O que é desigual é o preço dos aparelhos."

A previsão, segundo acordo estabelecido entre a Anatel e as prestadoras de serviço --Claro, Oi, Tim e Vivo--, é de que os serviços de tecnologia 4G sejam universalizados de forma gradativa até 2017.

Até 31 de dezembro de 2015, o padrão deve ser implementado em todas as cidades com mais de 200 mil habitantes. Os municípios com mais de 100 mil habitantes serão atendidas até 31 de dezembro de 2016. Já as cidades com mais de 30 mil habitantes devem ser beneficiadas até 31 de dezembro de 2017.

A disponibilidade da tecnologia, no entanto, não é garantia de qualidade, segundo o presidente da AET (Associação dos Engenheiros de Telecomunicações), Coriolano Silveira da Mota. "O 4G no Brasil tem funcionado muito baixo da sua potencialidade. As operadoras estão reaproveitando a infraestrutura existente, que funciona bem para o 2G e até para o 3G, mas que não foram feitas para o 4G", relata ele.

Por falta de opção, segundo ele, as empresas tiveram que investir em novas antenas que operam na faixa de 2,5 GHz --frequência reservada pelo governo brasileiro para esse tipo de comunicação, que é diferente da 3G. Ainda assim foram mantidos os mini-links [sistema que liga uma torre de um lado ao outro]. "Enquanto não houver a substituição por fibra ótica, que requer investimento, o sistema continuará capengo", disse Mota, que relaciona a falta de infraestrutura com a instabilidade do sistema.

Instabilidade que, de acordo com Lopes, inviabiliza a garantia de acesso à rede de alta velocidade 24 horas por dia e em qualquer lugar. "Não é possível aumentar o sinal com soluções caseiras. A qualidade da conexão está relacionada diretamente à distância do usuário com a antena 4G. Quanto mais próximo estiver dela, melhor é conexão", afirma o professor, que explica que o alcance das antenas 4G é menor. "Para uma antena 3G são necessários de 3 a 5 torres 4G. Nas grandes cidades falta espaço para tanta infraestrutura."

Em resposta às críticas, o Sinditelebrasil, órgão que representa as empresas de telecomunicações, disse que "as prestadoras de telefonia móvel investem constantemente na expansão de suas redes, ampliação da cobertura e capacidade e na melhoria da qualidade dos serviços". "Especialmente nos serviços de 4G, esses investimentos podem ser comprovados pelo número de cidades atendidas, que é três vezes maior que a meta definida pelo órgão regulador", apontou a nota.

Incompatibilidade no exterior

Outro ponto negativo da rede 4G brasileira, como relata Mota, é a incompatibilidade com outros países, entre eles os Estados Unidos. No Brasil, o serviço é prestado na faixa de frequência de 2,5 GHz. "A maioria dos países usadas faixas que vão de 1,8 GHz a 2,1 GHz. Já os Estados Unidos, por exemplo, usam a faixa de 700 MHz. Há apenas dois países asiáticos compatíveis com a frequência adotada no Brasil", aponta ele.

Diante da incompatibilidade, é preciso tomar cuidado ao comprar um smartphone 4G no exterior. Antes de concretizar a compra, certifique-se que o aparelho pode ser usado na frequência 2,5 GHz. Caso contrário, no Brasil, o dispositivo estará limitado ao uso do 3G. Vale lembrar também que um aparelho comprado aqui no país não conseguirá conectar o 4G no exterior.

A sugestão da AET é que o setor de telecomunicação migre os usuários da tecnologia 2G para a 3G, para permitir que a frequências 800 MHz, 900 MHz e 1.800 MHz sejam ocupados pelo padrão 4G.