Mulher negra tem foto usada em falso anúncio de venda de bebê no Facebook
Uma jornalista brasiliense foi vítima de racismo e difamação em um post publicado no Facebook nesta segunda-feira (11). "Vende-se um bebê! R$ 50. Como não achei Cytotec - remédio abortivo -, eu e minha mulher resolvemos vender a criança", diz a mensagem divulgada em um grupo de compra e venda de produtos em Salvador (BA). Para ilustrar a notícia, o autor identificado como "Laio Santiago" - que apagou o perfil no mesmo dia - utilizou a foto de Raíssa Gomes, 25, quando estava grávida de nove meses.
A jornalista denunciou o caso à 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) no final da tarde de segunda. A Polícia Civil do Distrito Federal informou que só irá se manifestar após o término das investigações.
"Espero que a Justiça encontre o responsável e que ele responda legalmente por isso, mas, acima de tudo, espero que isso sirva de exemplo para outras pessoas e que possamos nos unir como uma sociedade que lute contra opressões racistas, machistas e de todas as naturezas", disse.
Raíssa conta que a foto foi tirada há cerca de dois anos e que ficou surpresa ao saber da publicação. "Um amigo estava no grupo e me alertou. Fiquei mal. Nós, negros, sofremos preconceito em vários momentos da vida. Mas episódios como esse, de utilização da minha imagem, foi o primeiro."
Ela acredita que o autor da ação tenha pego a imagem da busca do Google. "Em 2013, fiz um texto para o 'Blogueiras Negras' contando um episódio de racismo institucional que sofri durante a gestação. A foto estava na publicação", conta.
Para Raíssa, o responsável pela postagem é mais uma pessoa da sociedade brasileira que tem o pensamento moldado a partir de referenciais racistas.
"Desconstruir esse imaginário é um desafio árduo e cotidiano. A postagem dele, não é só dele. Carrega um peso e um significado que é moldado desde antigamente. As pessoas ainda consideram os negros como seres inferiores", desabafa.
Além do boato, vários comentários racistas foram publicados na postagem. "Nego tá pensando que é ken?", diz uma das mensagens. Raíssa também sofreu retaliações dos internautas. Ela foi chamada de assassina de crianças.
"Não recebi mensagens porque o meu perfil não estava associado ao post. Porém, nos comentários, pude observar muitas pessoas raivosas acreditando que eu queria vender a criança. Lembrei imediatamente do caso da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, que foi linchada no Guarujá (SP) depois de ter sua imagem associada a um boato espalhado pelo Facebook e que também envolvia crianças", lamenta.
Internet não é "terra sem lei"
A advogada Suelen de Souza explica que muitos daqueles que praticam crimes por meios virtuais ainda agem como se a internet fosse uma terra sem lei ou território sem dono.
"Todo ato praticado ou tudo o que é falado em meios virtuais pode ser rastreado, ainda que seja um perfil falso. Nenhuma identidade é desconhecida na rede. A depender do caso, quem divulga a informação, sem averiguar a veracidade ou gravidade do conteúdo, também pode responder com o autor do fato", informa a especialista em crimes na internet.
Segundo a advogada, o autor da postagem pode responder, principalmente, pelos crimes de calúnia - cuja pena prevista é a detenção de seis meses a dois anos e multa -, seguido pelos crimes de difamação e injúria, ambos com sanção de três meses a um ano, também com inclusão de multa.
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