No Twitter, "Brasil em Fotos" oferece pílulas diárias de história do país

Inspirado no perfil no Twitter “History in Pictures” (História em fotos), um amante de história resolveu fazer uma versão brasileira, o que originou o “Brasil em Fotos”.

Criada em fevereiro deste ano e com mais de 20 mil seguidores, a conta é mantida por um carioca de 44 anos que trabalha como consultor – ele disse que não pode revelar sua identidade, pois cláusulas contratuais o impedem de fazer declarações públicas.

“Meu prazer por história foi despertado por uma professora que tive no Colégio Pedro 2º chamada Therezinha de Castro. Ela nos fazia imaginar as cenas e ainda usava mapas pintados por ela própria. Isso me marcou muito e é o que tento fazer no Twitter: despertar nas pessoas o interesse pela nossa história”, disse em entrevista por e-mail.

Um dos destaques do “Brasil em Fotos” é fornecer pílulas diárias de passagens históricas sobre o Brasil ou relacionadas ao país.

Lá é possível encontrar imagens da confusão causada por Inri Cristo em Belém (PA) na década de 1980, fotos das primeiras favelas do país e imagens de celebridades quando eram mais jovens, por exemplo.

Os arquivos são publicados sem crédito. Porém, diz o dono do perfil, até agora ninguém reclamou sobre isso.

Apesar do caráter curioso, o perfil também traz informações sem confirmação ou conflituosas. Sobre a morte de Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela, por exemplo, o “Brasil em Fotos” cita que a imprensa noticiou apenas o fato em 2013. Porém o líder venezuelano teria morrido em 2012 – versão sustentada por um ex-segurança da guarda presidencial que fugiu para os Estados Unidos.  

Em conversa com o UOL Tecnologia, o autor do “Brasil em Fotos” falou sobre métodos de pesquisa, patrulha ideológica e os fatos mais curiosos que já descobriu. Acompanhe a seguir os principais trechos:

UOL Tecnologia: Quanto tempo você gasta publicando no Twitter por dia?

Brasil em Fotos: Não tenho uma frequência certa. Publico várias vezes ao dia, às vezes mais, às vezes menos. Meu recorde foi ter publicado 56 fotos num dia só.

Como é seu trabalho de pesquisa? Tem alguma fonte específica para fotos antigas?

Penso em assuntos, pessoas ou situações que tenho na memória, que vivenciei; assuntos que não vivenciei na época em que ocorreram, mas que li e que me marcaram de certa maneira e também muitas vezes procuro por um assunto e acabo encontrando outro.

Às vezes, vejo uma foto antiga e, quando vou ver do que se trata, acabo encontrando uma história incrível, como, por exemplo, o neto de dom Pedro 2º, o chamado "príncipe maldito".

A história conta que ele queria dar um golpe em sua tia princesa Isabel. Não conseguiu, porque a monarquia acabou e ficou louco. Muitas vezes um assunto dá um gancho para começar outro.

Também procuro por fotos com a melhor definição possível e com um tamanho mínimo agradável aos olhos. Tem ocasiões em que demoro a publicar até achar uma foto com qualidade melhor. 

Muita gente te incomoda por informações que você posta e sobre a qual elas não concordam?

Muito menos que eu imaginei que fosse acontecer. Às vezes, erro e, quando sou alertado por alguém, apago o post e republico com a informação correta, como uma data, por exemplo.

De maneira geral, meus seguidores são os melhores do Twitter, modéstia à parte e os comentários deles são a melhor parte de tudo. Não há povo mais criativo, espirituoso e divertido como nós brasileiros.  

Algum autor de uma foto já reclamou com você por ter postado no Twitter?

Até hoje ninguém reclamou.

Você recebe muitas críticas por abordar determinados assuntos?

Para evitar polarizações políticas, coloquei desde o primeiro dia na descrição que o perfil é apartidário. Publico fotos e fatos desconfortáveis a todos, de todos os partidos e ideologias e me interessa ler e analisar as reações de todos os lados a determinados posts. Mas sempre tem umas poucas pessoas que não entendem isso. Já fui chamado de "monarquista coxinha" a "petralha safado".

Sou seguido por políticos e pessoas públicas de todas as ideologias e partidos. Acho que é isso é uma prova da imparcialidade do que eu publico.

Vi que você também publica foto de personalidades vez ou outra. Você pede a eles ou acha na internet mesmo?

A maioria das fotos de personalidades eu encontro na internet, mas, quando procuro e não encontro, peço a elas via Twitter.

Exemplo: queria publicar uma foto da Mariana Godoy [ex-apresentadora da TV Globo, atualmente na RedeTV!] ainda criança e não encontrei de jeito nenhum. Pedi e ela me enviou uma imagem dela em preto e branco.

A Mariana ainda mandou uma de brinde em que aparece ela, a Carla Vilhena e a Patrícia Poeta [ambas apresentadoras da TV Globo]

Em um dos seus tuítes, você diz que o Chávez morreu em 2012, quando a maioria dos veículos de imprensa publicou a notícia em 2013. Por que há essa diferença?

A maior parte da mídia publicou março de 2013 como data oficial porque foi comunicado pelo Palácio de Miraflores [sede do governo da Venezuela] naquele dia.

Após algum tempo, um dos guarda-costas de Chávez, chamado Leamsy Salazer, fugiu para os Estados Unidos e, entre outras revelações, disse que Chávez realmente morreu no dia 30 de dezembro de 2012. No entanto, a cúpula do governo levou um bom tempo para digerir o fato e escolher uma data apropriada.

Ficaram dois meses esperando. O curioso é que, entre essa data e a data oficial de morte, vários decretos presidenciais foram assinados em nome dele, já morto. Depois dessa revelação do guarda-costas, o governo de Nicolás Maduro não se pronunciou dizendo que é mentira (como seria de se esperar) ou verdade. Simplesmente ignorou.   

Dentre as pesquisas que você fez, quais fatos mais chamaram a sua atenção? Se possível, teria como citar alguns?

Uma foi sobre o padre Cícero, que eu imaginava somente se tratar de um sacerdote de Juazeiro do Norte (CE) que se tornou santo para o povo do Nordeste.

Ao pesquisar sobre as fotos, descobri que se tratava na verdade de um político muito astuto e que adorava dinheiro. Atuou de forma muito polêmica naquele cenário, além de ter forjado "milagres", o que lhe rendeu excomunhão imposta pelo Vaticano.

Outro fato que me chamou muito a atenção foi a trajetória de ex-escravos que retornaram à África. Após aprender sobre comércio no Brasil, eles se tornaram a elite da Nigéria e do Benim.  Foi fascinante ir descobrindo o desenrolar destes fatos. Essas coisas a gente não aprende na escola.