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Após hostilidade no Facebook, evangélicos criam rede que veta "beijo gay"

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Imagem: Divulgação

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

15/06/2015 06h00

Foi a hostilidade sofrida no Facebook —que ganhou maior proporção diante da polêmica propaganda do Boticário— que motivou um grupo de evangélicos a criar uma rede social dedicada à comunidade cristã, explica Acir Santos, um dos mentores do FaceGlória, lançado oficialmente há pouco mais de uma semana.

"O Facebook é a maior rede social de todos os tempos, mas não há restrições ao desrespeito às morais cristãs. E, apesar da força da comunidade evangélica, somos vítimas constantes de preconceito por propagarmos nossos princípios", disse Santos que, além de ser prefeito de Ferraz de Vasconcelos pelo PSDB, é membro da Congregação Cristã do Brasil.

A nova rede, que se diz "voltada para a família cristã", está aberta para usuários das mais diferentes religiões. "Basta ser cristão", ressalta Santos, que afirma que não haverá restrição ao cadastro de homossexuais. "Eles são mais do que bem-vindos, até para que os debates sejam enriquecidos com os mais diversos pontos de vistas." Mas, ainda assim, a política de uso do FaceGlória proíbe o "beijo gay", além de "conteúdos pornográficos", "ataques a pastores e evangélicos" e conteúdos que firam os "princípios bíblicos".

Com uma conotação moral, os termos de uso do FaceGlória se diferenciam bastante das regras de outras redes sociais —tais como Facebook, Twitter e Instagram—, que são contrários basicamente a publicações de nudez, conteúdos ilícitos ou que incitem a violência. Mas ao justificar a proibição do beijo gay e a liberação do beijo hétero, Santos aponta os princípios familiares: "Para nós, uma família é constituída a partir da união de um homem e de uma mulher. Respeitamos quem faça diferente, mas não concordamos, tampouco queremos compartilhar essa prática".

O controle das publicações na nova rede social, a princípio, será feito de "maneira artesanal". "É por isso que contamos com a colaboração dos usuários, que devem denunciar qualquer postura que fira os princípios cristãos", afirmou Santos, que fala sobre a falta de mão-de-obra para esse tipo de fiscalização. "Atualmente, somos em 15 pessoas, além da empresa terceirizada responsável pela parte técnica. À medida que o portal for crescendo, estamos cientes de que teremos que aumentar esse número."

Após uma semana do lançamento, a rede social alcançou 41.761 usuários. Há uma maior concentração de paulistas (36,86%), seguido de fluminenses (13,42%) e mineiros (8,49%). Os Estados com menor adesão são Acre, Roraima, Amapá, Tocantins e Sergipe. O site também conta com acessos —ainda que não com muita relevância— em outros 65 países, tais como Índia, Estados Unidos, Portugal, Japão, Reino Unido, Angola, Espanha, Israel e Itália.

"Isso que não começamos a divulgação em massa, por que estamos aguardando a conclusão da rede social, que ainda está inacabada", disse Santos, que acredita no futuro do projeto baseado no número de evangélicos no país. Segundo o Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de evangélicos no Brasil aumentou 61,45% em 10 anos. Em 2000, cerca de 26,2 milhões de brasileiros eram evangélicos. Em 2010, eles passaram a ser 42,3 milhões.

A rede também aposta no apoio de personalidades do mundo evangélico, tais como as cantoras gospel Aline Barros, Bruna Karla e Soraya Moraes e os pastores das mais diferentes igrejas —entre eles Valdemiro e Marcelo Crivella (PRB-RJ). "Em dois ou três anos seremos um calcanhar de Aquiles do Facebook", aponta o político, que ressalta que não há nenhum partido, tampouco nenhuma igreja por trás do projeto. "Tudo foi construído com R$ 50 mil, que conseguimos levantar por meio de doações. É claro que no futuro teremos que nos abrir para a publicidade para conseguirmos nos manter."

Como usar a rede social

Para entrar no FaceGlória, basta fazer um simples cadastro com a indicação de um e-mail e a descrição de alguns dados pessoais. Ao entrar na rede social, é claramente visível que a plataforma ainda está inacabada. Mas já é possível notar as semelhanças com o Facebook, principalmente na timeline e no recurso de bate-papo. Ainda assim há algumas peculiaridades que chamam a atenção, entre elas a substituição do "Like" pelo "Amém" e a oportunidade de navegar pelo site ao som de música gospel.

"Rede social é igual a roda, não tem como reiventá-la. Ainda assim vamos sempre buscar inovar a partir do uso de novas tecnologias", disse Santos, que afirma que em dois meses as pendências na plataforma estarão concluídas. Entre as novidades prometida, está a possibilidade do envio de qualquer tipo de arquivo pela ferramenta de mensagem, que no Facebook está restrita a fotos e vídeos. "Também pretendemos fazer um canal para busca de empregos e para a divulgação de eventos."