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Spotify completa um ano com geração de usuários que nunca pagou por música

Interface web do Spotify; empresa sueca diz ter mais de 75 mi de usuários ativos - Divulgação
Interface web do Spotify; empresa sueca diz ter mais de 75 mi de usuários ativos Imagem: Divulgação

Guilherme Tagiaroli

Do UOL, em São Paulo

17/06/2015 06h00Atualizada em 17/06/2015 12h58

O Spotify, considerado o maior serviço de streaming de música do mundo, chegou ao Brasil no fim de maio de 2014. Desde então, a empresa diz que teve crescimento substancial  (a companhia não cita quantos usuários tem localmente) . Nesse período, a companhia diz que 79% de sua base de usuários é composta por uma faixa etária peculiar: 18 a 34 anos.

Essa geração, conhecida como "millennials" ou Y, cresceu com a internet e, praticamente, nasceu consumindo música por meios digitais. A maioria da experiência de música digital desse público veio de serviços de distribuição de arquivos piratas, como sites de torrent ou de compartilhamento ponto a ponto, como o Napster.

“Isso significa que a maioria dos nossos usuários no Brasil é de pessoas que nunca pagaram por música antes”, disse Gustavo Diament, diretor geral do Spotify para América Latina, em entrevista ao UOL, na sede da companhia em São Paulo.

A empresa fundada em 2006 na Suécia conta com 75 milhões de usuários ativos e atua em 58 países. Desses usuários, 20 milhões utilizam uma conta premium: pagam uma mensalidade, podem ouvir músicas sem propaganda e sem precisar estar conectado à internet. 

Minimizando a ameaça da companhia mais valiosa do mundo ao seu negócio, com o recém-lançamento do Apple Music, o fundador do Spotify disse que a indústria é grande o suficiente para vários concorrentes e que sua empresa não precisa ser a número 1."Acredito que é o suficiente estar entre os três maiores", disse Daniel Ek, diretor-executivo do Spotify, ao jornal de negócios sueco "Dagens Industri". 

Em conversa com a reportagem, o diretor geral do Spotify da América Latina falou sobre a cantora Taylor Swift que removeu todo seu acervo da plataforma de streaming, a estratégia para crescer no Brasil e o trabalho de “evangelização” para as pessoas entenderem o que é streaming.

UOL Tecnologia: Como foi a experiência do Spotify nesse primeiro ano de atividade no Brasil?

Gustavo Diament: Esse é um primeiro ano que deixa a gente bastante feliz com os resultados atingidos, porque nosso principal competidor é a pirataria.

Gustavo Diament, diretor geral do Spotify para América Latina; segundo o executivo, maioria dos usuários faz parte de geração que nunca pagou por música digital - Divulgação - Divulgação
Gustavo Diament, diretor geral do Spotify para América Latina; segundo o executivo, maioria dos usuários faz parte de geração que nunca pagou por música digital
Imagem: Divulgação

Temos o segmento de 18 a 34 anos (conhecidos como millenials) representando 79% da nossa base de usuários. Isso significa que nossos assinantes são pessoas que nunca pagaram por música antes.

Esse público, mesmo tendo uma assinatura gratuita, aceita receber publicidade para ter uma experiência melhor. É de graça para eles, mas a publicidade paga os donos dos direitos dos arquivos.

UOL Tecnologia: Tenho a impressão de que as pessoas ainda não sabem direito o que é streaming de música. Isso faz sentido?

Diament: O nível de desconhecimento que você vê eu também vejo. Pergunto direto às pessoas onde elas escutam música e isso acontece com o artista, com a gravadora, com a agência, o anunciante e o usuário final.

Faz parte de uma categoria que é nova no mundo e extremamente nova no Brasil. A gente não só está desbravando esse terreno, mas uma categoria nova.

Aqui o download pago de música ainda é maior. Porém, streaming está crescendo muito. Somando streaming e YouTube dá 51% do mercado de música digital no Brasil.  Em países como Estados unidos, Inglaterra e Suécia, o consumo de streaming é maior que o de downloads pagos.

UOL Tecnologia: Como o Spotify planeja crescer no Brasil?

Diament: Nossa estratégia está muito focada em educação sobre streaming, gerar conexão emocional com a nossa marca, métodos de pagamento e parcerias de conteúdo.

Nossa ideia é chegar ao usuário que já está conectado, mas que escuta música em canais digitais como o YouTube ou que consomem pirataria. Queremos mexer com o hábito desses usuários. É mais fácil trazê-los para nosso serviço que outros que nem estão nesse mundo.

No que diz respeito a métodos de pagamento, o Brasil ainda tem muita gente “desbancarizada” ou que não gosta de botar os dados de cartão na internet. Estamos trabalhando em novas formas de vender assinatura paga.

Por fim, continuaremos investindo em parcerias de conteúdo. No Spotify, há alguns perfis verificados de publicações, que curam playlists e colocam muitas vezes em seus próprios sites.  Esse processo é positivo, pois gera conhecimento, experimentação e relevância.

UOL Tecnologia: Havia rumores de que gravadoras e artistas estavam pressionando o Spotify a limitar contas freemium (gratuitas com propagandas). Quanto disso é verdade? Por que as assinaturas gratuitas são importantes?

Diament: Sabemos que sem os usuários grátis não temos os pagos. Cerca de 70% dos nossos usuários que pagam vieram inicialmente de uma experiência gratuita.  Por essa razão, mantemos o mesmo acervo tanto para os que pagam como os que não pagam.

17.mai.2015 - Indicada em 14 categorias, Taylor Swift vence nas categorias Artista do Ano, Melhor Artista Feminina, Artista no Billboard 200 (parada de álbuns) e Voto Popular, entre outros - AP - AP
Cantora Taylor Swift tirou todo seu acervo de música dos serviços de streaming
Imagem: AP

A cantora norte-americana Taylor Swift não concordou com isso e decidiu sair. Ela tirou suas músicas de todos os serviços de música com opção gratuita.

Quando isso acontece, se sou assinante do Spotify e ela tira os conteúdos, não vou comprar o CD da Taylor Swift. Vou para o YouTube, que paga menos às gravadoras, ou para a pirataria. O artista perde e a indústria perde.

Entendemos que esse foi um caso isolado.  Enquanto ela tirou, aqui no Brasil, por exemplo, o Roberto Carlos colocou todo seu acervo na nossa plataforma.

UOL Tecnologia: Recentemente, o Spotify anunciou uma série de novos recursos, como vídeos e podcasts. Alguma previsão para chegar ao Brasil?

Diament: Havia o plano para trazer as novidades para os 20 principais mercados, o que inclui o Brasil. Porém, tem uma questão de conteúdo local e licenciamento que é muito importante para nós. Não tenho uma data exata. Porém, isso faz parte de uma estratégia global. Portanto, vai chegar.

O Spotify continua um serviço de música. No entanto, a gente acredita que através desses conteúdos de vídeos e podcasts, damos mais razões para adesão aos que não conhecem a plataforma.