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Airbnb é uma das primeiras empresas americanas a embarcar na moda de Cuba

Andrew Willis

02/07/2015 18h13

Quando criança, Carlos Jiménez sobreviveu à invasão, apoiada pelos EUA, de seu povoado no sul de Cuba, o infame golpe frustrado à Baía dos Porcos, em 1961. Hoje, Jiménez vislumbra outra invasão americana - desta vez, de turistas - enquanto espera pela chance de registrar sua casa no aplicativo Airbnb.

"Nunca pude visitar os EUA, então estou ansioso para que eles venham para cá", disse ele, perto de sua casa verde de um andar, lamentando-se de que seu povoado da Playa Girón ainda não tenha acesso à internet para utilizar o sistema de reserva e pagamento da startup virtual de compartilhamento de moradia.

Com o anúncio da quarta-feira de que os EUA e Cuba reabrirão embaixadas neste mês, os ex-inimigos deram um importante passo para normalizar suas relações e a Airbnb Inc. está pronta para capitalizar o fato de ter entrado cedo no mercado. Após iniciar suas operações na ilha em abril, a companhia buscou modos de trabalhar em um país onde o governo regula quase todos os aspectos da vida, onde não se aceitam cartões de crédito dos EUA e onde os pagamentos virtuais praticamente não existem.

No entanto, por ter fincado sua bandeira cedo, a empresa com sede em São Francisco diz estar vendo resultados. Cuba agora é seu mercado com o crescimento mais acelerado, disse Brian Chesky, um dos fundadores da companhia, em maio. O número de casas registradas no aplicativo Airbnb para receber hóspedes em Cuba mais do que dobrou, para mais de 2.000.

Vídeo on-line

A Airbnb não é a única empresa americana de internet que está tentando incursionar por Cuba. A Netflix Inc., o serviço on-line de vídeo por assinatura, começou a funcionar lá em fevereiro. Empresas mais tradicionais, inclusive companhias aéreas como a Jet Blue e a American, disseram que estão interessadas em oferecer voos para Havana depois que as restrições legais forem suspensas.

Elas encontrarão obstáculos significativos: existem duas moedas, os salários dos trabalhadores cubanos são pagos para o governo e a burocracia é asfixiante.

"No fim das contas, também existe um lado cubano nesta equação", disse Francisco Cerezo, advogado em Miami que é um dos presidentes do conselho de práticas internacionais da Foley Lardner e foi a Cuba em maio. As empresas "precisam ir lá e ver o que é viável, o que é permitido e qual é o contexto".

Direitos humanos

E nem todos os problemas têm a ver com procedimentos. O Departamento de Estado dos EUA disse no dia 25 de junho que Cuba continua sendo um lugar onde violações de direitos humanos são cometidas impunemente por funcionários sob as ordens do governo e citou detenções e prisões arbitrárias.

Embora o restante do mundo tenha vínculos com Cuba há décadas, o embargo dos EUA restringiu a possibilidade de que os americanos fossem para lá de férias. Muitos dos que vão para Cuba estão em viagens autorizadas oficialmente, aprovadas pelo Departamento do Tesouro dos EUA.

"Durante meio século os americanos tiveram vontade de poder ir a Cuba e isso não era fácil. Agora ficou fácil ou, pelo menos, muito mais fácil", disse Chesky, da Airbnb.

'Na moda'

Os anfitriões do aplicativo Airbnb dirigem "casas particulares" - que costumam ser estabelecimentos familiares - e ganham cerca de US$ 200 por reserva, de acordo com Jordi Torres, gerente-geral da empresa na América Latina. Esse valor é uma fortuna em um país onde o salário médio é de pouco mais de US$ 20 por mês.

O Meliá Hotels International SA, da Espanha, disse que nunca teve tantas reservas em Cuba. Atualmente, a empresa tem 27 hotéis espalhados pela ilha e está construindo mais dois.

"Há uma demanda muito alta em Havana", disse Elvira Ameijeiras, gerente social e de comunicações do Meliá em Cuba. "Normalmente, agora estaríamos entrando em temporada baixa, mas isso não está acontecendo neste ano. Houve um aumento vindo da América do Norte, mas também houve um aumento mais geral. Cuba está na moda".