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Empresa ensina criar marca de smartphone e desafiar Samsung com US$ 1.000

Tim Culpan

14/07/2015 11h51

Depois de passar pelo portão de metal, desvie da pilha de caixas, pegue o elevador até o andar dos escritórios de aluguel equipados e conheça o mais novo campo de batalha para a Samsung Electronics Co.

Em um pequeno apartamento em Shenzhen, no sudeste da China, Cathy Chang está ajudando clientes de todo o mundo a criarem suas próprias marcas de smartphone. Escolhendo em uma lista de opções parecida com o cardápio de uma pizzaria, os clientes da Shenzhen Zuoer Technology Co. podem entrar no setor dos celulares por apenas US$ 1.000. Não é necessário ter experiência prévia.

A Zuoer é uma das dezenas de empresas chinesas pouco conhecidas que estão aproveitando um catálogo de componentes padronizados para fabricar smartphones que custam desde US$ 20 a unidade. Por uma encomenda mínima de 50 unidades, a Zuoer monta sua própria carcaça externa de plástico com telas LCD, placas de circuito e baterias de outros fabricantes. Assim, qualquer cliente, de qualquer lugar do mundo, pode concorrer com a Samsung no mercado internacional de telefonia móvel, de US$ 410 bilhões, em menos de seis semanas.

"O aparecimento de provedores de telefones de baixa gama está corroendo a fatia da Samsung", disse John Butler, que acompanha o mercado de smartphone para a Bloomberg Intelligence. "Esses novos competidores são bem pequenos em comparação com um gigante como a Samsung, mas o impacto que eles geram coletivamente está afetando os resultados da Samsung e de outros grandes fornecedores".

Partindo do sistema operacional gratuito Android, da Google Inc., e acrescentando chips padronizados baseados na tecnologia desenvolvida pela ARM Holdings Plc, empresas como Zuoer, Shenzhen Oysin Digital Technology Co. e Oteda Industrial Co. podem montar aparelhos sem as legiões de engenheiros de software e hardware com que a Nokia Oyj, a Motorola Mobility e a BlackBerry Ltd. contavam há uma década.

Caminho mais fácil

Graças à tecnologia touch-screen, popularizada pelo IPhone da Apple Inc., eles também podem evitar o complicado e caro negócio de projetar e fabricar teclados físicos.

Essa simplificação e a padronização abriram as portas para a fabricação e criaram uma infinidade de rivais chineses para a Samsung, a Nokia e a Motorola. Entre eles, a Xiaomi Corp., que se tornou a terceira maior distribuidora de smartphones em menos de cinco anos, e a OnePlus, que abrangeu 35 países em seus dois primeiros anos.

A facilidade para entrar prejudicou os nomes estabelecidos e dividiu a receita entre mais empresas, e a participação combinada dos cinco maiores fornecedores de smartphones do mundo ficou abaixo de 50 por cento em 2014 pela primeira vez em pelo menos cinco anos, de acordo com cálculos da Bloomberg.

Para a Samsung, que continua sendo a fabricante líder de smartphones, o resultado foi uma desaceleração das vendas e uma queda no lucro operacional na unidade de celulares. Para combater esse desafio, a empresa impulsionou seus negócios em outros departamentos, passou a construir seus próprios processadores para smartphones e a fabricar os que são projetados pela Qualcomm, o que ajudou a unidade de produção de chip a registrar um salto de 50 por cento no lucro do primeiro trimestre.

"Com diversas opções para os consumidores e a nossa capacidade de fornecer rapidamente uma ampla variedade de novos aparelhos e recursos premium de acordo com a demanda do consumidor, vamos manter e expandir ativamente a nossa liderança", disse a Samsung em uma resposta enviada por e-mail.