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Não consegue mais viver sem o celular? Faça o teste e veja se está viciado

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

21/07/2015 12h00

O número de pessoas viciadas em smartphone cresceu quase 60% no mundo entre 2014 e 2015, segundo o instituto Flurry Analytics. A quantidade de usuários que acessam os dispositivos mais de 60 vezes por dia --parâmetro reconhecido pelo instituto de pesquisas norte-americano como vício-- pulou de 176 milhões para 280 milhões em um ano. E você: será que integra essa lista? Já parou para analisar quais são os impactos do uso do celular em sua vida? Conseguiria ficar algumas horinhas sem checar o seu Whatsapp ou mesmo sem consultar as novidades das redes sociais?

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"A medicina já reconhece a chamada nomofobia, que caracteriza o desconforto causado pela incapacidade de comunicação pelo celular", afirma Sylvia van Enck, psicóloga do Programa de Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Uma dependência que, segundo ela, está relacionada a um transtorno no controle dos impulsos. "Ou seja, são pessoas que sentem uma necessidade muito grande de se manterem conectadas. Ficam ansiosas caso não tenham acesso ao aparelho. São sintomas semelhantes ao da abstinência a uma droga, que só são aliviados mediante a retomada do contato." O alívio diante do uso do smartphone é proporcionado pela liberação da dopamina, mais conhecida por "hormônio do prazer", como acrescenta a especialista.

Embora existam estudos que indicam os efeitos nocivos da luz e das ondas eletromagnéticas emitidas pelos celulares, não é o dispositivo em si que desencadeia o vício, como ressalta Sylvia. "É muito mais uma dependência aos aplicativos --às redes sociais e, principalmente, o WhastApp-- do que à telefonia", afirma Sylvia. É o que também aponta o estudo do Flurry Analytics. Os dados apontam que os apps preferidos pelos viciados são os de mensagens e os de redes sociais. Eles usaram esses serviços 556% mais vezes que os usuários comuns. Em seguida aparecem os aplicativos de utilidades e produtividade (427%), jogos (202%), finanças (155%) e notícias (102%).

Mas, como explica Anna Lucia Spear King, pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), há uma grande diferença entre o uso abusivo da tecnologia e do vício. Segundo ela, a dependência, na maioria dos casos, está atrelada a algum transtorno preexistente. "Geralmente, são pessoas com transtornos compulsivo, de ansiedade, de fobia social ou de pânico que acabam conseguindo certo 'alívio' através do uso excessivo do celular", afirma a especialista, que também é fundadora e diretora do  Instituto Delete

De acordo com Anna Lucia, a dependência digital não está diretamente relacionada ao tempo de conexão de uma pessoa aos seus dispositivos eletrônicos, mas sim a perda de controle da vida real.

Para Raphael Zarenba, professor do Departamento de Psicologia da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), as pessoas ainda estão descobrindo as tecnologias e aprendendo como usá-las, mas ainda não encontraram um ponto de equilíbrio. "Uma aluna uma vez me disse que o celular era como se fosse um braço. Na verdade, eu acho que é mais que isso: tem sido usado como se fosse a prótese do cérebro", brinca.

Fique atento aos indícios

Há, segundo os especialistas entrevistados pelo UOL Tecnologia, alguns indícios do uso abusivo do celular, que devem ser considerados como alerta para uma possível mudança de comportamento. 

  • Recorre ao smartphone para tentar esquecer problemas pessoais
  • Não consegue desligar o pensamento do smartphone de forma que a tecnologia começa a comandar sua vida
  • Gasta cada vez mais horas para buscar as mesmas sensações experimentadas antes
  • Tem substituído programas reais do cotidiano para ampliar o tempo que passa conectado
  • Irrita-se quando não está conectada ou não conseguem usar certos dispositivos ou aplicativos
  • Olha constantemente para o celular para saber se há notificações em aberto
  • Não consegue ignorar o sinal de uma notificação
  • O medo e a angústia tomam conta quando a bateria do smartphone se aproxima do fim
  • Tem tirado nota baixa na escola e/ou o desempenho profissional começa a cair
  • Começa a engordar de maneira abrupta
  • Recebe reclamações constantes dos amigos e familiares
  • Passa a ter insônia, dores na coluna e/ou problemas de visão

Mudança de comportamento

O grande segredo, como cita Zarenba, é o usuário avaliar constantemente os ganhos e as perdas da conectividade nas mais diversas circunstâncias da vida. "É importante saber aonde colocar a atenção. Mesmo sendo multitarefa, em ações consideradas essenciais essa atenção não pode ser dividida. Ou seja, ou você dirige ou envia uma mensagem pelo celular", afirma. "A atenção é o maior presente que pode dar para outro, portanto evite teclar enquanto conversa com um amigo ou com o chefe."

Como orienta Anna Lucia, a mudança de comportamento inclui estabelecer regras e limites para o uso da tecnologia baseadas no bom senso. Além de sugerir que os usuários mantenham o celular desligado durante as refeições, em reuniões de trabalho e durante o sono, a especialista também recomenda a criação de intervalos regulares durante o uso das tecnologias e a priorização a encontros pessoais.

Quando o uso abusivo da tecnologia está atrelado a uma patologia, os usuários, segundo a pesquisadora da UFRJ, devem procurar um psicólogo ou um psiquiátrica para dar início ao tratamento. "Em alguns casos, além da terapia cognitiva comportamental, é necessário entrar com medicamentos psiquiátricos para o controle do transtorno", relata.  No Rio de Janeiro, o Instituto Deletar oferece gratuitamente suporte clínico e desintoxicação digital nos casos do uso abusivo. Os interessados podem enviar um e-mail para grupodelete@gamil.com.