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E o vencedor do concurso de cartuns da New Yorker é... um computador

The New Yorker
Imagem: The New Yorker

Dina Bass

10/08/2015 16h13

Desde 2005, a última página da New Yorker apresenta um cartum sem palavras e em preto e branco, e a legenda mais engraçada enviada por um leitor é publicada na edição seguinte.

O concurso de legendas da revista se tornou um dos pontos favoritos dos leitores na última década e o departamento de cartuns recebe cerca de 5.000 entradas por semana. Isso se transformou em um número enorme de piadas para peneirar -- particularmente para o assistente de Bob Mankoff. O editor de cartuns da New Yorker de 71 anos diz que o tempo médio de seus assistentes no cargo é de mais ou menos dois anos porque ele continua deixando-os esgotados. "O processo de olhar 5.000 entradas de legendas por semana normalmente destrói suas mentes em cerca de dois anos, e aí eu tenho que conseguir outra pessoa", diz Mankoff. "Isso é um pouco assustador. É como ficar cego com a neve; você fica com o humor cego".

Em breve os assistentes de Mankoff poderão conseguir certo alívio na forma de um assistente para eles mesmos: um sistema de inteligência artificial com senso de humor. Mankoff colaborou com pesquisadores da Microsoft em um projeto de inteligência artificial que visa a ensinar a um computador o que é engraçado. Eles estão alimentando um software com IA com um arquivo de cartuns da New Yorker e as entradas do concurso de legendas, para dar às máquinas alguma compreensão a respeito do humor (ou do conceito de humor da New Yorker, pelo menos). Um pesquisador da Microsoft irá apresentar as descobertas no dia 13 de agosto, na conferência de dados KDD, em Sydney.

Desafio à IA

A ideia do projeto surgiu em uma convenção diferente há cerca de um ano. Dafna Shahaf, uma pesquisadora da Microsoft, compareceu a uma palestra de Mankoff a respeito do arquivo de cartuns e saiu do evento animada. Shahaf se perguntava se seria possível ensinar um computador a avaliar de forma precisa o quanto uma legenda poderia ser engraçada -- e, no processo, vencer um dos desafios mais difíceis no aprendizado das máquinas --. Sarcasmo, jogos de palavras e outras ferramentas de humor deixam os sistemas de IA perplexos há décadas. Na Microsoft, ensinar as máquinas e os softwares a entenderem a piada é importante para aplicativos como o Skype Translator, que é desenvolvido para permitir que os usuários falem entre si em diferentes idiomas e escutem traduções em tempo real.

As listas finais da máquina e dos editores da New Yorker nem sempre coincidem. Em média, contudo, todos os favoritos dos editores aparecerem nos melhores 55,8 por cento das escolhas da IA, segundo o estudo. Isso significa que a New Yorker poderia usar o sistema para eliminar pelo menos 2.200 candidatas por semana sem perder as melhores pérolas. "Em média, nós economizamos cerca de 50 por cento da carga de trabalho", diz Shahaf. Isso também poderia economizar o tempo que Mankoff gasta para contratar novos assistentes. "Eu acredito realmente que o futuro é a parceria humano-máquina", diz Mankoff. "Os computadores podem ser uma grande ajuda".

Isso não diminuiu as ambições da Microsoft. Os pesquisadores dizem esperar um dia poder treinar computadores para criarem suas próprias piadas com base em situações, o que tornaria mais agradável interagir com assistentes digitais como Cortana e Siri. O diretor-geral do grupo de pesquisa da Microsoft e coautor do estudo, Eric Horvitz, brinca que o computador pode tentar desanuviar o ambiente quando você acidentalmente deleta um arquivo importante com um "oy vey" (expressão que indica desânimo ou desespero) no momento certo.

De forma mais ampla, a compreensão do que achamos engraçado e de como criamos piadas é importante para o estudo sobre o funcionamento do cérebro, o que por si só é crucial para a pesquisa sobre a inteligência artificial. Outro benefício: com toda a consternação em relação aos males da IA, Horvitz diz que é bom pensar que esses sistemas estão fazendo algo mais agradável do que destruir o universo.