Topo

Usar Wi-Fi público de São Paulo vira caça ao tesouro

Noelle Marques

Do UOL, em São Paulo

26/08/2015 06h00

O pacote de internet para smartphone é muito caro, acaba rápido e às vezes não funciona direito. Por isso, 'viciados' em internet móvel procuram e usam Wi-Fi em todo o lugar que vão. Pode ser no restaurante, no shopping e até na casa dos amigos. Mas contar com o serviço gratuito pela cidade fica mais difícil  -- encontrar as redes oferecidas pela Prefeitura de São Paulo que realmente funcionam pode ser uma verdadeira caça ao tesouro.

A reportagem do UOL visitou em 17 de agosto lugares das cinco regiões da cidade que contam com o serviço: praça Silvio Romero, na zona leste, Parque Tietê, na zona norte, parque Dom Pedro 2º, no centro, parque da Independência, zona sul, e Largo da Batata, na zona oeste de São Paulo.

Nos dois primeiros locais, foi só conectar a rede Wi-Fi e navegar à vontade, conseguindo acessar diversas redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat) e até publicar vídeos. Na zona leste, a velocidade de 39,61 Mbps (megabit por segundo) de download e 37,02 Mbps de upload impressionou.

Segundo a prefeitura, as velocidades das redes variam entrem 25 Mbps e 128 Mbps. Como cada usuário só consegue utilizar 512 kbps, velocidade máxima disponibilizada para cada um, o serviço de cada local consegue atender entre 50 e 250 pessoas.

De acordo com o professor do departamento de Computação da PUC-SP Daniel Gatti, a velocidade oferecida é razoável se levarmos em conta que são lugares públicos. "Dá para fazer coisas cotidianas, como acessar um site, uma rede social, mas dificilmente a pessoa vai assistir a um filme inteiro do Netflix no local. Para baixar uma música de 5 MB, o usuário demoraria 1 minuto e 30 segundos. Para ver um vídeo de 20 MB, demoraria em torno de cinco minutos", exemplifica.

Entretanto, as três últimas localidades deixaram a desejar. No parque Dom Pedro 2º a rede não chegou nem a conectar, por isso não foi possível medir a velocidade. Funcionários do terminal de ônibus e comerciantes da região relataram que desistiram de usar o serviço, pois é raro conectar e, quando o faz, é muito lento.

Gatti explica que árvores, prédios ou outro tipo de barreira, degradam o sinal da rede Wi-Fi, assim como a potência da antena que está sendo usada também interfere. "Quanto mais perto da antena, melhor o sinal", diz.

No parque da Independência, a conexão atingiu 3,64 Mbps de download e 0,19 Mbps de upload. Com dificuldade, a reportagem conseguiu entrar na página principal do portal UOL, mas nenhuma matéria abriu.

No Largo da Batata sobram plaquinhas informando sobre o serviço (indicação encontrada também somente na praça Silvio Romero), mas encontrar o sinal ficou difícil. As velocidades de 5,71 Mbps de download e 6,27 Mbps de upload só foram identificadas bem abaixo do roteador. E foi só dar uns passos para o lado que o sinal caiu.

A rede de Wi-Fi do lugar foi a única que encaminhou para uma página de internet, que ressaltava as ações da prefeitura na cidade, antes de realizar a conexão.

A prefeitura informou que enviou técnicos para avaliar a conexão dos lugares visitados pela reportagem e que a instabilidade pode ocorrer por fatores diversos como queda de energia, vandalismo, fatores climáticos ou mesmo indisponibilidade de rede.

O projeto

O projeto Wi-Fi Livre SP, instalado em 2014, atende os 96 distritos da capital paulista, estando atualmente presente em 120 praças ou localidades públicas. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, a média mensal de utilizações é de 33 mil pessoas.

Apesar da abrangência do serviço, alguns lugares pouco frequentados chamam a atenção por estarem incluídos. Segundo a prefeitura, os locais foram escolhidos por meio de audiências e consultas públicas, que contaram com o apoio das subprefeituras. O parque do Ibirapuera, muito frequentado pelos paulistanos, foi deixado propositalmente para uma segunda fase "dado seu tamanho e complexidade".

Outro lado

A Prefeitura de São Paulo respondeu em nota, publicada na íntegra, que o serviço cobre apenas 70% das praças e 50% dos parques, já que a "plena cobertura das áreas implicaria em aumentos expressivos nos custos do projeto". Veja abaixo a explicação sobre cada local visitado:

1- Em todas as Praças, conforme apresentado pela reportagem, o sistema Wi-Fi estava em operação e com nível de banda acima do previsto pelo contratado pelo projeto (512Kbps). O Programa Wi-Fi livre SP prevê velocidade mínima de navegação na web de 512Kbps para download e upload por usuário até um determinado número de usuários que pode variar de local a local, sendo mínimo de 50 e máximo de 250 pessoas. Essa velocidade de navegação e considerada por especialista do setor de TI como suficiente para navegação em sites, redes sociais ou mesmo para assistir vídeos. Além disso, o contrato de prestação de serviços prevê a cobertura de 70% das Praças e 50% dos parques. A opção de não cobrir toda a área levou em conta critérios de economicidade, uma vez que a plena cobertura das áreas implicaria em aumentos expressivos nos custos do projeto.

2- Não está previsto no projeto a instalação de Wi-Fi no Terminal de Ônibus do Parque Dom Pedro, mas sim na praça ao lado do Terminal, onde há placa de identificação.

3- Com relação ao Parque na Independência, por questões de limitações do Patrimônio Histórico Cultural, não foi possível instalar antena para iluminar com Wi-Fi na área logo em frente ao Museu Paulista. Optou-se pela instalação das antenas em dois locais: uma próxima à rua dos Patriotas (que divide o Parque), local onde há maior concentração de pessoas aos finais de semana, inclusive com a instalação de feira de artesanato aos domingos e ponto de encontro de skatistas; outra antena foi instalada atrás do Museu Paulista, local onde há um playground e a pista de caminhada, ambientes muito utilizados durante a semana pela população local.

4- Com relação ao Largo da Batata, a colocação da placa de sinalização foi realizada de forma inadequada fora da área de cobertura de sinal pela empresa contratada. O serviço foi realizado recentemente e ainda não passou por aprovação da equipe técnica gestora do projeto. A placa será recolocada em local correto, onde há cobertura de sinal