Topo

Waze "devolve" Jerusalém Oriental aos palestinos e exclui área de rotas

Por razões de segurança, o aplicativo para celulares Waze desvia os motoristas da região leste da Cidade Santa, por considerá-la sob o controle da Autoridade Palestina - Reprodução/AFP
Por razões de segurança, o aplicativo para celulares Waze desvia os motoristas da região leste da Cidade Santa, por considerá-la sob o controle da Autoridade Palestina Imagem: Reprodução/AFP

Juan Carlos Sanz

Em Jerusalém (Israel)

02/09/2015 06h00

O sistema de navegação para automóveis Waze, com informação em tempo real, transformou-se em um emblema do sucesso tecnológico de Israel há dois anos, quando foi adquirido pela Google por mais de 1 >bilhão de euros. Este aplicativo para celulares hegemônico no Estado judeu, e com dezenas de milhões de usuários em todo o mundo, acaba de iniciar uma polêmica em Jerusalém ao não reconhecer como solo israelense a zona leste da Cidade Santa, anexada depois da Guerra dos Seis Dias. Segundo o app, a área faz parte do território sob controle da Autoridade Palestina.

Não se trata de uma decisão unilateral dos responsáveis da filial da Google incorporar a suas bases de dados as resoluções da ONU. Nem obedece à pressão da comunidade internacional, que continua sem reconhecer a anexação da parte árabe da Cidade Santa situada a leste da linha verde que a dividia até 1967. A Waze Israel se limitou a seguir as recomendações da polícia, diante do aumento dos incidentes violentos em Jerusalém Oriental neste verão.

Por padrão, o aplicativo está desviando os motoristas por vias alternativas que passam pelas zonas afastadas dos bairros orientais. Em um caso citado como exemplo pelo jornal "Yedioth Ahronoth", para percorrer o quilômetro de distância entre a antiga estação de Jerusalém, transformada em centro de lazer, e a chamada Cidade de Davi, um recinto arqueológico situado ao pé das muralhas, bastariam dez minutos pelo caminho mais direto. Mas os usuários do Waze são obrigados a dar uma longa volta que representa meia hora de viagem, para não atravessar o bairro árabe de Silwan.

O sistema de navegação para celulares permite desativar a proibição de atravessar zonas sob controle da Autoridade Palestina, embora neste caso um motorista inadvertido pudesse acabar circulando pelas ruas de Ramallah ou Nablus, onde efetivamente rege a lei palestina e os judeus israelenses estão proibidos de passar por seu governo.

O serviço oferecido pelo Waze goza de grande popularidade em Israel, não só por sua cartografia, como também porque os próprios motoristas atualizam constantemente as condições do tráfego e indicam as melhores vias alternativas, informando sobre a presença de obras e engarrafamentos.

Mas o aplicativo também apresenta incongruências em Jerusalém depois da implantação da política de restrições de passagem por zonas com maioria de moradores palestinos. Assim, para dirigir-se do campus da Universidade Hebraica no monte Scopus até o Muro das Lamentações, no bairro judeu da Cidade Antiga, o navegador recomenda passar pelo conflituoso bairro de A-Tur, ao pé do monte das Oliveiras, que foi cenário de ataques contra policiais.

A imprensa israelense descreve um cenário de Intifada de baixa intensidade em Jerusalém. Durante os meses de junho e julho, além de vários ataques com facas contra agentes e soldados, foram contabilizados 477 episódios de apedrejamento e 28 de lançamento de coquetéis Molotov. Mais da metade dos incidentes violentos se concentrou precisamente em torno da Cidade de Davi, uma das zonas vetadas agora pelo navegador.

A polícia se limitou a explicar que colabora com o Waze "para poder guiar melhor os condutores a seu destino". Depois das queixas, a companhia responde que está à espera de "novas instruções" das forças de segurança.

Diante da partilha digital da, segundo Israel, "capital indivisível", o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, deu o alarme. "Peço que os responsáveis pelo Waze mudem as configurações para evitar que um aplicativo se transforme em ferramenta política", advertiu à filial do Google o administrador Barkat, que antes de se dedicar à política fabricou programas antivírus e fundou uma companhia incubadora de informática.