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Startups colocam em xeque soberania da Samsung na Coreia do Sul

Divulgação
Imagem: Divulgação

Sam Kim e Jiyeun Lee

10/11/2015 20h40

Os passageiros que saem do trem de alta velocidade na estação Pohang, na Coreia do Sul, são recebidos com entusiasmo por um cachorro. Trata-se de um robô.

No saguão da estação, cinco pequenos autômatos dançam ao ritmo da banda de pop coreano formada por meninas Exid.

Esta é a cidade de aço da Coreia do Sul, berço da Posco, que alimentou a ascensão industrial do país até se tornar o maior produtor de aço bruto do mundo por volta do fim do século passado. No entanto, nenhum outro lugar ilustra tão bem as iniciativas para que o país não dependa tanto das companhias gigantescas que transformaram sua economia.

A Posco fez parte do plano industrial defendido pelo ex-ditador Park Chung Hee, que deu origem aos conglomerados administrados por famílias, chamados chaebol, que continuam dominando a economia, grupos como Samsung e Hyundai. Agora, a filha dele, a presidente Park Geun Hye, está tentando reverter essa influência e estimular empreendimentos de alta tecnologia para criar um "segundo milagre às margens do rio Han".

"Para que a Coreia possa concorrer melhor com o restante do mundo, é de suma importância possibilitar que os jovens coreanos com ideias criativas possam encarar livremente o desafio de começar uma empresa", disse Park, no dia 25 de setembro, em repostas enviadas à Bloomberg News por escrito. "Nossas comunidades de empreendimentos e startups estão sendo varridas por mudanças inovadoras".

Fusão de perspectivas

Ela disse que o número de entidades empresariais recentemente estabelecidas superou a marca de 80.000 pela primeira vez no ano passado, quando os investimentos de risco atingiram o nível mais elevado.

As perspectivas de Park e de seu pai se fusionam em Pohang. Aqui há usinas siderúrgicas, fábricas de produtos químicos e estaleiros. Aqui também estão a Universidade de Ciência e Tecnologia de Pohang, da Posco, um acelerador de partículas, um dos maiores aglomerados de centros de pesquisa científica do país e um museu de robôs.

A um quarteirão do museu há um centro de "economia criativa", uma das 17 incubadoras de startups que fazem parte do programa de US$ 18 bilhões de Park para estimular o empreendedorismo.

A Coreia do Sul não é o único país desenvolvido que está tentando reproduzir o caldeirão de inovações do Vale do Silício, mas os esforços de sucessivos presidentes para impulsionar a ciência e a tecnologia conferem ao país uma vantagem incomum. O país incrementou os investimentos em pesquisa e desenvolvimento em todos os anos desde 1991, multiplicando-os por 20 nesse período, para US$ 15 bilhões, o que o coloca em primeiro lugar em pesquisa e desenvolvimento no Bloomberg Innovation Index.

Criatividade sufocante

No entanto, grande parte desse sucesso se deve às mesmas entidades que têm sido criticadas por sufocar a criatividade e a inovação. Companhias como Samsung Electronics Co., a maior fabricante de smartphones e chips de memória do mundo, têm tradicionalmente ficado com os melhores formandos das principais faculdades todos os anos.

"As grandes corporações estiveram a salvo durante grande parte do século 20, mas elas têm sido desafiadas pela concorrência mundial, pela pressão por manter salários baixos, pelas fusões e aquisições internacionais e pelo avanço da análise de dados multidimensionais", disse John Howkins, consultor britânico que cunhou o termo "economia criativa" em seu livro de 2001. "Agora ficou mais seguro para que uma pessoa tome as rédeas do próprio destino, desenvolva um portfólio pessoal de habilidades e transite por um aglomerado de funcionários e clientes".

Como as grandes corporações da Coreia do Sul estão sendo cada vez mais pressionadas pelos concorrentes chineses, algumas das mentes mais brilhantes do país estão escutando esse chamado.

'Trabalhar livremente'

Em frente à biblioteca universitária em formato de cadinho estão os escritórios da StradVision, uma companhia iniciada por Jun Bong Jin, um ex-engenheiro da Samsung SDS e da Intel Korea, que está tentando resolver um dos objetivos mais difíceis em computação: fazer com que os robôs reconheçam as coisas por meio da visão.

"Saí da Intel porque eu queria trabalhar livremente", disse Jun, de camiseta, enquanto um de seus funcionários chegava no trabalho ao meio-dia. "Se você ama o que faz, simplesmente não importa o que você está vestindo, a que horas você aparece nem como você trabalha".