Topo

Falta de dinheiro impede que Rio Verde se adapte ao fim do sinal analógico

"Melhor comer do que assistir televisão", diz Maria Edilene Freire dos Santos, 36 - Larissa Leiros Baroni/UOL
"Melhor comer do que assistir televisão", diz Maria Edilene Freire dos Santos, 36 Imagem: Larissa Leiros Baroni/UOL

Larissa Leiros Baroni*

Do UOL, em Rio Verde (GO)

28/12/2015 06h00

Dinheiro, falta de informação e descrença. Esses são alguns dos motivos de alguns dos moradores de Rio Verde, Goiás, ainda não terem se adaptado ao fim do sinal analógico, que inicialmente estava previsto para 29 de novembro de 2015, mas que foi adiado para 15 de fevereiro de 2016.

A interrupção só poderá ser feita, no entanto, se ao menos 93% dos domicílios da cidade de 200 mil habitantes estiverem preparados para a conversão, como previsto na portaria do Ministério das Comunicações, meta que ainda não foi alcançada. Uma pesquisa realizada na região na primeira semana de dezembro apontou que 78% da população local estava adaptada para receber o sinal digital. E os 22% restante?

A gari Maria Edilene Freire dos Santos, 36, integra essa porcentagem, que apesar de pequena é essencial para o andamento do plano de interrupção do desligamento do sinal analógico no Brasil, previsto para ser concluído em 31 de dezembro de 2018.

"A única televisão que tenho em casa é de tubo. Mas, infelizmente, não tenho dinheiro para comprar a antena e o conversor." Ela diz receber R$ 900 por mês e pagar R$ 550 de aluguel. "Com o resto, pago as contas de casa e ponho comida na mesa."

O jeito, segundo Maria Edilene, será ficar sem TV mesmo. "Melhor comer do que assistir televisão", afirma a gari, que lamenta pelo filho. "Ele gosta muito. É o que mais usa a TV. Mas paciência."

Esse será o mesmo destino da vendedora Andrieli Melo de Alencar, 37. "Esse ano foi muito difícil para mim e também para muitos brasileiros. Acabei me afundando em dividas e, nem se quisesse, teria condições de comprar o aparelho", conta ela, que se diz contrária a "obrigatoriedade" imposta pelo governo.

"Deveria ser opcional. Se o governo quer impor, deveria ao menos custear por essa imposição. Não acho que valha a pena o sinal digital, até porque se trata apenas da melhora da imagem. Nem novos canais ganhamos", destaca a vendedora, acompanhada da mãe, Maria Divina de Melo Alencar, 57, que pensa um pouco diferente da filha. "Pelo menos a minha TV da sala já tem conversor digital integrado. Mas, estou juntando um dinheirinho, para comprar o aparelho para colocar na televisão do quarto. Não posso ficar sem ela."

Dinheiro também seria o principal empecilho da auxiliar de serviços gerais Eliane Ferreira Duarte, 39. Mas, como beneficiária do Programa Bolsa Família, ela ganhou os equipamentos do governo. "Se não fosse essa ajuda, talvez eu ficasse sem televisão. Familiares meu chegaram a gastar R$ 350 com o conversor, a antena e a instalação. Acho que não teria como pagar isso.

"

Já a diarista Marise Santana, 47, diz não ter condições e nem vontade de pagar para receber um sinal de televisão, mesmo que ele seja de melhor qualidade. "Dá eles não dão, né?", questiona ela, que não sabe nem informar se a sua casa está ou não adaptada. "Mas se depender de mim vai continuar do jeito que está. Não vou mover um nada para mudar."

A opinião dela foi contestada pelo filho de 25 anos, Luis Evandro Santana. "Você está enraizada no passado", debateu ele, que se mostrou favorável à mudança. "Estamos em constantes mudanças, a tecnologia avança, então por que não avançar junto?". 

 

Há também alguns moradores que dizem não acreditar na efetividade do desligamento do sinal. "Isso é só conversa para arrancar dinheiro da gente", disse um entregador, que preferiu não se identificar. Posição que também surgiu em rodas de conversas entre moradores de Rio Verde.

Nova empurrão do governo

Para atingir ao menos 93% dos domicílios necessários, o governo --que já distribuiu conversores a famílias beneficiadas pelo Bolsa Família-- afirmou que vai oferecer gratuitamente os aparelhos aos domicílios que integram o Cadastro Único.

"A medida tende a beneficiar cerca de 17 mil pessoas. O número é mais que suficiente para atingirmos a meta", afirmou o ministro das Comunicações, André Figueiredo.

A diferença é que as famílias do Bolsa Família receberam o conversor com o Ginga, tecnologia que possibilita a interatividade e que não será disponibilizada aos usuários do Cadastro Único. O aparelho sem o Ginga deve custar aos cofres públicos metade do preço do convencional, que custa cerca de US$ 40 (cerca de R$ 157).

O ministro informou que o benefício, a princípio, se restringe apenas aos moradores de Rio Verde, mas não descartou a possibilidade de ampliá-lo nas cidades que eventualmente tiverem dificuldades de atingir a meta para o desligamento do sinal analógico.

Cronograma do fim do sinal analógico

Rio Verde (GO) foi escolhida como a cidade piloto para o corte do sinal analógico. O processo, no entanto, será realizado gradativamente nos demais municípios brasileiros.

Distrito Federal e cidades adjacentes (3.abr.2016), São Paulo (15.mai.2016), Belo Horizonte (26.jun.2016), Goiânia (28.ago.2016) e Rio de Janeiro (27.nov.2016) seriam os próximos, segundo o cronograma da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). No restante dos locais, o desligamento ocorrerá entre 2017 e o final de 2018. 

Além do atraso em Rio Verde, Figueiredo já que o processo também deve ser adiado em Brasília. "Provavelmente, não será realizado em abril, mas certamente até outubro", apontou o ministro. "Essas pequenas mudanças são esperadas, mas sem afetar o limite final para a extinção do sinal analógico, que será impreterivelmente no dia 31 de dezembro de 2018".