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Cansou de pedir para compartilharem fotos? Google promete resolver isso

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Fabiana Uchinaka

Do UOL, em São Paulo

07/04/2017 04h00Atualizada em 01/02/2022 23h52

Já existem tantas maneiras para compartilhar fotos digitais que parece surreal que tanta gente ainda brigue por causa disso. Eu, por exemplo. Se você também cansou de implorar para o seu marido te mandar as fotos daquela viagem ou do seu filho naquele momento extraordinário, saiba que não estamos sós.

Manjari Bhatia, a brasileira de ascendência indiana, radicada nos EUA e responsável pelo Google Fotos, me disse que também sofre deste probleminha e estuda um jeito de tornar certos compartilhamentos, com reconhecimento de pessoas pré-selecionadas, muito mais fáceis.

Se você já usa o Google Fotos, deve ter percebido o quanto ele evoluiu nos últimos tempos e hoje é uma das ferramentas mais completas e práticas para armazenamento de imagens na nuvem. Se você ainda não testou, eu conto: nele, você faz o backup das imagens e, num clique, consegue apagá-las do celular, liberando espaço e deixando suas fotos acessíveis e em segurança (veja como fazer).

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Manjari Bhatia, diretora global do Google Fotos
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Existem outros programas que fazem isso, mas o diferencial do app do Google (que pode ser usado no navegador, mas é bem mais útil integrado ao celular com sistema Android ou iOS) é o espaço ilimitado e gratuito para upload de fotos e vídeos em alta qualidade —resolução que para a maioria das pessoas é mais do que suficiente.

Outro recurso que chama atenção é a categorização automática das fotos. Para você ter uma ideia, no meu Google Fotos aparecem neste momento diversas sugestões de álbuns, filmes, colagens e animações pré-montados a partir das datas e dos locais que eu visitei. O app consegue pinçar os melhores momentos entre milhares de recordações que eu armazenei ali.

Fora isso, me sugere quase 70 coleções por temas como: pessoas (agrupadas por identificação facial), lugares, selfies, pôr do sol, show, praia, aniversário, bicicleta, boate e até menu, pinguim, vitral e bote. Nem tudo se encaixa perfeitamente (rola uma confusão entre incêndio e fogueira, mas a divisão é satisfatória entre acampamento e pic nic, por exemplo) e algumas das categorias me parecem inúteis.

Mas é divertido... e assustador.

Na entrevista abaixo, a diretora global do Google Fotos explicou de onde vem essa "inteligência" do programa e deu sua opinião sobre os perigos que corremos ao fornecer tantos dados pessoais na mão desta gigante da tecnologia.

UOL - O que podemos esperar do Google Fotos no futuro?

Manjari Bhatia - Tudo o que pensamos para o futuro envolve três pilares: armazenamento, organização e ferramentas especiais, como busca, compartilhamento, edição, criação. Nós consideramos que já fizemos muitos avanços na questão da edição, e isso está ok por ora. Lançamos agora um pacote para o Brasil, com música temática e transições para vídeos feitas a partir das fotos do Carnaval, e vamos lançar isso para outros momentos. Parece haver um interesse grande em [fotos com efeito de foco] bokeh, imagens 360° e realidade virtual, então estamos avaliando trazer tudo isso para o Google Fotos.

Mas as mais recentes inovações foram no compartilhamento e no armazenamento. Especialmente em países onde a conexão ainda não é muito boa, a maioria dos nossos usuários relata depender do Wi-Fi para fazer o backup de suas fotos. Faltava um passo intermediário. Então, agora você pode salvar as fotos em baixa resolução e, quando a internet melhorar, o próprio Google Fotos substitui as imagens por versões em alta qualidade automaticamente.

Isso é ótimo, por exemplo, quando você viaja durante um mês e não tem acesso à internet de qualidade. Se você perder o seu telefone durante a viagem, ainda terá as fotos daquele pôr do sol, mesmo que não seja numa qualidade excepcional. Nós acreditamos que um pouco é melhor do que nada.

E o mesmo vale para o compartilhamento. Agora, o app envia uma versão em baixa resolução para o seu contato, caso você esteja em uma conexão ruim, e depois substitui por uma versão melhor, quando a internet melhorar. Tudo automaticamente.

Outra coisa que pensamos sobre o compartilhamento:

Hoje, você precisa, muito explicitamente, escolher quais fotos quer compartilhar com outra pessoa. Nós achamos que dá para melhorar isso.

Por exemplo, você tem um namorado com quem sempre divide as fotos ou você quer que o seu marido mande todas as fotos que tira dos seus filhos com o celular dele —isso é um problema em muitos casamentos, inclusive no meu [risos]. Talvez deveria existir um jeito de você fazer isso mais facilmente.

Não posso dar muitos detalhes, porque é uma coisa complexa, precisamos garantir que ele é realmente o seu marido e que o compartilhamento aconteça de uma maneira respeitosa. Mas estamos com isso em mente, pensando em usar os recursos já existentes de reconhecimento facial e compartilhamento.

UOL - Recentemente tivemos um caso aqui no Brasil, envolvendo a primeira-dama, que teve suas fotos acessadas por um hacker. Como o Google pensa a segurança do usuário, especialmente quando falamos de fotos na nuvem?

MB - Ninguém no Google está olhando para suas fotos, é o seu espaço privado. Tomamos claramente a decisão de considerar o Google Fotos um espaço muito pessoal dos usuários, não é como uma rede social. Nossas ações ali são muito limitadas, e os nossos termos de privacidade delimitam isso muito bem. Nós não tivemos incidentes deste tipo...

UOL - Mas existe algum perigo de cruzar as informações do Google Fotos, já que ele identifica rostos, por exemplo, com uma rede social? Com o Google Plus [rede social da própria empresa]?

MB - São ferramentas que existem completamente separadas. Mas nós aprendemos muitas lições com o Plus, porque não era uma ótima ferramenta, e não queremos que o Google Fotos seja uma rede social de jeito nenhum. Se eu quiser compartilhar alguma coisa com você, eu tenho que passar por uma série de passos para que isso aconteça. É uma decisão muito explícita do usuário. Estamos buscando isso: o equilíbrio entre compartilhar fotos com seu marido e garantir a sua privacidade.

UOL - O sistema de categorização do Google Fotos é muito eficiente. Isso é incrível, mas também muito assustador. Há um perigo real?

MB - Como disse, ninguém no Google está lendo as fotos. É uma máquina que entende os elementos da foto por padrões, uma tecnologia de etiquetamento das imagens e de algoritmos que vão melhorando com o tempo, e que às vezes erram. A learning machine (máquina de aprendizagem) para algumas coisas é incrível: identificar uma cadeira, um rosto, um pôr do sol. Normalmente são as coisas que as pessoas mais buscam na ferramenta.

UOL - Mas a máquina sabe dizer se você está em São Paulo só pelos elementos da sua foto...

MB - São duas coisas. Uma é a localização nas fotos, que pode ser ativada ou desativada pelo usuário. Outra é o reconhecimento que a máquina de aprendizagem faz de certos marcos da cidade. Temos cadastrados cerca de 2.500 pontos na nossa base de dados e normalmente eles são muito conhecidos, como o Corcovado, o Cristo Redentor, a torre Eiffel. A máquina não faz muito mais do que isso —e não temos planos de torná-la mais robusta, porque quando você sai dos pontos turísticos e começa a esmiuçar muito, vocês esbarra nesse tipo de problema [de privacidade]. Nós não queremos saber qual é a sua casa, nós queremos tornar a sua experiência melhor.

UOL - E no que mais a máquina de aprendizagem pode ser usada?

MB - Por exemplo, no escaneamento de fotos antigas, aquelas que nossos pais guardam no armário, em caixas velhas. Nós já temos uma ferramenta, o Google Scan, para que elas sejam digitalizadas sem reflexos e sem bordas. E temos o Google Fotos, onde elas podem ser editadas e armazenadas. Estamos avaliando no que a máquina de aprendizagem pode ajudar nesse processo para finalizar o projeto. Ela pode aprender o que tem de mais significativo nessas fotos para você, para te ajudar a criar projetos (colagens, álbuns, vídeos...).