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Somos todos muito vulneráveis, diz holandês após filmar ladrão de celular

Documentário Find my phone - holandes Anthony van der Meer - Reprodução - Reprodução
Imagem do ladrão tirada remotamente pelo celular roubado
Imagem: Reprodução

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

12/05/2017 04h00

O estudante holandês de cinema Anthony van der Meer, 23, teve uma ideia inusitada de experimento: acompanhar o dia a dia de um ladrão de smartphone. Para realizar o projeto, deu um jeito de seu celular ser roubado e, com a ajuda de um aplicativo, filmava e monitorava os passos do criminoso.

Foram duas semanas ouvindo as ligações e vendo imagens e vídeos feitos pelo desconhecido. O resultado virou um documentário, assistido mais de 6,5 milhões de vezes. 

Ao UOL Tecnologia, Anthony contou que nunca pensou em confrontar o ladrão sobre o roubo, mas chegou a encontrá-lo, coincidentemente, na rua depois de tudo, e a sensação que ficou foi ambígua.

A ideia inicial do projeto era manter o distanciamento e apenas acompanhar até onde o celular iria. Mesmo assim, confessa, em alguns momentos teve certa simpatia pelo homem, provavelmente um egípcio de cerca de 45 anos que não tinha onde morar na Holanda, já que ficava em abrigos ou casas de amigos, e até sentiu-se mal pelo experimento:

Eu vi esse homem todos os dias por duas semanas. Então, achei que o conhecesse. Mas, quando eu o encontrei na vida real, ele não parecia tão solitário, triste e velho quanto eu pensava que ele fosse pelas imagens 

Esta é segunda vez que o estudante tem seu celular roubado. Da primeira vez, uma idosa se aproximou dele e mostrou um papel com um texto estranho. Depois de tentar ajudá-la, percebeu que o aparelho deixado em cima da mesa tinha sido levado. 

“Ela tinha usado o papel como distração para encobrir o roubo", disse. "Isso me fez pensar: o que aconteceria com o telefone depois do roubo? Onde ele eventualmente acabaria? Eu tinha um monte de informações pessoais no iPhone."

Foi quando eu percebi como somos dependentes de nossos smartphones. E esse tipo de coisa me assusta. Ao fazer o filme, quis criar essa consciência: imagine você sendo hackeado

Para Anthony, todo mundo precisa ter em mente que é um alvo e está vulnerável. Depois da experiência, ele conta que ficou mais alerta:

"Muitos não estão prestando atenção ao próprio telefone. Eu sempre mantenho o meu no bolso da frente, sempre do mesmo lado. Se esse bolso parece vazio, eu rapidamente verifico onde meu telefone está. Também não coloque o telefone sobre uma mesa quando estiver em um espaço público, mesmo quando você está sentado ao lado dele. É preciso apenas uma pequena distração e ele [celular] se vai", afirmou.

O estudante já recebeu inúmeras mensagens de pessoas que assistiram ao vídeo e desejam aprender como configurar o celular para que ele seja uma isca para ladrões. Apesar dos pedidos, ele diz que não quer encorajar ninguém a fazer o mesmo.

"Mesmo que algumas pessoas possam ter boas intenções, compartilhar a informação [de como ele configurou o celular para acesso remoto] seria imprudente e poderia levar a mais invasões nos smartphones", falou. 

O projeto envolveu cerca de um ano de pesquisa, tanto da parte técnica (achar a melhor forma de tornar o celular uma isca para o roubo) quanto dos aspectos legais, já que se trataria de um crime real.

"As filmagens duraram cerca de um mês e meio. Depois, levei meio ano para me certificar de que eu cobriria todos os aspectos legais antes que eu pudesse publicar o filme. A única coisa que me deixou um pouco preocupado foi a questão da invasão de privacidade [no caso, do ladrão]", explicou. "Felizmente, fiz um bom trabalho e preveni qualquer problema com a polícia."