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Pode acreditar: cientistas conseguem hackear computador usando DNA

DNA foi usado para infectar e tomar controle de um computador - Reprodução
DNA foi usado para infectar e tomar controle de um computador Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

11/08/2017 18h25

Parece ficção científica inimaginável, mas não é: cientistas da Universidade de Washington descobriram que é possível hackear um computador usando DNA. Sim, o estudo apontou que é possível passar um vírus de um ambiente biológico para o virtual. Coisa de outro mundo, não?

E como isso é possível? Bom, o DNA é basicamente uma forma de guardar informações, que podem ser lidas por um computador. Os pesquisadores então colocaram um malware dentro de um DNA, que contaminou um computador ao ser codificado pela máquina. É a primeira vez que algo do tipo é observado. 

“Nós desenhamos e criamos um filamento de DNA sintético que continha um código de computador malicioso em suas bases. Quando o filamento foi sequenciado e processado pelo programa vulnerável, foi capaz de invadir e ganhar total controle do computador”, escreveram os pesquisadores do estudo, liderado por Tadayoshi Kohno e Luis Ceze.

Os cientistas usaram as quatro bases do DNA (adenina, citosina, guanina e timina) para codificar o malware. Após ser lido por um equipamento de sequenciamento de DNA, o código molecular foi capaz de tomar controle do computador conectado com o sequenciador de DNA.

Mais detalhes sobre o estudo serão apresentados em um simpósio de segurança que será realizado em Vancouver, no Canadá, na próxima semana.

Possíveis ameaças

Há a preocupação de que ameaças surjam porque o sequenciamento de DNA tem se tornado mais barato, simples e popular. Em 2009 eram necessários US$ 100 mil (R$ 315 mil) para sequenciar um genoma; em 2014, já eram necessários apenas US$ 1 mil (R$ 3,15 mil).

É possível sequenciar milhões de filamentos simultaneamente, resultado na criação de várias aplicações para essa análise. No processo, são necessários computadores, nos quais os próprios sequenciadores rodam. Essa ligação entre sistemas biológicos e eletrônicos abre espaço para interações inesperadas. 

“Queríamos entender quais novos riscos à segurança de computadores são possíveis com a interação entre informação biomolecular e sistemas de computadores que analisam isso”, escreveram os pesquisadores.

O hackeamento de genes poderia ser tenebroso, por exemplo, para a polícia. Criminosos poderiam mudar o curso de uma investigação ao alterarem dados de um DNA. Mais campos ainda poderiam sofrer ataques, tais como medicina, agricultura, propriedade intelectual e até dados genéticos pessoais, entre outros.

Pesquisadores pedem calma

A invasão da máquina só foi possível por causa de uma fragilidade no software do sequenciador de DNA. Apesar de parecer horrível e alarmante, os pesquisadores pedem calma com a descoberta.

Não há razão para pânico sobre ameaças atualmente. Nós não temos evidências para acreditar que a segurança do sequenciamento de DNA ou os dados de DNA em geral estão atualmente sob ataque pesquisadores da Universidade de Washington envolvidos no estudo

Contudo, a pesquisa mostra que é tecnicamente possível usar um DNA como uma maneira de transferir um malware e atacar vulnerabilidades no programa de sequenciamento. Por causa disso, os pesquisadores avaliam que a segurança no processo deve ser aumentada antes que surjam ameaças de fato. A equipe, inclusive, chegou a analisar programas de sequenciamento e encontrou diversas falhas. 

Os pesquisadores ainda ressaltam que o estudo não aponta a possibilidade de o genoma de uma pessoa ser hackeado. A pesquisa apenas mostra que o DNA especificamente desenhado pode ser usado para afetar computadores, não organismos vivos. 

Outros feitos com DNA

Antes dessa descoberta, pesquisadores já haviam mostrado que é possível transferir dados usando DNA. Em abril de 2016, a Microsoft e a mesma Universidade de Washington demonstraram uma técnica para guardar e recuperar imagens digitais usando DNA.

A pesquisa busca tornar o DNA em um meio viável para guardar informações digitais, com o auxílio de suas propriedades únicas para armazenar uma quantidade vasta de informações em pequenas quantias de líquido.

Outra novidade ocorreu em julho deste ano, quando cientistas de Harvard conseguiram armazenar um vídeo dentro de um DNA de uma célula viva, segundo o jornal britânico "The Guardian".