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Nova câmera do Google tira a foto perfeita por você. Mas te observa sempre

Google Clips pode ser encaixado com grampo em várias superfícies - Divulgação
Google Clips pode ser encaixado com grampo em várias superfícies Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

05/10/2017 17h19

Sabe aquela foto que capta o momento exato com espontaneidade e que faz você sorrir imediatamente ao olhar para ela? Pois é, a imagem “perfeita” depende de muitos fatores, como a rapidez de quem está fotografando. Agora, o Google quer facilitar tudo isso. E já lançou um produto destinado a capturar esses momentos.

A nova câmera do Google foi batizada de Google Clips e anunciada junto ao celular Google Pixel 2. Seu nome faz referência a uma espécie de grampo que serve para ela ser fixada em diferentes locais. E é basicamente isso: colocar a câmera em um local e deixar ela fazer seu trabalho sozinha. Tudo isso ao preço de US$ 249 (R$ 800) nos Estados Unidos.

Mas como ela funciona?

Essa novidade do Google usa basicamente dois conceitos bastante em voga na tecnologia; aprendizado de máquina e inteligência artificial. Com isso, ela é capaz de saber exatamente o momento certo de tirar uma foto. Por exemplo, quando todos no ambiente estão compartilhando uma risada após uma piada feita por alguém do grupo.

Com um design muito semelhante às Polaroids, que são famosas por tirarem fotos instantâneas, a Google Clips aparenta ser um equipamento prático. De acordo com a fabricante, ela “não pesa quase nada”, o que deve facilitar seu manuseio. Mas o grande destaque dela é nem precisar ser manuseada. 

Segundo o Google, você pode posicionar o equipamento em uma mesa de canto de sala ou em uma cadeira, por exemplo. A câmera também tem um botão disparador, mas o grande diferencial dela é sua função automatizada. A empresa norte-americana diz que colocou ferramentas de aprendizado de máquina dentro dela para que, assim que ligada, a câmera procure os bons momentos para capturar.

Google Clips é leve e de fácil manuseio - e suas funções são todas automáticas - Divulgação - Divulgação
Google Clips é leve e de fácil manuseio - e suas funções são todas automáticas
Imagem: Divulgação

O Google não revelou detalhes da potência da câmera ou do hardware envolvido, mas diz que a Clips busca imagens “limpas e estáveis”. É possível ajudar a câmera a aprender quem é importante nas fotografias – por exemplo, priorizando o rosto de um membro da família.

As fotos são sincronizadas via Wi-Fi e em segundos com o app Google Clips, disponível para Android e iOS. Basta rolar a tela e escolher os momentos que você quer salvar ou deletar – é possível também selecionar um frame individual de um vídeo para salvar como uma foto em alta resolução. Aí você pode mandar as imagens para sua galeria ou Google Fotos.

A primeira versão do equipamento, que será vendido nos Estados Unidos, tem como foco pais e donos de animais de estimação. Assim, é possível capturar momentos espontâneos de suas crianças ou cachorros que dificilmente seriam flagrados. A Clips funciona melhor com o Google Pixel, mas também pode ser usada com o Samsung S7 e S8, além do iPhone 6 ou versões superioras do telefone da Apple.

E a minha privacidade, como fica?

A grande questão que fica deste novo dispositivo é a seguinte: e minha privacidade? O tema é espinhoso. A partir do momento em que a Google Clips é acionada, tudo é filmado. O Google até tenta responder a algumas perguntas pertinentes neste assunto, mas de forma genérica. De maneira geral, a impressão para alguns é que o aparelho é “invasivo”.

A empresa afirma, por exemplo, que o produto é idêntico a uma câmera e é aceso quando está ligado, assim todos ao redor sabem quando ela está filmando. A empresa também diz que todo o aprendizado de máquina ocorre no próprio dispositivo, não em servidores do Google. E alega que nada sai do aparelho até que você decida o que salvar e o que compartilhar.

Há ainda mais uma recomendação importante feita pelo Google. A empresa, durante toda sua demonstração, exaltou a “privacidade” no uso do aparelho. A todo momento, o destaque é para como ele funciona bem em sua casa, para capturar momentos com sua família. Mas nada impede que ela seja usada em público, o que pode incomodar algumas pessoas.

Segundo o The Verge, o Google alega ainda que a câmera não compartilha dados ou imagens com os serviços da companhia na nuvem automaticamente. Tudo, também segundo a companhia, é criptografado até você passar as imagens do app para seu celular. Essa afirmação, contudo, vem de uma companhia famosa por fazer dinheiro graças aos dados de seus usuários.

Outros produtos já foram questionados

A questão da privacidade com equipamentos eletrônicos não é nova. Atualmente, não damos conta (ou na maioria dos casos “fingimos que não sabemos”) dos inúmeros dados pessoas que compartilhamos com empresas como Facebook e Google. Ao usar seus aplicativos, como Facebook e Google Maps, várias informações sobre você e sua localização ajudam as companhias a fazer (muito) dinheiro.

google home - Divulgação - Divulgação
Google Home levanta questões do quanto escuta da casa dos usuários
Imagem: Divulgação

Essa preocupação foi ampliada com produtos semelhantes à Google Clips. O Google Home ou o Amazon Echo, por exemplo, são sucesso de vendas nos Estados Unidos. Eles são assistentes virtuais que interagem com o usuário pela voz. Daí veio a preocupação de as conversas nas casas de milhões de pessoas estarem sendo constantemente monitoradas.

Um caso, por exemplo, chamou a atenção da mídia norte-americana. A Justiça americana ordenou que a Amazon entregasse arquivos de áudio capturados após um caso de homicídio no Arkansas. As empresas costumam alegar que os dispositivos, que estão constantemente ligados, só são ativados após ouvirem a frase que desperta eles do stand-by (como “ok, Google”). Mesmo assim, não se sabe o que Amazon ou Google fazem com os dados da interação por voz do produto com o usuário.

A cada novo equipamento, as empresas buscam formas de passar confiança aos consumidores com assuntos sensíveis como a privacidade. As companhias parecem sérias sobre isso – principalmente quando envolve hardware. No fim, cabe ao consumidor acreditar ou não no que elas prometem – apesar de que o futuro aparenta ser cada vez menos “privado”.