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Vários suspeitos, um culpado: como achar o que deixa sua internet lenta?

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Imagem: Freepik

Mirthyani Bezerra

Colaboração para Tilt

16/02/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Operadoras podem variar a velocidade entregue para você
  • Sinal será melhor se os dispositivos estiverem ligado por cabo
  • Distância do aparelho em relação ao roteador também afeta qualidade
  • Na rua, grandes aglomerações e até o tempo fazem oscilar o sinal
  • Ter muita gente disputando o sinal, como em um café, aumenta risco de internet ruim

Ninguém pode se queixar quanto à evolução da velocidade da conexão a que temos acesso hoje em dia. Ela é tão rápida e eficaz que nos permite, por exemplo, maratonar a nossa série favorita. Anos atrás, podia levar quase uma hora para você conseguir baixar uma única música no seu computador. Mesmo assim, nada é mais frustrante do que estar assistindo àquela season finale e a imagem que estava em alta definição se transformar em algo pixelizado. Ou, pior, travar e mostrar aquele circulozinho que indica que "está carregando".

Seja no wi-fi da sua casa, no pacote de dados do seu smartphone ou na rede sem fio daquele café que você ama, não tem jeito, a internet vai oscilar. Existem várias razões para que isso aconteça. Tilt conversou com especialistas para explicar as principais causas e dizer o que você precisa fazer para potencializar ainda mais a velocidade da rede disponível.

Na sua casa

ilustração velocidade de internet computador - Mohamed Hassan/ Pixabay - Mohamed Hassan/ Pixabay
Imagem: Mohamed Hassan/ Pixabay

A culpa é da operadora

Mesmo que você tenha contratado o melhor pacote de internet disponível na sua região, é possível que em algum momento do dia a velocidade que a sua operadora te entregue não seja das melhores. Isso acontece porque a companhia faz um jogo de cintura —chamado tecnicamente de distribuição estatística— para conseguir atender todos os usuários durante os horários em que todo mundo está conectado, reduzindo assim a velocidade da sua internet.

Carlos Ferraz, professor do Centro de Informática da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), afirma que as operadoras calculam o histórico de uso dos usuários daquela região e cruzam esse histórico com o uso em tempo real para decidir quanto de internet vai para cada um deles.

"Digamos que você contratou 100 mega hoje e, amanhã, eu contrate outros 100, mas a operadora só consegue dar 150. Na prática, ela só vai poder dar 75 para você e 75 para mim. Isso no momento em que nós dois estivermos na rede. Mas vai ter algum momento em que você vai está sozinha na rede e a mesma coisa vale para mim, aí ela vai poder te dar 100%, às vezes até mais", diz.

Ele afirma que as operadoras precisam fazer essa distribuição para garantir o mínimo de velocidade exigida pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que atualmente é de 40% — ou seja, se você tem um pacote de 100 mega, a sua operadora tem que te oferecer, no mínimo, 40 mega.

Ferraz afirma que isso não acontece apenas no Brasil, embora, segundo ele, aqui o mínimo exigido seja muito baixo comparado a outros países. Ampliar a capacidade de distribuição sairia muito caro para as operadoras. "Se a perspectiva de negócios que ela tinha não se confirmar, vai ter um prejuízo muito grande. A operadora não fazem obra o tempo inteiro ou pensam tudo pelo máximo, porque ela gastaria muito", afirma.

Para Fabio Luciano Verdi, professor do Departamento de Computação do Campus Sorocaba da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), esse problema poderia ser minimizado se novas operadoras pudessem operar no Brasil, mas as diversas, e confusas legislações, na prática dificultam a implantação de novas companhias. "Há espaço para outras, o Brasil é gigantesco! Mais operadoras trariam mais concorrência e, com isso, espera-se melhor qualidade na oferta dos serviços", diz.

A culpa é do seu roteador

Além da velocidade oferecida pela sua operadora também tem a maneira como o sinal é distribuído dentro da sua casa. A qualidade dele será melhor se os dispositivos estiverem conectados por cabos de rede, mas hoje em dia quase ninguém usa internet cabeada e o wi-fi reina.

"O sinal sem fio utiliza meio propagado para transmissão do sinal, que é diferente do meio cabeado, ou seja, do sinal que é conduzido por fios. O meio propagado sofre várias interferências incluindo paredes, portas e outros eletroeletrônicos. Equipamentos eletrônicos com rede bluetooth e microondas, por exemplo, colaboram para piorar o sinal wi-fi", diz Verdi.

Ilustração roteador desenhado em neon - Freepik - Freepik
Imagem: Freepik

Além disso, o problema pode estar no roteador da sua casa — equipamento de distribui o sinal de wi-fi para os seus dispositivos. Ele pode estar mal posicionado e ter obstáculos (paredes, portas) diminuindo a qualidade do sinal que chega ao seu dispositivo. Segundo Verdi, o ideal é que os aparelhos se "enxerguem".

"Imagine como se fossem duas pessoas, uma enxergando a outra. Se isto for possível, é o ideal. Porém, sabemos que nem sempre isto é possível, por exemplo: o roteador está na sala e o equipamento receptor do sinal está no quarto", diz.

Segundo ele uma maneira de minimizar o problema é adquirir repetidores, equipamentos que recebem e amplificam o sinal e estão disponíveis no mercado, custando entre R$ 70 e R$ 130.

"Roteadores tradicionais podem ser configurados como repetidores. Basta configurá-los no modo bridge (suporte WPS) para que se comportem como repetidores de sinal. Na prática, eles vão receber o sinal do roteador primário e amplificá-lo. Mas, de novo, é importante que os aparelhos se enxerguem", diz.

Às vezes o problema também pode estar no fato de que o seu roteador já ser antigo e não suportar mais a quantidade de dispositivos que você tem em casa."Antigamente tinha três ou quatro pessoas em casa e cada uma tinha seu celular e pronto. Hoje tem a tua televisão, microondas. Tem muita concorrência. Por isso que uma tecnologia mais avançada dá mais conta dessa quantidade maior de dispositivos que concorrem, que um roteador mais obsoleto não daria", diz Ferraz.

A culpa é do seu dispositivo

Quando você usa seu celular, tablet ou laptop longe do roteador o próprio aparelho reduz a velocidade da conexão para economizar a energia gasta. "Os fabricantes fazem uma compensação: quanto mais você se afasta, mais vai diminuindo a velocidade [da internet] para que a bateria do seu dispositivo, seja o celular, seja o laptop ou o tablet, se mantenha", afirma Ferraz.

Além disso, é preciso ter certeza que o sistema operacional dos seus dispositivos está sempre atualizado, assim como a placa de rede deles.

Ferraz dá a dica de sempre ligar e desligar os equipamentos, pelo menos uma vez por semana, porque algumas atualizações acontecem automaticamente quando ligamos os nossos aparelhos.

Verdi, por sua vez, aconselha a conectar o computador usando cabo de rede toda vez que a lentidão persistir e não houve sinal de falha por parte da operadora.

Na rua

ilustração rede wi-fi pública - Freepik - Freepik
Imagem: Freepik

A culpa é do 3G,4G ou 5G do seu celular

Você foi curtir o Carnaval nas ladeiras de Olinda, em Pernambuco. Combinou de encontrar os amigos lá embaixo, na frente do posto, no Varadouro. Mas todo mundo teve a mesma brilhante ideia que você. No meio da multidão, ninguém consegue mandar mensagem pelo WhatsApp para ninguém, nem acessar as redes sociais, porque o seu 3G,4G ou 5G não funciona.

Segundo Verdi, isso acontece porque o sinal está sendo roteado para todo mundo por meio de uma única antena, provavelmente a mais próxima do evento, causando um gargalo na infraestrutura da operadora.

Por isso que antes de grandes eventos as operadoras costumam fazer estudos e traçar estratégias para aumentar a cobertura na região onde haverá uma grande concentração de pessoas.

"No Carnaval de Olinda ou no desfile do Galo da Madrugada, por exemplo, você vai ver várias antenas portáteis, que as operadoras levam para o lugar porque sabem que vai haver uma concorrência maior e por isso elas precisam ter um sinal de melhor qualidade", diz Ferraz.

Esse é um exemplo extremo da concorrência pelo sinal que também acontece no nosso dia a dia e que faz com que a nossa conexão oscile, mesmo que a gente não esteja em um grande show ou em um protesto gigante ou situação semelhante.

Os smartphones são usados em ambientes externos, por isso, sofrem mais com diferentes tipos de interferências, como prédios, carros, sinas de TVs, movimentos, montanhas.

Ferraz afirma que condições climáticas também tendem a interferir na qualidade da conexão. "Quem está em lugar frio tem uma qualidade de rede melhor de quem está em lugar quente. Quem está em lugar seco tem qualidade de rede melhor de quem está em lugar úmido", diz.

A culpa é do povo disputando o wi-fi do café

O seu laptop está mostrando que o sinal do wi-fi do café que você escolheu para trabalhar é forte, mas o seu computador não consegue sequer carregar o buscador do Google. Pode parecer confuso, mas o problema pode estar na quantidade de pessoas que tiveram a mesma ideia que você de ir trabalhar no café e estão usando o mesmo sinal.

"Quanto mais usuários, menor é a fração do canal para cada um. É como dividir um bolo com mais pessoas sem aumentar o tamanho dele: o tamanho da fatia irá diminuir", diz Verdi.

Outro ponto pode ser a qualidade do roteador do café. Ferraz aponta que sem assessoria técnica o dono do estabelecimento pode ter resolvido adquirir um roteador indicado para ser usado em residências e isso vai ser um problema.

"Às vezes o restaurante compra o mesmo [roteador] que você comprou para usar em casa, mas na sua casa tem três, cinco pessoas, no restaurante vai ter 20, 30 usando aquele roteador", diz.

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