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Google muda política após escândalo, e Musk decide deletar Facebook

Elon Musk é o novo nome a aderir ao #deletefacebook - Getty Images
Elon Musk é o novo nome a aderir ao #deletefacebook Imagem: Getty Images

Márcio Padrão *

Do UOL, em São Paulo

23/03/2018 14h17Atualizada em 31/05/2020 06h51

O escândalo envolvendo o uso de dados de milhões de usuários do Facebook para campanhas eleitorais sem consentimento ainda está rendendo.

Além das regras mais rígidas impostas pela União Europeia, o Google divulgou sua nova política de consentimento de dados para quem usa plataformas de publicidade como o Google AdWords.

Elon Musk deletou seu Facebook e de suas empresas, e a Mozilla não pretende anunciar mais na rede social até que receba garantias de que a privacidade vai ser reforçada.

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A consultoria Cambridge Analytica fez uso dos dados de 50 milhões de usuários do Facebook numa tentativa de influenciar a eleição presidencial dos EUA em 2016. O escândalo ganhou novos contornos após um ex-funcionário da Cambridge, Christopher Wylie, denunciar isso em reportagens recentes nos jornais "The Guardian" e "The New York Times" e o canal de TV britânico Channel 4.

Google

O Google divulgou na quinta-feira (22) um texto para editores de conteúdo ligados à sua plataforma de publicidade AdWords. A nota informa as mudanças que a empresa está fez em sua política de consentimento do usuário. E jura que é para ficar de acordo com Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR), uma nova lei da União Europeia, não por causa do escândalo do Facebook.

Foi um aumento considerável em relação ao modelo atual da política de consentimento do Google. Como está atualmente, editores europeus que usam produtos Google como AdWords devem usar "esforços comercialmente razoáveis" para divulgar e obter consentimento para usar, coletar e compartilhar dados em qualquer site, app, email ou algo similar; e garantir que um usuário final receba informações claras e abrangentes sobre o armazenamento e acesso a cookies.

As futuras mudanças, na verdade, deixam essas mesmas diretrizes mais detalhadas. Na segunda regra abaixo, há mais poder ao usuário para cancelar essa permissão, e na terceira, envolve até mesmo a responsabilidade com empresas terceiras (algo que foi crítico entre Facebook e Cambridge):

. Os editores que usam produtos Google de publicidade são responsáveis para obter consentimento de outros usuários para acessar cookies [arquivos de navegador web que guardam dados de cada usuário] ou outro armazenamento local; e para a coleta, compartilhamento e uso de dados pessoais para personalização de anúncios ou outros serviços

. Ao buscar consentimento, o editor deve reter registros de consentimento fornecidos pelos usuários finais, deixando claro ao usuário que está fazendo isso; e fornecer aos usuários instruções claras para cancelar esse consentimento

. Se os dados pessoais de usuários finais de uma propriedade de empresas terceiras forem compartilhados com o Google devido ao uso ou integração com um produto do Google, você deverá usar de esforços comercialmente razoáveis (leia-se: algum tipo de comunicação com a tal companhia terceira) ara garantir que ela cumpra os deveres acima

Tudo isso passa a vigorar a partir de 25 de maio na Europa. Além disso, a empresa também planeja oferecer aos editores uma maneira de veicular anúncios não personalizados para usuários que não consentirem que seus dados sejam usados para anúncios, disse uma fonte do Google ao "Wall Street Journal".

Em paralelo, o engenheiro de software e aprendizado de máquina do Google François Chollet teceu duras palavras contra o Facebook:

"O problema com o Facebook não é 'apenas' a perda de sua privacidade e o fato de que ele pode ser usado como um panóptico totalitário. A questão mais preocupante, na minha opinião, é o uso do consumo de informação digital como vetor de controle psicológico".

Ao ser cutucado no Twitter sobre o papel no Google neste panorama de proteção de dados, Chollet fez questão de pôr a companhia em outro patamar:

"Alguns dizem que isso se aplica ao Google também. Esse é o tipo de pensamento mais preguiçoso - só porque duas coisas compartilham uma semelhança superficial (são grandes tecnologias) não significa que sejam equivalentes". Será?

União Europeia

A União Europeia planeja aplicar leis mais duras às redes sociais e provedores de email, como o Facebook e o Gmail, do Google.

Segundo a proposta preliminar, as autoridades podem aplicar multas de pelo menos 4% do faturamento. Atualmente, as autoridades de consumo da UE só podem cobrar pequenas multas e algumas não têm poder para sancionar as empresas de forma alguma por violar o direito do consumidor.

A proposta estenderia a aplicação do direito do consumidor da UE a serviços digitais "gratuitos" como serviços de armazenamento em nuvem, redes sociais e contas de email.

"Dado o crescente valor econômico dos dados pessoais, esses serviços não são simplesmente gratuitos", disse o documento que deve ser apresentado no próximo mês.

A Comissão Europeia também está planejando uma nova lei que regule as práticas comerciais de plataformas online com empresas menores, buscando reduzir seu poder de mercado.

Além disso, 28 líderes europeus pediram na quinta (22), em declaração comum no primeiro dia de uma cúpula em Bruxelas, que as empresas digitais garantam "práticas transparentes e uma proteção total da vida privada e dos dados pessoais dos cidadãos" dos cidadãos.

O presidente do Parlamento europeu, Antonio Tajani, convidou o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, a se explicar.

Mozilla

A empresa de internet Mozilla, dona do navegador Firefox, decidiu suspender publicidade na plataforma do Facebook até que a rede social fortaleça suas configurações de privacidade para aplicativos de terceiros.

"Nós acreditamos que as suas (do Facebook) configurações padrão atuais deixam acesso aberto para muitos dados, particularmente com relação a configurações para aplicativos de terceiros", disse a Mozilla.

Tesla e SpaceX

Elon Musk, dono das empresas de carros Testa e foguetes SpaceX, aderiu à campanha #deletefacebook, assim como fez o ex-executivo do WhatsApp Brian Acton.

Não foi só força de expressão. Musk aparentemente não sabia que a SpaceX tinha uma página no Facebook, pois respondeu a um comentário no Twitter dizendo que não sabia que as páginas existiam, e prometeu derrubá-las. As páginas de Musk, da SpaceX e da Tesla saíram do ar.

Musk também respondeu a outro comentário no Twitter sobre sua presença no Instagram, de propriedade do Facebook. O empreendedor disse que o Instagram está na "berlinda", já que a "influência do Facebook está lentamente caindo", mas parece que sua presença nesta rede social seguirá por enquanto.

* Com agência Reuters

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