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Confira o que Mark Zuckerberg vai falar ao congresso dos EUA

Stephen Lam/Reuters
Imagem: Stephen Lam/Reuters

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

09/04/2018 15h54

Esta talvez seja uma das semanas mais tensas de toda vida profissional de Mark Zuckerberg, diretor-executivo do Facebook. Depois que o escândalo envolvendo os dados de 87 milhões de pessoas estourou, o fundador da rede social terá que prestar explicações no Congresso norte-americano.

Nesta terça-feira (10), ele inicia sua maratona de dois dias de justificativas e desculpas oficiais a todo mundo. Um dos principais argumentos deve ser sobre os esforços do Facebook para impedir que as informações de seus usuários sejam usadas para influenciar eleições, sejam elas nos Estados Unidos ou em qualquer lugar do mundo, como o Brasil. 

O encontro dele será na terça com representantes dos Comitês de Justiça e Comércio do Senado dos EUA e na quarta (11) com membros do Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos deputados norte-americano.

Desde que as denúncias de mal uso de dados de usuários do Facebook pela empresa de marketing político Cambridge Analytica ganharam força, Zuckerberg iniciou uma verdadeira batalha de explicações e mudanças na rede social para amenizar a queda nas ações, a revolta de internautas e para contemplar os inúmeros pedidos de explicações de governos.

Nas últimas semanas, a empresa tentou transformar sua imagem pública de uma empresa poderosa, mas que não revelava seus segredos em uma organização transparente e que “qualquer espirro” tem sido comunicado ao grande público.

Zuckerberg, que era um cara de poucas palavras e que publicava uma foto ou outra de seu ambiente familiar, começou a usar a própria rede social para anunciar mudanças. O executivo também começou a dar entrevistas para diversos veículos de imprensa de modo a disseminar suas explicações sobre o ocorrido e reforçar que mudanças estavam sendo feitas antes mesmo do escândalo.

As audiências nos comitês devem ser privadas, mas Zuckerberg divulgou um documento contendo tudo que ele vai abordar em sua fala no congresso no dia 11 de abril. Veja a seguir os principais pontos:

Assumir falhas

Desde que o caos se instaurou, o Facebook tem tentado reforçar sua transparência. Além de pedidos de desculpas oficiais, Zuckerberg deve novamente reforçar que a empresa tem sim responsável sobre o problema.

“Está claro que não fizemos o suficiente para impedir que essas ferramentas sejam usadas para o bem. Isso vale para notícias falsas, interferência estrangeira em eleições e discurso de ódio, bem como privacidade de dados. Não tivemos uma visão ampla da nossa responsabilidade e foi um grande erro. Foi meu erro e sinto muito. Eu comecei o Facebook, eu corri com isso e eu sou responsável pelo que acontece aqui”, descreve Zuckerberg em seu testemunho.

Nesta segunda-feira (9), o executivo publicou um texto em seu perfil no Facebook dizendo que uma comissão de pesquisadores será criada para entender o papel do Facebook na influência das pessoas em campanhas eleitorais. Por ser algo novo, é capaz que a iniciativa seja reforçada durante as audiências no Congresso norte-americano.

“Não basta apenas conectar pessoas, temos que garantir que essas conexões sejam positivas. Levará algum tempo para trabalhar em todas as mudanças que precisamos fazer, mas estou comprometido em acertar”, acrescentou o executivo em seu documento.

Mostrar o que já mudou para os usuários

Uma série de mudanças nas regras do Facebook foram aplicadas depois das denúncias. O controle de privacidade dos usuários mudou com o objetivo de tornar a navegação mais fácil e mais simples para as pessoas encontrarem as informações que desejam.

Mudanças nas informações que aplicativos de fora do Facebook acessam foram restritas. Com o tempo, os programas terão acesso apenas ao nome, foto de perfil e email dos usuários. Até então, eles poderiam ter acesso a coisas como status de relacionamento, histórico profissional, formação acadêmica, entre outros.

Em seu testemunho, Zuckerberg destaca ainda que aplicativos que você não usa há três meses deixarão de ter acesso aos seus dados.

Reforçar que eleições serão protegidas

Uma de suas “principais prioridades” agora é evitar que a rede social interfira em eleições. Por isso, Zuck deve lembrar os congressistas sobre o objetivo da empresa em impedir que dados de seus usuários sejam usados para tal fim.

Uma das ações é detectar e excluir perfis falsos que possam ser usados indevidamente, principalmente para disseminar notícias falsas. Em seu testemunho, Zuckerberg deve reforçar crescimento no investimento em segurança e que até o final do ano 20 mil pessoas estarão trabalhando nessa tarefa.

“Nós vamos continuar trabalhando com o governo para entender a extensão total da interferência russa, e faremos a nossa parte não só para garantir a integridade de eleições livres e justas em todo o mundo, mas também para dar voz a todos e ser uma força do bem na democracia em todos os lugares.”

O executivo também vai aproveitar para reforçar novas medidas que entraram em vigor na última sexta.

A primeira é que o anunciante que deseja colocar anúncios políticos terá que ser validado. Ou seja, sua identidade e localização terão que ser verificados pela empresa. Além disso, os anúncios terão um rótulo para informar aos usuários que se trata de um conteúdo patrocinado e quem pagou por eles também deverá ser exibido.

A outra grande medida é verificar os perfis de pessoas com muitas curtidas. O objetivo é conseguir identificar e evitar o uso de contas falsas que possam disseminar informações falsas.

O documento divulgado termina com Zuckerberg recordando a essência da rede social quando foi criada: conectar pessoas.

“Eu comecei o Facebook quando estava na faculdade. Nós percorremos um longo caminho desde então. Nós agora servimos mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, e todos os dias, as pessoas usam nossos serviços para ficarem conectadas com as pessoas que mais importam para elas. Eu acredito profundamente no que estamos fazendo”, destaca.

“Percebo que os problemas sobre os quais estamos falando hoje não são apenas problemas para o Facebook e nossa comunidade - são desafios para todos nós. Obrigado por me ter aqui hoje, e estou pronto para tirar suas dúvidas””, finaliza.

O que podemos concluir?

Com base no documento divulgado, a fala do fundador da rede social será objetiva e tentará esclarecer qualquer tipo de dúvida que ainda reste sobre os esforços da empresa em resolver os problemas atuais.

Resta saber se isso convencerá os congressistas norte-americanos ou se as informações serão usadas para reforçar futuras investigações sobre o escândalo.

De qualquer forma, o executivo tem sido preparado para este desafio. Segundo o jornal “New York Times”, ele está trabalhando com um ex-assistente pessoal de George W. Bush e o objetivo é treiná-lo para que ele mostre seu lado mais humano e não hesite em responder qualquer tipo de pergunta que seja feita.

O jornal também afirma que um escritório de advocacia (WilmerHale) foi contratado, além de consultores externos, para orientar o executivo sobre possíveis questões legais que devem ser abordadas. Para ajudar, ele também estaria passando por sabatinas organizadas por uma equipe de comunicação.

Toda a estratégia envolve em fazer com que o executivo não fique na defensiva, responda todas as perguntas de forma clara e que ele assuma seus erros de modo humilde, informaram algumas pessoas próximas ao jornal.