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Robô pode ser salvação em caso de extinção das abelhas

O robô da Universidade de West Virginia é capaz de polinizar plantas - Divulgação
O robô da Universidade de West Virginia é capaz de polinizar plantas Imagem: Divulgação

Lucas Baranyi

Colaboração para o UOL Tecnologia

03/06/2018 04h00

Dentro de uma estufa na Universidade de West Virginia, um robô transita por fileiras e mais fileiras de amoras com um objetivo bem curioso: aprender a se comportar como uma abelha. Ele localiza flores e, com seu braço mecânico, equipado com pincéis delicados, tem o poder de polinizar cada uma delas. A diferença é que, como ele ainda é um protótipo, a localização das “flores” é realizada com QR codes colocados dentro dos galhos das amoreiras.

Parece loucura, mas o objetivo tem uma boa causa: o BrambleBee pode tornar-se a melhor alternativa frente a uma possível extinção das abelhas. “De um ponto de vista da robótica, sempre estamos buscando soluções para problemas urgentes do mundo”, afirmou Yu Gu, professor da Universidade e um dos designers por trás da máquina, ao site Fast  Company.

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Ele não está exagerando: nos últimos anos, a comunidade científica tem se alarmado com a brutal queda do inseto ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, existiam 52% menos de colônias de abelhas em 2017 do que em 1957. Só no Brasil existem cinco espécies em extinção – e a União Europeia já criou uma medida para banir pesticidas que podem prejudicar a saúde de insetos. Essa crise, como você já deve estar imaginando, também atinge a mesa de todas as pessoas: a ONU estima que 71% das culturas agrícolas que respondem por 90% da alimentação mundial dependem da polinização das abelhas, cujas causas para este risco de extinção variam entre doenças, pesticidas, estresse e mudanças climáticas.

A ideia do professor universitário nasceu, em parte, por acaso: ele é vizinho de um entomologista (pessoa que se dedica ao estudo de insetos) que cultiva abelhas. Enquanto participava de um desafio da NASA para a criação de um robô que poderia coletar amostras no espaço de forma autônoma (concurso que, por sinal, ele venceu), Gu observava as abelhas do vizinho realizarem a polinização de seu próprio jardim, percebendo o desafio que era submetido aos insetos.

“Parte do meu trabalho é programar capacidades de um robô, e isso me fez pensar que seria possível realizar algo acerca do declínio da população de abelhas”, explica. A partir disso, ele se uniu ao entomologista para a criação do robô-abelha.

A utilização das amoreiras também tem uma explicação: as plantas, em tese, polinizam-se sozinhas – mas as frutas não conseguem crescer ao ar livre, de maneira saudável, sem as abelhas. Construir uma estufa e ter um ambiente controlado para realizar os experimentos, então, foi a solução encontrada para testar o BrambleBee.

O trabalho do robô (confira acima, no vídeo) se dá, primeiro, com a criação de um mapa 3D da estufa, que o permite detectar as flores para, em seguida, traçar as melhores rotas para a polinização. Um algoritmo de visão computadorizada estima a posição, tamanho e condição da flor, guiando o braço robótico para depositar o pólen. O maior desafio da equipe de cientistas, hoje, é possibilitar uma melhor identificação destas flores, já que, em ambientes não-controlados, elas crescem muito próximas uma das outras e podem sobrepor-se, confundindo a máquina. A solução, durante o experimento, foi inserir QR codes nas flores para ajudar este reconhecimento.

Gu não está sozinho nessa luta: em março deste ano, a Walmart realizou o pedido de uma patente para drones autônomos criados para polinização. O problema, segundo o próprio professor, é que construir miniaturas de drones do tamanho de abelhas já é um trabalho imensamente difícil, pela necessidade de unir sensores, processadores e baterias em um objeto tão pequeno.

A solução óbvia para este problema seria ajudar a salvar as espécies – mas, com uma gama tão extensa de fatores que contribuem para a extinção das abelhas, é bom que a ciência continue mexendo seus pauzinhos na busca de eventuais soluções – especialmente em um mundo cuja demanda por alimentação continua aumentando.