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Braço robótico transforma jovem americano em baterista mais veloz do mundo

Após ter o braço amputado, Jason Barnes ampliou suas habilidades musicais com uma prótese tecnológica - Divulgação
Após ter o braço amputado, Jason Barnes ampliou suas habilidades musicais com uma prótese tecnológica Imagem: Divulgação

Lucas Baranyi

Colaboração para o UOL Tecnologia

12/06/2018 04h00

Quando uma parte do corpo é vital para a execução de um trampo, não é de se surpreender que elas sejam seguradas. São muitos os casos de celebridades que colocaram seus principais “instrumentos de trabalho” no seguro – as pernas de Cristiano Ronaldo valem R$ 610 milhões, o sorriso de Julia Roberts vale R$ 111 milhões e as mãos de Keith Richards, lendário guitarrista dos Rolling Stones, valem R$ 82 milhões. Mas longe do Olimpo do entretenimento, a situação de alguém que sofre um acidente resultante em danos físicos permanentes tem muito menos glamour.

É o caso de Jason Barnes, músico amador que, em 2012, foi eletrocutado em um acidente de trabalho e, em decorrência do acidente, teve o braço direito amputado. O evento parecia dar fim a uma das maiores paixões de Barnes: tocar bateria. Não apenas isso, mas era uma mudança radical que acabaria impondo uma série de limitações na vida do batera. Isso se a tecnologia não tivesse cruzado seu caminho.

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Em 2014, o norte-americano nascido no estado da Geórgia foi convidado para testar uma prótese robótica que poderia, em tese, simular os movimentos utilizados para tocar uma bateria. A invenção foi criada no Georgia Tech Center for Music Technology, um centro de pesquisa interdisciplinar da Georgia Institute of Technology.

A ‘prótese baterista’ funciona com duas baquetas acopladas: a maior é controlada fisicamente por Barnes, que movimenta seu corpo para conferir o toque desejado no instrumento, como qualquer baterista faz. O braço biônico se vale de uma técnica chamada de eletromiografia, que monitora a atividade elétrica das membranas excitáveis das células musculares para pode recriar movimentos.

A outra baqueta “ouve” a música que está sendo tocada e, por meio de um software, improvisa – levando em conta as batidas por minuto e o ritmo da canção e os movimentos dos músculos de seu bíceps, que ‘comandam’ a baqueta em termos de força e velocidade.

O cara ficou atônito quando foi convidado para participar do projeto. “No começo eu não fazia ideia do que poderia acontecer. Ninguém poderia prever até onde chegamos”, afirma. “Há seis anos eu perdi meu braço; há cinco anos comecei a trabalhar com a equipe da Georgia Tech e, agora, estamos no caminho de desenvolver uma das melhores tecnologias possíveis para pessoas amputadas”, comemora.

Habilidades que humanos não têm

Só que o braço biônico foi bem além de restaurar a capacidades de Barnes marretar uma batera de novo.  O braço robótico pode realizar movimentos muito mais velozes do que a mão humana, atingindo uma reprodução de batidas por minuto que só pode ser conseguida com batidas eletrônicas. Ele, porém, tenta rebater o rótulo de baterista mais rápido do mundo. 

Tecnicamente não sou o mais rápido nem o melhor, mas a prótese me dá habilidades que humanos não têm, então eu definitivamente aproveito a habilidade de ser mais criativo!

Jason Barnes

O norte-americano, que considera-se muito eclético – um fã de “metal progressivo, ritmos globais e música eletrônica” – considera que, apesar de muito funcional, a prótese ainda não consegue replicar a sensação de pura improvisação de um músico. “Ainda assim, ela trabalha de uma maneira muito similar à mão humana no que diz respeito a ler sinais musculares e operar uma baqueta. Ela não me fez um baterista melhor, mas abriu novas possibilidades dentro do universo da música”, confessa.

Recentemente, o músico e a Universidade realizaram um projeto na plataforma de financiamento coletivo Kickstarter, para angariar mais fundos com a intenção de alavancar a pesquisa. O projeto, infelizmente, não arrecadou o valor necessário no prazo estipulado – mas isso não significa uma derrota para Jason e a equipe. “Nós não vamos desistir. Ainda queremos nos conectar a investidores maiores e ver o que acontece”, explica.

Avanço para todos 

A tecnologia para a prótese, na verdade, é open source (o que significa que o código-fonte do software pode ser adaptado para diferentes fins) – uma vontade de todos os envolvidos no projeto. “Dois motivos nos levaram a tomar essa decisão: em primeiro lugar, acreditamos que isso renderia um sucesso maior no financiamento. Em segundo lugar, queremos que esta tecnologia esteja disponível para o mundo, mesmo que a pesquisa pare em nós”, conclui.

O próprio trabalho da equipe de Georgia Tech já está evoluindo. Eles já conseguem utilizar tecnologia de ultrassom, que vai além da eletromiografia: não só o ultrassom percebe a atividade muscular, como tem a capacidade de perceber diferenças sutis entre os músculos em si – o que permitiria a ativação de dedos específicos em uma prótese que replicasse perfeitamente uma mão humana.

Por meio de inteligência artificial, a resposta dessa outra prótese pode torna-se muito mais rápida, atendendo quase que subitamente aos desejos de quem a usa.

Um outro projeto da mesma equipe de Georgia Tech adaptou a ideia para dar a músicos com os dois braços a possibilidade de tocar com uma versatilidade ainda maior: a prótese realiza a leitura do que está sendo tocado na bateria, a velocidade com que o músico está acertando os tambores e, através desta compreensão, decide se tocará um tambor auxiliar ou um chimbal. 

A possibilidade, é claro, se estende para além da música: a tecnologia poderia ser utilizada para auxiliar médicos em cirurgias complicadas – ou até mesmo auxiliar reparadores em consertos de máquinas. Os pesquisadores da Georgia Tech escolheram testar a prótese no campo da música por um motivo simples: tocar algo requer timing e precisão. É a partir desse aperfeiçoamento que o braço robótico poderá ser levado para outras áreas.