Topo

Streaming e jogos de celular: Google e Facebook miram a indústria dos games

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

09/07/2018 10h40

O mercado de games tem três pilares quando se trata daquele aparelhinho que fica embaixo da TV: Sony, Microsoft e Nintendo. Porém, a ascensão de celulares como plataformas de jogos e a transformação de serviços de streaming de gameplay, atraíram olhares de empresas de fora, que miram um ecossistema jovem e lucrativo.

As últimas semanas, em especial, mostraram que companhias de fora da indústria dos jogos tem sério interesse em entrar na briga. A mais relevante, é claro, é o Google. Segundo o site "Kotaku", a gigante das buscas tem um plano baseado em uma plataforma de streaming, um hardware e a tentativa de trazer desenvolvedores para dentro da empresa.

VEJA TAMBÉM

O interesse do Google no mercado de jogos foi divulgado no último dia 28 de junho. Um dia antes, o site "The Information" publicou que a Snap, proprietária do Snapchat, prepara o lançamento de uma plataforma que permitirá que desenvolvedores criem jogos para a rede social.

Pelo menos uma produtora estaria comprometida a criar um jogo na plataforma, que deve ser lançada no segundo semestre deste ano. Uma inspiração para a Snap seria a chinesa Tencent, que introduziu games em seu app de mensagens, o WeChat, e tem 40% de sua receita originária de jogos.

O Snapchat começou a introduzir jogos em sua plataforma em abril deste ano. Chamados Snappables, eles funcionam com realidade aumentada e usam a câmera de selfie dos celulares como controle da ação.

Enquanto o foco do Snapchat é nos games para celular, o Google quer ir além disso - afinal, já existem muitos jogos para celulares à venda na Play Store, a lojinha virtual do Android. O Google teve reuniões com grandes empresas da indústria de games tanto na Game Developers Conference (GDC) e quanto na E3, os dois maiores eventos do ramo nos Estados Unidos.

De acordo com o "Kotaku", a ideia da empresa é comprar estúdios de desenvolvimento para trabalhar na plataforma de streaming, com codinome Yeti. O que ela fará ainda não se sabe, porém há a expectativa de uma integração significativa dela com o YouTube, onde jogadores postam vídeos de gameplay e transmitem suas sessões de jogatina.

Facebook vai para briga com YouTube e Twitch

O YouTube Gaming é uma das principais plataformas de streaming do mercado que é liderado pelo Twitch. Líder de audiência, o serviço foi alvo de uma tentativa de compra do Google, mas quem levou foi a Amazon, que desembolsou US$ 970 milhões em espécie em 2014 para adicionar o Twitch às suas propriedades.

Os dois principais meios de transmissão de jogos na internet receberam um rival de peso neste ano, quando o Facebook decidiu entrar para valer na brincadeira. O Facebook Live já era utilizado para streaming, porém em janeiro de 2018 a empresa de Mark Zuckerberg lançou um programa para criadores, com a ideia de atrair personalidades dos games famosas em outros serviços.

Ninja, principal streamer do momento, tem mais de 9 milhões de seguidores no Twitch - Reprodução - Reprodução
Ninja, principal streamer do momento, tem mais de 9 milhões de seguidores no Twitch
Imagem: Reprodução

O Brasil foi o segundo país a receber o programa, que estreou nos Estados Unidos. Para dar mais destaque a esse tipo de conteúdo, o Facebook criou uma página para agregar os vídeos ao vivo e os arquivos de transmissões. O canal se alimenta de informações de páginas curtidas pelo usuário para indicar vídeos que podem ser do interesse dele.

Para Pedro Rodrigues, gerente de parcerias de gaming no Facebook, a investida nessa área tem tudo a ver com a proposta da empresa.

"Gaming está fortemente conectado à nossa missão de dar às pessoas o poder de construir comunidades e aproximar o mundo. O Facebook tem mais de 800 milhões de jogadores conectados a cada mês, com mais de 60 milhões de membros ativos em grupos de jogos", afirmou.

"Estamos trabalhando para criar um ecossistema de jogos de sucesso no Facebook e estamos comprometidos em continuar desenvolvendo a infraestrutura tecnológica que essas audiências precisam", completou.

Fora o comprometimento reforçado na área de streaming, o Facebook aposta em jogos na plataforma Instant Games, que permite o desenvolvimento de jogos em HMTL5 para que os usuários joguem no Messenger e na rede social. Rodrigues destaca que, entre junho de 2017 e o começo de julho de 2018, o número de games disponíveis subiu de 50 para mais 2 mil, com 4,3 bilhões de sessões de jogos realizadas nos últimos 90 dias.

A rede social não pretende desenvolver seus próprios jogos, e sim dar uma plataforma para que outros o façam. "Gaming está apenas começando e há muito espaço para crescer e acreditamos que podemos ser um aditivo ao ecossistema geral", concluiu Rodrigues.

Crescimento do streaming e a oportunidade a novos atores

O streaming de vídeo já é uma tecnologia bem avançada, dada a abrangência de Netflix e afins. A de jogos, no entanto, tem muito a evoluir. Empresas que vieram com a proposta de oferecer jogos via streaming, como a OnLive, não deram certo. A Sony comprou as patentes da OnLive e uniu-as à plataforma Gaikai, usando as duas para fornecer o serviço PlayStation Now, que não se tornou atrativo a ponto de se popularizar.

Isso pode mudar após a próxima geração de consoles, ao menos na visão de Yves Guillemot, presidente da Ubisoft, uma das maiores produtoras e distribuidoras do mercado de jogos. Em entrevista à "Variety" no início de junho, o francês opinou que "com o tempo, streaming se tornará mais acessível a muitos jogadores, tornando desnecessário ter um hardware robusto em casa. Haverá mais uma geração de consoles e, depois disso, todos nós jogaremos por streaming".

Considerando esse cenário, quem puder providenciar um serviço mais estável de streaming estará em vantagem - bom para o Google e para o Facebook, que são capazes de oferecer plataformas estáveis. O sinal de alerta para a velha guarda da indústria de jogos está ligado.