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Apesar de queda, valor do Facebook é superior ao de pós-escândalo de dados

Marcio Jose Sanchez/AP
Imagem: Marcio Jose Sanchez/AP

Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

28/07/2018 11h13

A semana não foi boa para o Facebook, que teve a pior queda diária de uma empresa na Bolsa dos EUA, consequência dos resultados do segundo trimestre fiscal da rede social em 2018.

Apesar do preço das ações despencar em um porcentual recorde (18,9%), o valor dos papéis do Facebook continuou relativamente alto, em especial se considerada a turbulência vivida por ela em março deste ano, quando explodiu o escândalo de vazamento de dados da Cambridge Analytica.

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Antes do jornal "New York Times" e da revista "The Observer" publicarem no dia 17 de março que os dados de milhões de usuários do Facebook haviam sido explorados irregularmente por terceiros, as ações fecharam o dia 16, uma sexta-feira, valendo US$ 185,09.

Na segunda-feira (23), elas abriram em uma queda de quase dez dólares e fecharam a US$ 172,56. A curva negativa persistiu até sexta (27), quando os papéis atingiram o valor mais baixo do ano: US$ 152,22.

A queda-livre de quinta-feira, impressionante porcentualmente, derrubou as ações a um preço superior ao do dia que sucedeu o escândalo de março: US$ 174,89.

Antes disso, passada a turbulência de relações públicas pelos milhões de vazamentos, o humor do mercado era ótimo. No dia 26 de abril, o valor das ações já superava o de antes da Cambridge Analytica, e o que se viu nos meses seguintes foi uma grande valorização.

"O Facebook vem num crescimento porque o mercado estava precificando que ele ia crescer bastante nesse ano. Desde o começo do ano havia uma projeção que ele teria um grande ganho em receita por publicidade. A gente teve o escândalo, que acabou, em primeiro momento, jogando o preço para baixo porque a reputação ficou arranhada. Mas o escândalo não pega no bolso", analisou Juliana Inhasz, professora de economia do Insper.

"O mercado financeiro é muito ágil, teve escândalo, mas está tudo normal porque estão fazendo tudo possível para reverter o efeito, a queda vira uma alta", completou.

Os esforços do Facebook para limpar a imagem foram suficientes para agradar o mercado e impulsionar a retomada da valorização, que ocorreu após a série de anúncios de transparência e segurança feita por Mark Zuckerberg.

O ex-CEO da Cambridge Analytica, Alexander Nix, é sabatinado por comitê do Parlamento em Londres - AFP - AFP
O ex-CEO da Cambridge Analytica, Alexander Nix, é sabatinado no Parlamento em Londres
Imagem: AFP

As consequências desses esforços, no entanto, só foram sentidas no anúncio do final do trimestre fiscal, em conjunto com as expectativas mais modestas de receita para o segundo semestre e os resultados um pouco abaixo da previsão no primeiro.

Com uma arrecadação discretamente inferior à projetada no início do ano, além do investimento para melhora da plataforma, que resulta em mais gastos ao Facebook, a promessa do próximo semestre fiscal é de menos dinheiro no caixa, o que contribui para a baixa.

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Para a economista, apesar da enorme queda desta semana, a tendência é que o crescimento do preço das ações seja retomado, embora num ritmo mais lento. A percepção não é a mesma dos bancos donos de ações do Facebook, céticos quanto às chances aumento na receita.

"A impressão é que deve continuar subindo, mas não deve chegar a patamares tão elevados como nos últimos tempos. Estamos falando da maior rede social, tem o maior número de usuários. As ações de segurança devem ter um efeito interessante para reputação. Ainda tem tendência de alta e um fôlego, mas num ritmo muito menor", afirmou Inhasz.

Um salto significativo, no ritmo que estava até o dia em que os resultados do segundo trimestre foram anunciados, só deve voltar a acontecer caso o Facebook encontre um fato novo que mude suas expectativas de receita.

Uma forma é tirar dinheiro do WhatsApp, um desafio que pode render frutos bilionários a Mark Zuckerberg. Outra é uma difícil e altamente improvável entrada no concorrido mercado chinês.

Os bancos investidores duvidam da potencial lucratividade do WhatsApp como um fator propulsor do crescimento da receita. Ambos os possíveis acontecimentos corresponderiam a encontrar a "galinha dos ovos de ouro", mas são de difícil realização.

"Exigirá um esforço bem grande da parte de inteligência de marcado deles para saber a como fazer a capitalização do Whatsapp ou fazer uma inserção em países que não têm o histórico de acessos. Isso pode ter um custo que o benefício não vale a pena", concluiu a economista.

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