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Ex-dono do WhatsApp diz que é "vendido" e lucrou com nossa privacidade

Brian Acton deixou o WhatsApp após discordar de decisões do Facebook - Carlos Moura/SCO/STF
Brian Acton deixou o WhatsApp após discordar de decisões do Facebook Imagem: Carlos Moura/SCO/STF

Gabriel Francisco Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

26/09/2018 13h20

Cofundador do WhatsApp, Brian Acton não tem muito apreço com o Facebook. Atualmente, ele apenas tenta viver todos os dias com sua decisão de vender o aplicativo mais popular de mensagens no Ocidente à empresa de Mark Zuckerberg. Quem afirma isso é ele mesmo, em entrevista em que abriu o jogo à Forbes.

O ex-executivo do app não mediu palavras sobre suas decisões. Em determinado ponto, admitiu que é um "vendido" pelo o que fez com a empresa. Mais recentemente, ele foi um dos que participaram da campanha #DeleteFacebook, em meio aos escândalos de vulnerabilidade dos dados de usuários na rede social.

No fim das contas, eu vendi minha empresa. Eu vendi a privacidade dos meus usuários para um benefício maior. Fiz uma escolha e um compromisso. E vivo com isso todos os dias Brian Acton, cofundador do WhatsApp

As batalhas internas do WhatsApp com o Facebook envolvem pensamentos diferentes que executivos das duas companhias tinham sobre o mensageiro. A empresa de Mark Zuckerberg, por exemplo, queria monetizar o aplicativo de qualquer jeito e até colocar publicidade dentro do WhatsApp, como ocorre atualmente com o Facebook e Instagram.

Outro ponto que gerou desgaste internamente foi a exigência dos cofundadores do WhatsApp de colocar uma criptografia de ponta a ponta dentro do app - o que atrapalharia planos do Facebook de tornar o WhatsApp rentável. Para Acton, o recurso era fundamental para a privacidade e segurança dos usuários.

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"Era como 'ok, vocês querem fazer essas coisas que eu não quero fazer'. Então era melhor eu sair do caminho. E eu saí", apontou.

Brian Acton deixou o Facebook em setembro de 2017. Ao sair da companhia, o cofundador do WhatsApp renegou US$ 850 milhões em parcelas de ações que ainda não tinham sido completamente adquiridas. Mesmo assim, Acton diz não odiar o Facebook e seus executivos.

"Eles são pessoas de negócios, são boas pessoas de negócios. Eles só representam práticas, princípios e éticas de negócios, que são políticas que não concordo necessariamente", afirmou.

Ao comentar sobre a venda do WhatsApp em negócio que girou em torno de US$ 22 bilhões, Acton foi honesto: "eles fizeram uma proposta que eu não poderia recusar", afirmou, citando frase famosa no filme 'O Poderoso Chefão'.

Brian Acton ainda ofereceu detalhes de bastidores de como era trabalhar no WhatsApp sob a batuta do Facebook. Ele contou, por exemplo, que conversava pouco com Zuckerberg (teve só uma dúzia de reuniões ao longo dos anos) e que o chefão do Facebook tratava o aplicativo como "mais um produto" dentre vários que a companhia possui.

Depois de sair da rede social, Acton investiu US$ 50 milhões no aplicativo Signal, orientado pela segurança das informações - é uma espécie de rival do WhatsApp. Ele ainda doou US$ 1 bilhão para filantropia.

Além de polêmicas com o WhatsApp, o Facebook sofreu mais uma grande baixa nesta semana: fundadores do Instagram, o brasileiro Mike Krieger e o norte-americano Kevin Systrom anunciaram que estão deixando a companhia para serem "mais criativos".

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