O iPhone foi criado para roubar atenção, diz ex-designer da Apple
Um dos assuntos mais debatidos nos últimos tempos é sobre como os celulares podem, em vez de nos ajudar, atrapalhar nossas vidas. Enquanto fatores como distração, dependência e até mesmo problemas de saúde decorrentes do uso exagerado de smartphones entraram em pauta, fabricantes com a Google anunciavam funções que daria um controle maior para os usuários sobre quanto tempo eles passariam usando o celular.
Essa é uma das grandes novidades do iOS 12, da Apple. Agora, o sistema operacional permite que os usuários tenham uma noção melhor sobre quanto e como o seu tempo é gasto usando o seu iPhone, além de criar limitações sobre o seu tempo de uso.
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Engana-se, porém, quem pensa que isso é algo novo: o tema já era discutido dentro da empresa desde o período de desenvolvimento do primeiro iPhone. Por questões de marketing, no entanto, qualquer controle mais aprofundado que não fosse o "Não Perturbe" acabou sendo deixado de lado até a atual versão do sistema operacional do smartphone. O motivo? O aparelho "não ficaria legal".
Quem revelou isso foi o designer Imran Chaudhri, que ocupava o posto de diretor de design do grupo de interfaces humanas da Apple e também foi um integrante do grupo de seis pessoas que projetaram o iPhone.
Em uma entrevista para o site " Fast Company", Chaudhri contou que desde os primeiros momentos que passou com o aparelho ele percebeu que as pessoas teriam problemas com a distração que ele provocava.
Muitos designers que realmente dominam suas áreas podem prever que algumas coisas se tornarão problemas. Ao usar um protótipo do telefone e viver com ele, com amigos de toda a parte do mundo entrando em contato, os barulhos de notificações e a luz que acendia, eu entendi que para coexistir com o aparelho nós precisaríamos de uma ferramenta de controle do seu uso
Imran Chaudhri, ex-diretor de design do grupo de interfaces humanas da Apple
E foi assim que surgiu os primeiros esboços do que seria a função "Não Perturbe".
Chaudhri relata que a adoção de ferramentas que permitissem ao usuário ter mais controle sobre o aparelho foi algo que gerou discussões dentro da Apple. "Era difícil fazer com que as pessoas percebessem que a distração seria um problema. Steve Jobs talvez entendesse isso internamente. Eu acho que talvez não houvesse um consenso entre o quanto de controle nós queríamos que as pessoas tivessem sobre seus aparelhos", diz.
O designer também aponta que havia tendências bem distintas dentro do grupo de desenvolvimento do primeiro iPhone. "Enquanto eu e mais algumas pessoas tentávamos deixar o usuário com mais controle, o pessoal do marketing sempre recuava. Eles diziam coisas como 'você não pode fazer isso porque o aparelho ficaria sem graça'".
Como consequência disso tudo, qualquer controle mais avançado sobre notificações acabou ficando "escondido" em meio às configurações do iPhone. "Pessoas que entendiam o sistema realmente bem poderiam se aproveitar dessas configurações, mas quem mais sofre com o uso exagerado do aparelho é justamente aquelas pessoas que não mudam sequer o toque do aparelho". E, por tabela, não seriam o tipo de pessoa que passaria minutos para ajustar uma configuração do celular.
Mudança forçada
Para Chaudhri, a Apple foi forçada a facilitar o acesso a esse tipo de opção a partir do iOS 12. "A única razão para eles adotarem isso é a reclamação das pessoas", aponta, considerando que a empresa acabou "sem opções" nesse sentido.
É algo legal para todos porque clientes e crianças poderão ter um produto melhor. Será o melhor produto possível? Não, porque as intenções não estão corretas. Há apenas a preocupação de responder a uma repercussão ruim. Se as intenções estivessem corretas, essas soluções partiriam da própria empresa
Imran Chaudhri
Chaudhri, no entanto, diz que esse tipo de situação é algo que faz parte da natureza complexa de se criar um produto em uma empresa grande. "Você tem que atender ao seu consumidor, aos interesses da companhia, ao seu interesse, à sua ética como designer. É algo complicado", afirma.
Por fim, o designer aponta que "é muito fácil criticar a Apple e dizer que eles não estão fazendo a coisa certa", mas que, no fundo, tudo é uma questão de um ato de equilíbrio bastante claro.
"Você até pode argumentar que essas mudanças não são profundas o suficiente. Pessoalmente, eu acho que elas não são. Mas, ao menos, há um movimento na direção correta", conclui.
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