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"Meu WhatsApp foi clonado": como vítima de golpe recuperou conta no app

Helton Simões Gomes

Do UOL, em São Paulo

13/11/2018 04h00

A primeira ligação foi feita por volta das 20h, mas o advogado Cassio Faeddo só pode atender quando saiu da aula de inglês. Do outro lado da linha, um de seus clientes perguntava se deveria transferir os R$ 1.600 pedidos a ele via WhatsApp por Faeddo ou se alguém de sua família teria sido sequestrado. Naquele momento, mal sabiam eles, mas havia, de fato, ocorrido um sequestro; não o de alguém de carne e osso e, sim, o de um meio de comunicação que se tornou quase onipresente nas comunicações entre brasileiros: a conta de WhatsApp usada por Faeddo e sua empresa.

O que dá em você é uma agonia muito grande. Aquele número é comercial

O golpe sofrido por Faeddo tem se tornado habitual. Diferentemente do que ocorreu com ele, as vítimas não percebem que estão sendo lesadas ou só notam o que ocorreu quando já é tarde demais.

Hackers que exploram esse tipo de golpe dispõe de uma variedade de formas de sequestrar ou roubar a conta de alguém no WhatsApp. Recentemente, uma delas fez o governo de Israel emitir um alerta. Os criminosos passaram a assumir perfis no aplicativo de bate-papo por meio do correio de voz.

A modalidade mais recorrente, porém, requer a infiltração de um membro da quadrilha dentro da operadora de celular ou da cooptação de algum funcionário. Foi o que ocorreu com Faeddo.

Advogado Cassio Faeddo, que teve a conta no WhatsApp sequestrada - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Quando finalmente atendeu a ligação de seu cliente, por volta das 22h, o advogado tentou acalmá-lo e garantir que ninguém havia sido sequestrado. A pessoa havia chegado a essa conclusão, porque recebera pedidos de dinheiro incomuns e truncados, disparados por uma conta de WhatsApp usada pelo escritório de advocacia. O número de celular está registrado no nome de Faeddo, mas é usado pela mulher dele e os dois trabalham juntos. Uma das mensagens dizia:

Tenho que pagar uma pessoa hoje, porém o dinheiro está em minhas mãos, se caso você tiver o valor em conta não pode transferir para a pessoa para mim e te devolvo... Tenho que pagar uma amiga

O cliente pensou que o advogado estava sendo coagido pelos criminosos a desmentir a história do sequestro. Só acreditou depois de outra pessoa próxima a Faeddo telefonar para dizer que estava tudo bem.

Tive que colocar minha filha para conversar com ele para ver que nem eu nem ninguém de casa tinha sido sequestrado

A partir daí, passou a se dedicar a resolveu outra dor de cabeça: reassumir sua conta de WhatsApp. Ele diz que, apesar do susto, não foi tão difícil.

O WhatsApp em duas horas resolveu tudo. Mas não tem como falar com eles por telefone. Você tem que passar um email e torcer

Foi o que ele fez: enviou uma mensagem para o support@whatsapp.com, explicando a situação. O aplicativo bloqueou a conta. Ao ligar para a TIM, ele conseguiu bloquear a linha de celular. Dessa forma, evitou que os golpistas continuassem a se passar por ele para pedir dinheiro ou aplicar outros golpes. No dia seguinte, ele foi a uma loja da operadora.

Naquele momento, confirmaram que só com um operador da loja um número consegue ser desabilitado de um CPF, porque você precisa apresentar o documento. E consta na operadora que naquela sexta-feira, às 19h52, meu número foi desabilitado e inserido em um chip de outro celular

Faeddo diz ficar temeroso, pois o comprometimento de boa parte de seus negócios depende de apenas um funcionário de empresa de telefonia ser convencido a participar de um esquema criminoso.

A gente centraliza muitos e muitos clientes naquela conta de WhatsApp. Acredito até que procuram pessoas como advogados que tenham esse tipo de carteira para ter credibilidade para pedir dinheiro. É um risco que, se alguém da operadora recebe algum valor para desabilitar um número, você não imagina o estrago

Depois de reabilitar o número junto à TIM, o advogado conseguiu restabelecer a conta no WhatsApp. Ele descarta a possibilidade de abrir um processo contra a operadora, porque não considera ter havido algum dano moral. "Foi só um transtorno."

WhatsApp: como aproveitar bem seu mensageiro preferido

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Consultada pelo UOL Tecnologia, a TIM informou que, "ao identificar a troca indevida do chip, tomou as ações necessárias para solucionar rapidamente o problema do cliente". A operadora não informou, porém, se iniciou uma investigação da situação para encontrar o responsável.

A operadora afirmou ainda que os clientes devem ter cuidado com o que instalam em seus smartphones. "Vale ressaltar que precisamos ser cuidadosos ao baixarmos e usarmos aplicativos em nossos celulares. As operadoras não têm controle nem responsabilidade legal sobre os conteúdos e transações feitos nesses aplicativos."

Ressaltou também que se coloca "à disposição das autoridades policiais para que investigações sobre fraudes sejam céleres e permitam identificar o quanto antes criminosos que possivelmente lesem as pessoas".

Como evitar

1. Ativar a verificação em duas etapas. Com a dupla proteção ativada, o app vai pedir uma senha de seis dígitos de tempos em tempos. Caso alguém consiga clonar o número de telefone e tente configurar o WhatsApp, vai precisar também saber essa senha. Fica muito mais difícil.

2. Checar onde seu WhatsApp está aberto: Basta ir em Ajustes > WhatsApp Web/Desktop e ver em que dispositivos sua conta está ativa.

3. Prestar atenção em alertas de mudança de código: Ao ativar a exibição de notificações de segurança no WhatsApp, o app irá alertar todas as vezes que o código de segurança de um contato mudar. Isso ocorre quando o celular é trocado ou formatado ou quando o WhatsApp é instalado novamente, ainda que no mesmo aparelho. Se você vir o alerta amarelo, desconfie.

4. Desconfiar de qualquer solicitação de dinheiro: essa é mais uma dica para evitar ser vítima de um pedido de dinheiro feito por alguém que tenha invadido o perfil do WhatsApp de algum conhecido. Duvide sempre que alguém pedir dinheiro ou o envio de dados pessoais pelo app. Tente verificar de outra forma, como ligando para outro número de telefone.