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Tim Cook lidera uma silenciosa revolução cultural na Apple

Tim Cook, CEO da Apple, durante apresentação na sede da empresa em Cupertino, Califórnia - Stephern Lan/Reuters
Tim Cook, CEO da Apple, durante apresentação na sede da empresa em Cupertino, Califórnia Imagem: Stephern Lan/Reuters

Poornima Gupta e Peter Henderson

Em San Francisco

22/08/2013 13h42

Pouco depois de assumir como vice-presidente de operações do Facebook, Sheryl Sandberg estava procurando estabelecer contato com pessoas de igual cargo --o de número dois numa empresa comandada por um jovem fundador brilhante e apaixonado. Ela ligou para Tim Cook.

"Ele basicamente explicou muito bem que o meu trabalho era fazer as coisas que Mark (Zuckerberg) não desejava focar tanto", disse Sandberg a respeito de uma reunião de várias horas com o então vice-presidente de operações da Apple.

"Esse era o seu trabalho com Steve (Jobs). Ele explicou que o trabalho iria mudar com o tempo e que eu deveria estar preparada para isso", disse.

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    Capa da revista americana "Time" do fim de 2012 que escolheu Tim Cook como a pessoa do ano

Enquanto Sandberg manteve as funções no Facebook de lá para cá, o trabalho de Cook mudou radicalmente. Agora, o homem que recebeu uma das tarefas mais assustadoras do mundo dos negócios --substituir Steve Jobs e manter a Apple no topo-- pode ser quem precisa de aconselhamento.

Sob o comando de Cook há dois anos, a Apple deve lançar um iPhone redesenhado no próximo mês. Será um momento-chave para o executivo.

A empresa que ele herdou tornou-se uma criatura muito diferente: uma gigante corporativa madura ao invés de uma pioneira na indústria, com o preço das ações caindo 5 por cento no ano, apesar de uma escalada recente dos papéis. O S&P 500, índice com as empresas mais importantes dos EUA, subiu cerca de 15 por cento no mesmo período.

A transição foi, talvez, inevitável após a Apple viver cinco anos surpreendentes, durante os quais aumentou seu faturamento em mais de seis vezes, elevou os lucros em 12 vezes, e viu o preço das ações saltar de 150 dólares para um pico de 705 dólares no último outono do hemisfério norte.

Mas a passagem tem sido dolorosa para alguns.

Não está claro se Cook conseguirá remodelar com sucesso a cultura construída por Jobs. Embora ele tenha conseguido administrar bem as linhas de iPhones e iPads, que continuam a entregar lucros enormes, a Apple ainda não lançou um novo produto sob sua gestão. Conversas sobre televisões e relógios permanecem sendo apenas conversas.

Alguns temem que as mudanças de Cook na cultura corporativa tenham jogado água no impulso que levava os funcionários a tentar alcançar o impossível.

Perfil

Cook é conhecido como um workaholic que guarda sua privacidade a sete chaves. As pessoas que o conhecem pintam o retrato de um executivo pensativo, orientado por dados, que sabe ouvir e que pode ser engraçado e charmoso.

No dia-a-dia na Apple, Cook estabeleceu um estilo metódico, sem arroubos sem sentido, diametralmente diferente do apresentado pelo seu antecessor.

Ainda assim, ele tem um lado difícil. Em reuniões, ele é calmo e costuma ficar sentado em silêncio com as mãos postas diante de si mesmo. Qualquer alteração no balanço constante de sua cadeira é um sinal para os subordinados: quando ele simplesmente escuta, eles ficam atentos para ver se não há mudança no ritmo do balanço.

"Ele pode espetá-lo com uma frase", disse uma fonte com familiaridade das discussões. "Ele diria algo na linha de 'eu não acho que é bom o suficiente' e esse seria o fim de tudo, e você ia querer apenas cavar um buraco e morrer", afirmou. A Apple se recusou a comentar sobre Cook.

Alguns recrutadores do Vale do Silício e ex-funcionários da Apple em empresas rivais dizem que estão vendo mais currículos da Apple do que nunca, especialmente de engenheiros de hardware, embora a profundidade e a amplitude de qualquer fuga de cérebros seja difícil de quantificar, especialmente com a recente expansão do número de funcionários.

Ainda assim, o regime Cook também é visto como amável e gentil, uma mudança bem-vinda para muitos.

"(O ambiente) não é tão louco quanto costumava ser. Não é tão draconiano", disse Beth Fox, consultora de recrutamento e ex-funcionária da Apple, acrescentando que as pessoas que ela conhece permanecem na companhia. "Elas gostam de Tim", disse.

Os acionistas, enquanto isso, concentram-se nos números da empresa e no próximo grande lançamento de produto. A queda acentuada na receita na China no segundo trimestre reforça os desafios que a Apple enfrenta em seu segundo maior mercado à medida que o hiato tecnológico com as rivais locais diminui, e a com a Samsung mantendo um ritmo regular de lançamento de novos modelos, em todas as faixas de preço.