Séculos atrás, um menino no Japão estava se preparando para uma longa jornada. “Você precisará de muita água para beber”, disse seu mestre. “Construa um barril que recolha a água da chuva.” Após uma rápida corrida ao Pagode Depot para suprimentos, o menino construiu um barril grande, aberto no topo. Quando choveu, o barril ficou rapidamente cheio.
“Bom”, disse o mestre. “Agora arrume a trouxa.”
“Mas mestre”, protestou o menino. “O barril é grande e pesado demais para levar na minha jornada – ele nem mesmo se qualifica como bagagem de mão! Eu preciso de um recipiente menor e mais leve!”
A Sony apresentou outro passo a frente de cair o queixo na corrida sensor grande/câmera pequena: uma máquina minúscula chamada Alpha NEX-5
“Uma sábia observação”, disse o mestre.
“Mas”, disse o menino, “um recipiente menor significa uma abertura menor, que não coletará tanta chuva”.
O mestre concordou de novo. “Excelente, meu filho”, ele disse. “Agora você entende a diferença entre as câmeras SLR digitais e as câmeras de bolso. A SLR é grande e pesada, mas tem um sensor enorme que capta mais luz; você pode obter fotos nítidas mesmo no crepúsculo. A câmera de bolso tem um sensor minúsculo que borra as imagens em baixa luminosidade; mas pelo menos você não terá um problema de coluna a carregando de um lado para outro.”
E por séculos, assim permaneceu. As pessoas podiam comprar uma câmera grande com sensor grande, ou uma câmera minúscula com um sensor minúsculo.
Então, em 2008, a Panasonic e a Olympus repensaram todo o problema. Elas produziram um novo formato de câmera chamado Micro Four Thirds. O tamanho dessas câmeras, e de seus sensores, é intermediário entre uma compacta e uma SLR, e elas agitaram a comunidade fotográfica.
Outras empresas de câmeras foram claramente, digamos, inspiradas pela ideia. Em março, a Samsung relançou uma nova híbrida própria, a NX10, com um sensor cerca de 60% maior do que a Micro Four Thirds. É do mesmo tamanho – conhecido como APS-C – que o encontrado em uma SLR real como a Canon Rebel ou a Nikon D90.
Na semana passada, entretanto, a Sony apresentou outro passo a frente de cair o queixo na corrida sensor grande/câmera pequena: uma máquina minúscula chamada Alpha NEX-5. Ele só será lançada em julho, mas pode valer a pena esperar.
Como a Samsung, a NEX-5 contém um sensor APS-C – incrível. Mas esta câmera é incrivelmente, insanamente, pequena. Ela tem metade do peso e volume de uma pequena SLR; na verdade, sem as lentes, ela é aproximadamente do tamanho de uma câmera de bolso comum (11 X 6 X 4 centímetros – apenas 2,5 centímetros mais grossa, exceto no volume da empunhadura). O cilindro da lente é na verdade mais alto do que a própria câmera.
De qualquer forma, ela é a menor câmera com lentes intercambiáveis do mundo. Com as lentes colocadas, a minúscula NEX-5 tem uma aparência um pouco bizarra – até mesmo ridícula, como uma placa traseira para as lentes. Mas mantenha a mente aberta; ela ainda é boa de segurar.
Agora, para deixá-la tão pequena, a Sony teve que cortar e apertar. Assim como a maioria das outras híbridas, esta não possui flash embutido e nem visor óptico. (Um minúsculo flash de encaixar vem com a câmera e um visor óptico que funciona com as lentes-padrão custará cerca de US$ 200 e estará disponível em julho.)
Com as lentes colocadas, a minúscula NEX-5 tem uma aparência um pouco bizarra – até mesmo ridícula, como uma placa traseira para as lentes
E há espaço para apenas seis botões, em comparação a cerca de 25 em uma SLR. Mas a câmera oferece a maioria dos controles de uma SLR típica de consumo, mais algumas ótimas funções para amadores.
O preço é o certo: US$ 600. Ou você pode economizar US$ 100 e pegar uma NEX-3, que tem um corpo plástico em vez de metálico. Por esse preço você tem lentes de 16 milímetros sem zoom (equivalente a 24 milímetros em filme). Na câmera, esta lente é chata o suficiente para caber no bolso de um casaco, mas cuidado com certa distorção nas bordas da imagem. Por mais US$ 50 você pode comprar ambas as câmeras com lente de 18-55 mm (zoom 3X). Uma lente de 18-200 mm (zoom 11X) estará disponível no último trimestre por cerca de US$ 800.
Com um adaptador, é possível usar qualquer uma das dezenas de lentes Alpha existentes para SLR da Sony – mas elas são muito maiores e, nessas câmeras, não realizam foco automático.
As fotos são fantásticas: grandes, brilhantes, nítidas, com cores verdadeiras e o tipo de fundos levemente desfocados que não são possíveis de obter com câmeras de bolso.
Esta câmera é uma superestrela da baixa luminosidade – não apenas por causa de seu sensor muito grande, mas também porque herda, da linha de câmeras de bolso da Sony, o inteligente modo Handheld Twilight. A câmera dispara rapidamente seis fotos, então as compara (aprendendo quais pixels fazem parte da cena e quais são manchas aleatórias) para produzir uma única foto limpa. Resumindo, você raramente precisa daquele flash.
A NEX-5 também herda outras funções da linha de bolso da Sony. Uma é o Smile Shutter: a câmera dispara automaticamente quando o sujeito sorri. Outro é o incrível Sweep Panorama. Você move a câmera em um arco – horizontal ou vertical – e dois segundos depois, a câmera exibe uma foto panorâmica finalizada, colada junto, de 220 graus e 23 megapixels.
A NEX-5 também grava ótimos vídeos em alta definição 1080i (720p na NEX-3), graças aos microfones estéreo, uma escolha de lentes e aquele sensor imenso. Na verdade, as câmeras NEX ajustam continuamente a exposição e o foco enquanto você está filmando. Nós consideramos isso algo certo em uma câmera de vídeo ou mesmo em uma câmera de bolso, mas é algo terrivelmente difícil para os fabricantes de lentes intercambiáveis. (A muito maior Lumix GH1 da Panasonic, de US$ 1.500, consegue fazê-lo, mas apenas com uma lente em particular.)
Mais o que amar: a tela brilhante de três polegadas abre para cima ou para baixo, de forma que você pode fotografar acima ou abaixo do nível dos olhos. (A propósito, ela não vira para frente, para autorretratos.) A câmera realiza o foco mais rapidamente que suas rivais híbridas e até mesmo que algumas SLRs.
Mais dolorosamente, não há botão físico de modo. Para passar do modo automático para um modo de cena, você busca o comando em um dial na tela
A taxa máxima de “burst” (rajada) é de sete fotos por segundo – excelente para esportes, natureza e variações de um sorriso. Um modo “Auto HDR” combina três fotos em uma, para uma maior amplitude dos tons claros e escuros do que uma única foto poderia capturar sozinha.
No modo Auto, a movimentação do anel foca ou desfoca visivelmente o fundo de forma que você pode ajustar a profundidade de campo que você quiser. Muito legal.
No geral, a Sony está em seu elemento aqui, explorando anos de experiência em miniaturização e óptica. A NEX-5 seria uma recomendação fácil, especialmente como sua primeira câmera de lentes intercambiáveis – mas há um grande advertência: poucos botões significa muitas visitas ao sistema de menu.
Bem, a Sony redesenhou completamente os menus, de modo inteligente; a câmera usa teclas “soft” com nos celulares – dois botões ao lado da tela cujas funções mudam juntamente com as legendas na tela. Mas isto faz parte da escola iPhone de design: fácil de aprender, ineficiente de navegar.
Mais dolorosamente, não há botão físico de modo. Para passar do modo automático para um modo de cena (como Panorâmica ou Macro), você busca o comando em um dial na tela – o que equivale a apertar seis vezes o botão. Ajuste da sensibilidade à luz? Apertar seis vezes o botão além de virar o controle dial. Passar para foco manual? Apertar 11 vezes. Cansa rapidamente.
De modo semelhante, no modo playback, você não consegue ver fotos e vídeos juntos. Passar de um para outro exige apertar seis vezes o botão. Além disso, a Sony está inventando um novo formato de câmera/lente aqui – e a Sony não tem um grande retrospecto com novos formatos. Lembra do Betamax? Memory Stick? Atrac? (Eu também não.)
A Sony diz que não teve escolha. Nenhuma lente existente possuía estabilização embutida, um motor completamente silencioso (para proteger a trilha sonora de seu vídeo) e foco automático mesmo durante gravação de vídeo.
O mercado de câmeras híbridas ainda é jovem. A Micro Four Thirds ainda é um padrão bebê (apenas duas empresas), a Samsung possui apenas uma câmera. O híbrido da Sony é de modo geral superior a ambos.
E agora, de volta à parábola: no final, o menino começou a atravessar o Japão com um minúsculo frasco de água nas costas.
O mestre ficou perplexo. “Mas você morrerá de sede, meu filho!”
O menino sorriu e continuou caminhando. “Eu não estou muito preocupado com isso, velho. A tecnologia consegue tornar todas as coisas possíveis.”
Tradução: George El Khouri Andolfato