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Windows Phone 7 tem problemas, mas traz promessas; confira teste

Usuário mexe no smartphone Focus, da Samsung, com o sistema Windows Phone 7, da Microsoft - Spencer Platt/GettyImages/AFP
Usuário mexe no smartphone Focus, da Samsung, com o sistema Windows Phone 7, da Microsoft Imagem: Spencer Platt/GettyImages/AFP

DAVID POGUE

Do The New York Times

28/10/2010 10h14

O que a Microsoft tem em mente, ao lançar agora, em 2010, o seu concorrente do iPhone?

Será que ela não percebe que a Apple conta com uma vantagem de três anos, 70 milhões de telefones vendidos e 300 mil aplicativos? E que no caso do sistema operacional Android para telefones celulares do Google essa vantagem é de dois anos, 30 milhões de telefones comercializados e 100 mil aplicativos?

E será que a Microsoft acredita de fato que o mundo necessita de mais um telefone celular multitoques retangular, preto e cheio de aplicativos?

Bem, a resposta à última pergunta é sem dúvida alguma sim. O Windows Phone 7 é um novo software que a Microsoft deseja que seja instalado em novos telefones celulares de vários fabricantes e redes de telefonia celular. Eu experimentei o Windows Phone 7 nos quase idênticos Samsung Focus (AT&T), HTC Surround (AT&T) e HTC HD7 (T-Mobile). Estes aparelhos serão lançados no mercado nas próximas semanas por US$ 200 (R$ 344; com um contrato de dois anos).

O que o Phone 7 tem de pior
O nome “Windows Phone 7” é duplamente enganoso. Primeiro, ele não é Windows. Ele não tem a aparência do Windows, não funciona como o Windows, não aceita programas para o Windows, e sequer exige um computador pessoal com o sistema operacional Windows (há um programa semelhante ao iTunes para baixar músicas e vídeos para o telefone, mas ele só está disponível para Mac e Windows).

Segundo, ele não é nenhum “número 7”. Esse número sugere apenas uma certa relação com o Windows Mobile 6.5, o último projeto da Microsoft na área de software. Um projeto corporativo, limitado e complicado. Não. O Windows Phone 7 é sem dúvida um lançamento 1.0.

Isso pode soar como uma crítica. E “1.0” significa de fato que o Windows Phone 7 carece de uma lista embaraçosamente longa de recursos que são padrão no iPhone e no Android.

Por exemplo, não é possível copiar e colar. Não há pastas para a organização de aplicativos. Não há como adicionar novos tons de chamada ou enviar vídeos para outros telefones celulares como mensagens MMS. Não dá para fazer chats de vídeo. Não há uma câmera frontal.

E também não há como fazer multitarefas. O usuário pode reproduzir as suas músicas enquanto trabalha em outros programas, mas, por exemplo, ele não terá como ouvir a ferramenta musical Pandora.

Isso parece familiar? São esses precisamente os recursos que não existiam também no iPhone 1.0. Além do mais, o aparelho conta com um botão de buscas, mas não dá para fazer buscas no telefone inteiro de uma vez só (por aplicativos, contatos e e-mails, simultaneamente, por exemplo). Não há uma caixa visual de mensagens de voz. E tampouco há uma opção de tethering (na qual o usuário paga um adicional de US$ 20 por mês para usar o telefone como uma antena de Internet para o seu laptop).

Assim como o iPhone, o navegador de Web não reproduz vídeos em Flash na Web – mas ele também não reproduz vídeos em HTML5, como o iPhone, ou sequer vídeos no próprio formato Silverlight da Microsoft. Assim, não há YouTube, Hulu ou telenotícias online.

O programa de e-mail não é capaz de unificar as suas contas de e-mail em uma única caixa de mensagens. Na verdade, cada conta de e-mail é representada como um ícone separado na tela inicial. Não há lista de mensagens.

O calendário pode ser sincronizado com calendários online como o do Yahoo ou do Google. Mas, incrivelmente, ele só consegue mostrar uma categoria de cada vez, como casa ou trabalho. Se você tiver usado códigos de cores para designar as suas tarefas diárias, esse recurso será inútil.

A agenda de contatos padece do problema oposto: ela mostra todo mundo que faz parte de todas as suas contas, incluindo o Facebook, em uma única lista longa. Se você tiver centenas de amigos no Facebook, eles congestionarão a lista de pessoas para as quais você telefona com frequência (não existe nenhuma integração com o Twitter; somente um aplicativo distinto).

O que o Phone 7 tem de melhor
A Microsoft tem diante de si uma lista bem longa de tarefas a serem feitas. Mas ninguém sabe o que acontecerá, porque se existe uma companhia que é famosa pela forma lenta, evasiva, complicada e multimilionária como aborda a questão da melhoria de seus softwares, essa companhia é a Microsoft. A companhia jura que fará do Windows Phone 7 um adversário à altura dos concorrentes. Pelo menos dá para acreditar que a Microsoft não acabará com o projeto inteiramente após apenas dois meses de lançamento, como ela fez com os telefones celulares Microsoft Kin no último verão do hemisfério norte.

Mas o fato de o Windows Phone 7 ser uma versão 1.0 também tem aspectos positivos. Ele consiste em uma reformulação completa da maneira de projetar softwares para telefones celulares com aplicativos. De alguma maneira, a Microsoft foi capaz de concluir a inconcebivelmente difícil tarefa de apresentar um novo, alegre e bonito software que não se parece nem um pouco com o iPhone ou o Android.

A tela inicial do Windows Phone 7 não possui ícones de aplicativos regularmente espaçados em telas iniciais múltiplas colocadas lado a lado, como ocorre no Android e no iPhone. Em vez disso, o que se vê são duas colunas de faixas retangulares deslizantes multicoloridas. Cada uma delas representa um aplicativo, um contato para discagem rápida (speed-dial), uma webpage favorita, uma lista de músicas – e tudo o que o usuário lá inserir. Elas são fáceis de se rearranjar, organizar e remover (ainda bem que a Microsoft permite que companhias de telefonia celular, como a AT&T e a T-Mobile, instalem os seus próprios junkwares. Pelo menos o usuário pode apagá-los no primeiro dia de uso).

Essas grandes faixas retangulares, de fácil manipulação com os dedos, são também informativas. Um número em uma delas informa ao usuário quantas mensagens de voz e de e-mail, bem como atualizações de aplicativos, estão pendentes. A faixa deslizante de músicas mostra capas de álbuns, a de calendário identifica o seu próximo encontro, e assim por diante.

E há muitas outras ideias novas e inteligentes. Em qualquer telefone Windows Phone 7, há um botão exclusivo para câmera – e você pode tirar fotos mesmo quando o próprio telefone está desligado –, um recurso fantástico. Você pode personalizar o telefone de forma que ele baixe automaticamente fotografias do Facebook ou do Sky Drive da Microsoft no momento em que tirar essas fotos.

É possível usar a voz para discar, fazer buscas no Bing.com ou abrir aplicativos. Infelizmente, não é possível digitar com a voz, conforme ocorre no iPhone (com o aplicativo gratuito Dragon Dictation) ou no Android (o recurso já vem instalado).

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    HTC Surround 7 vem com o Windows Phone 7. O aparelho vem com um sistema "Dolby Surround'

Vários aplicativos são “hubs” - programas mais ambiciosos de várias telas, como Pictures, People ou Office. Como é que o usuário sabe que é possível varrê-los da tela para visualizar o próximo painel? Porque ele visualiza a borda da próxima “página” saindo da borda da tela. Um recurso inteligente.

Escrever textos é uma tarefa rápida e precisa, graças em parte à lista de sugestões de autocompletar que aparece logo acima do teclado de tela. Dê um toque em uma sugestão para poupar bastante trabalho com digitação.

Até mesmo a tela de segurança foi visitada pela “Fada das Boas Ideias”. Sem sequer ativar completamente o telefone, o usuário consegue ver a data e a hora, o próximo compromisso e quantas mensagens estão à sua espera (e-mail, mensagem de voz e textos).

Diferenciais do sistema
Tudo bem, o Windows Phone 7 é tão rápido e alegre quanto os seus rivais. Mas pensem no universo de relógios despertadores, carregadores, aplicativos, acessórios e até mesmo carros que são compatíveis com o iPhone. O que a Microsoft tem a oferecer que seja capaz de persuadir alguém a se tornar um iconoclasta do Windows Phone 7?

Três coisas. Primeiro, o Microsoft Office. Um telefone Windows Phone 7 vem com Word, Excel e PowerPoint. Mesmo assim, considerando-se que o Office deveria ser o ponto forte da Microsoft, estes programas vêm estranhamente mutilados. Não é possível sequer modificar uma fonte no Word, e tudo o que se pode fazer no PowerPoint é editar caixas de texto; não dá para criar um novo arquivo. Os aplicativos do Office disponíveis para iPhone e Android são mais poderosos.

Segundo, o Zune. Caso você não seja uma das seis pessoas que compraram um destes aparelhos, o Zune é o rival do iPod feito pela Microsoft. Ele foi um fracasso, mas o seu software é elegante, a sua loja online é rica e social, e o plano de US$ 15 dólares (R$ 25,80) por mês, que dá direito a tudo o que se quiser ouvir, transforma o telefone Windows Phone 7 em um rádio de bolso para reprodução de música por demanda.

Finalmente, o Xbox. Se você tem um console de videogame Xbox, as suas estatísticas e avatares (um ícone que aparece na tela) aparecerá no telefone, e uma vasta gama de jogos interativos encontra-se disponível.

A Microsoft estabelece especificações mínimas referentes a hardware para as companhias que fabricarão os telefones Windows Phone 7, de forma que elas fabriquem um material com a qualidade necessária. O software responde aos toques de maneira fluida e sem esforço, com cintilações animadas que jamais atrapalham o usuário.

Mas, no que se refere à duração da carga da bateria, a história é diferente. Assim como ocorre com telefones celulares similares, você terá que carregar esses primeiros telefones Windows Phone 7 todas as noites. E cuidado com o modo standby; esses aparelhos sugam energia tão rapidamente durante à noite que você poderá achar que há um buraco na bateria.

É impressionante o fato de a Microsoft ter desempenhado tão bem a parte difícil: a companhia criou uma abordagem verdadeiramente nova para gerenciar um telefone de aplicativos dotado de 17 gazilhões de recursos que são divertidos de usar, precisos e atraentes.

Obviamente, a Microsoft ainda tem muito trabalho a fazer quanto a esse sistema, e será necessário muito tempo ainda até que a sua loja virtual ofereça uma seleção decente de aplicativos. A companhia pretende disponibilizar atualizações gratuitas de softwares à medida que for tapando os buracos. Ou seja, por ora, este pode não ser o telefone celular que você deseje comprar.

Mas ele é sem dúvida alguma um telefone que você terá prazer em olhar. 

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    Sistema operacional móvel da Microsoft permite integração com recursos da rede Xbox Live