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Web para TV: mais um novo dispositivo cheio de problemas

O OrbTV pega programas de televisão disponíveis na internet e os leva para a TV de casa - Divulgação
O OrbTV pega programas de televisão disponíveis na internet e os leva para a TV de casa Imagem: Divulgação

David Pogue

Do The New York Times

07/12/2010 12h11Atualizada em 07/12/2010 12h12

Não seria esse um cenário milagroso?

O Orb TV utiliza uma conexão sem fio para coletar programas de TV transmitidos pela Web do seu computador de forma que você possa assisti-los no seu televisor.

Após o jantar, a pessoa senta-se no sofá para assistir a um pouco de televisão. Mas ela na verdade não se importa com a programação que está passando no momento. Em vez disso, ela pega o telefone celular e nele examina uma lista de todos os programas exibidos na televisão no mês passado. Ela dá um toque com o dedo na tela, sobre o programa que deseja, coloca o telefone celular de volta no bolso e, feliz da vida, coloca os pés sobre a mesinha de café enquanto o programa é exibido no televisor.

Subitamente a Internet tornou-se o TiVo pessoal - o maior do mundo. Todo programa disponível em qualquer parte da Web é listado no telefone celular, pronto para ser transmitido para o televisor com um toque de tela no celular. E tudo isso é de graça.

Esta, acredite ou não, é a promessa do Orb TV (US$ 100/R$ 170), um aparelho semelhante a um pequeno disco plástico de hóquei que é conectado ao televisor. Não é preciso entender como o aparelho funciona, mas, basicamente, ele usa o computador do usuário (com o qual está conectado por rede Wi-Fi) para capturar programas de TV na Web – e a seguir enviá-los para o televisor.

Que ideia interessante! Não é mais preciso pagar por programas de televisão por episódio, conforme ocorre com a caixa Apple TV. O usuário não fica mais sem acesso ao Hulu ou às principais redes de TV aberta (ABC, CBS, NBC, Fox), conforme ocorre no caso do Google TV e do Boxee. Na busca interminável de formas de transferir programas de TV da Web para a tela ampla do seu televisor, o Orb TV parece ser a melhor tecnologia disponível até o momento.

Qualquer programa de qualquer fonte da Web, listado no meu telefone celular, pronto para ser transmitido no meu televisor? Não é que eu apenas adore o Orb TV. Eu seria capaz de pegá-la no colo e me casar com ele.

Problemas do Orb TV

Infelizmente, o conceito teórico do Orb é bem melhor do que a sua execução prática.

Primeiro, você abre a caixa e descobre que não há nenhum manual. O aparelho vem com um diagrama que mostra como fazer as conexões, mas isso é tudo. Nem uma palavra de instrução.

  • Divulgação

    Por meio de um aplicativo para iPhone, é possível assistir os programas de TV no smartphone

Inacreditável, não? Afinal, não estamos falando de uma lanterna. E nem de um pandeiro. Este é um dispositivo complexo que exige a instalação de um programa no seu Mac ou PC, o download de um outro para o seu iPhone ou telefone celular Android, a conexão do aparelho Orb com a sua rede Wi-Fi, a conexão com o seu televisor, a transferência do cabo de USB do seu computador para a tomada de energia, a criação de uma conta – não é uma tarefa fácil. E a companhia simplesmente deixa o usuário à deriva.

Não é necessário um título de MBA para se perceber que a omissão de instruções é uma péssima medida empresarial. A empresa pode economizar 11 centavos por caixa, mas ela terá que pagar um preço 20 vezes maior devido aos telefonemas para fornecimento de suporte técnico.

Ou talvez não: a Orb Networks, que fabrica o dispositivo, não aceita telefonemas solicitando suporte técnico. É possível enviar e-mails para ela ou manter um chat ao vivo com um funcionário prestador de ajuda (se você conseguir falar com alguém durante as quatro horas por dia em que esses técnicos estão disponíveis – de 18 às 22 horas, horário da costa leste dos Estados Unidos). A companhia poderia muito bem ter tatuado “Adeus, idiotas”, na testa.

De qualquer forma, se você for persistente, cedo ou tarde encontrará o manual no site orb.com. Lá, você encontrará as 22 páginas sobre a instalação (executada em 29 passos).

Veja vídeo feito por David Pogue, do "The New York Times", com teste da OrbTV

Usabilidade e imagens de baixa qualidade

Quando a instalação for concluída, você estará pronto para usar o aparelho. O aplicativo do telefone celular permite que você examine a lista de programas disponíveis por gênero ou pelo critério “Mais Popular”, por nome de programa ou simplesmente procurando em uma grande lista principal. É formidável: você não tem que se preocupar com que rede de televisão produziu o programa nem com o website do qual ele veio. Tudo o que importa é aquilo que você deseja assistir neste momento.

Quando você dá um toque no nome de um programa na tela do seu celular, surge um botão com a inscrição “Play Now” (“Reproduzir Agora”). Aliás, por que esse passo de confirmação é necessário? Por que outro motivo alguém daria um toque no nome de um programa? A seguir, após cerca de dez segundos, o programa começa a ser reproduzido no seu televisor.

Mas é aí que têm início as duas decepções com o Orb. Primeiro, a qualidade do vídeo é simplesmente terrível. A imagem é “lavada”, pobre em detalhes e resolução, e fica pequena na tela do televisor (pelo menos no meu), deixando uma grande margem preta ao lado (estranhamente, não há sequer uma conexão HDMI do Orb para o televisor – apenas cabos tradicionais). A companhia diz que está trabalhando no sentido de obter alta definição. Mas, por ora, a definição é muito precária.

Segundo, a lista de programas é um grande engodo. Quando você dá um toque em “Family Guy”, por exemplo, surge uma lista de todas as nove temporadas da série. Mas se o usuário der um toque em qualquer uma temporada que não seja a mais recente, ele deparar-se-á com uma mensagem de erro: “Sentimos muito, essa temporada não está disponível no momento”. Isso acontece seguidamente. Com todos os programas.

Agora, o fato de os programas mais antigos não estarem disponíveis não é de fato culpa do Orb; o aparelho só pode exibir aquilo que se encontra de fato nos sites do Hulu e das redes de televisão (bem como ESPN3, Comedy Central, YouTube, Dailymotion e Netflix Watch Instantly). Mas se eles realmente lamentam este problema, deveriam simplesmente ocultar os programas que o usuário não pode de fato assistir, em vez de alimentar as nossas esperanças e nos fazer perder tempo (a companhia concorda. Ela diz que uma atualização de software corrigirá esse problema no final deste mês).

Às vezes os programas congelam permanentemente. Alguns paralisam o funcionamento da caixa, que tem que ser reiniciada. Outros apresentam uma imagem descontínua ou trazem a identificação errada, e há ainda aqueles que simplesmente não podem ser reproduzidos.

Alguns episódios do programa “60 Minutes” simplesmente não podem ser exibidos. Se tentarmos, nos depararemos com uma mensagem que diz, “Você ainda deseja mais programa de notícia da CBS? Clique em Reiniciar!”. Uhmm, usando que mouse? Estamos falando de um televisor. Como é que clicaríamos em Reiniciar? (“Temos certos problemas com alguns programas”, admite a companhia. “Nós os resolveremos nas próximas semanas”).

É possível também usar o seu telefone celular para reproduzir imagens que estão no seu Mac ou PC, no iTunes ou em pastas que você especifica. Esse material é perfeitamente reproduzido – com a exceção, é claro, daquilo que está protegido por direitos autorais. É verdade, programas e filmes que você comprou no iTunes – exatamente aqueles arquivos que você mais deseja assistir no seu televisor – não têm como serem reproduzidos. É possível também reproduzir músicas e fotografias do seu computador no televisor. Nenhum problema quanto a isso.

Conclusão

Assim, o Orb TV não é exatamente aquilo que poderíamos chamar de um produto refinado. Assim como a maioria das caixas para transferência de vídeos da Web para o televisor, ele é cheio de problemas e inconsistente.

Porém, trata-se de uma tentativa que tem seus méritos. A capacidade do aparelho de exibir todos aqueles programas fantásticos do Hulu no nosso televisor é engenhosa.

A companhia responsável pelo Hulu quer que o usuário pague US$ 8 (R$ 13,60) por mês para assistir aos seus programas gratuitos da Web no seu televisor. É por isso que a maioria das caixas de transferência e telefones não pode reproduzir programas do Hulu – a companhia bloqueia a reprodução gratuita em qualquer outro dispositivo que não seja um computador. O artifício do Orb para driblar isso é usar o seu computador como intermediário (Às vezes, quando um programa tem início, você vê de fato o botão “Play” do Hulu “clicado” pelo software robô invisível do Orb).

Mas esse é o grande problema com o Orb e todos os produtos similares de transferência da Web para televisores: eles são essencialmente “hacks”, ou “jeitinhos”. O objetivo deles é enganar as redes de TV e o Hulu, que não querem que nós assistamos aos programas da Web nos nossos televisores.

O motivo pelo qual eles não desejam isso, é claro, tem a ver com propagandas; no modelo tradicional, as empresas que fazem propaganda querem os que seus comerciais sejam exibidos em determinado horário, em determinadas áreas geográficas e assim por diante. As redes de TV e o Hulu exibem propagandas diferentes, mais curtas e objetivas quando você está assistindo a programas online. Exibi-los no televisor é algo que violaria os acordos de propaganda.

A solução do problema, no entanto, não consiste em impedir que os programas da Web sejam reproduzidos no seu televisor. Primeiro, conforme o Orb demonstra, existem formas de burlar esse bloqueio. Segundo, o que atualmente é um televisor? Os aparelhos de televisão estão se transformando em computadores, e os computadores em televisores. A linha divisória é indistinta, e o bloqueio de dispositivos eletrônicos parece ser cada vez mais arbitrário.

Não, a solução é sentarmo-nos com os executivos de televisão e os publicitários e encontrarmos uma maneira de fazer com que os programas da Web se paguem, independentemente do dispositivo em que eles estiverem sendo reproduzidos. Isso faria infinitamente mais sentido. E significaria que mais dispositivos como o Orb poderiam ser mais refinados e tornar-se bem menos “clandestinos”. Nós poderíamos assistir a programas de televisão em qualquer dispositivo, e as redes poderiam ganhar mais dinheiro. Todo mundo sairia ganhando.