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Deixar o tablet com as crianças ou não? Colunista conta sobre vício do filho no iPad

Tablet da Apple tem uma série de aplicativos educativos, que podem ser utilizados por crianças - Divulgação
Tablet da Apple tem uma série de aplicativos educativos, que podem ser utilizados por crianças Imagem: Divulgação

DAVID POGUE

Do The New York Times

25/02/2011 13h06

Eu acho que o meu filho de seis anos de idade está viciado em iPad.

Ele pede o aparelho constantemente. Deseja usá-lo no carro. Quer usá-lo em todo momento não programado dentro de casa. Ele traz o iPad para a mesa de jantar.

Quando eu digo a ele que é hora de desligar o iPad e ir para a cama, ou de calçar os sapatos, ou de ir para o ponto do ônibus escolar, ele não me ouve nas três primeiras vezes que eu falo. Às vezes, ele é tomado por uma irritação bizarra quando eu digo que tenho que tomar o aparelho imediatamente. Uma irritação despropositada. É isso que me faz pensar que ele está viciado.

E, acreditem, depois que li a série do “New York Times” sobre os efeitos fisiológicos de produtos eletrônicos nas mentes jovens, eu estou bastante preocupado.

Agora, antes que vocês comecem a me mandar uma série de e-mails do tipo “pai ruim”, vou garantir o seguinte: eu descrevi o que o meu filho deseja, não o que ele consegue obter. Nós temos certas políticas em vigor. E, nesta família, os dois irmãos mais velhos formam um bloco (os dois mais velhos têm 13 e quase 12 anos de idade) e, a seguir, existe uma grande lacuna de idade. Portanto, pode ser difícil encontrar atividades, jogos ou conversações que envolvam todos os três simultaneamente.

O iPad é uma babá eletrônica mágica que cria uma paz instantânea na casa. Se vocês me disserem que jamais, nem mesmo ocasionalmente, se sentiram tentados a entregar o iPad a um filho, eu duvidarei dessa afirmação.

O que faz com que os meus sentimentos em relação a esse assunto sejam ainda mais complicados é o fato de que, em geral, o meu filho de seis anos não está jogando videogames imbecis. Ele não tem permissão para usar jogos violentos. Em vez disso, ele é encorajado a jogar com aplicativos criativos – e, na maioria das vezes, é isso o que ele faz.

Ele passa horas, por exemplo, jogando com os Puppet Pals, um magnífico aplicativo gratuito que permite que o usuário crie desenhos animados. Você escolhe um cenário de fundo – digamos, o Velho Oeste, ou um navio pirata. A seguir, você arrasta personagens recortados com os dedos; você pode movê-los para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo ou para frente e para trás (eles ficam menores quando você os move para longe).

O próprio usuário cria o diálogo. O aplicativo grava tudo o que você faz, tanto o áudio quanto os movimentos dos personagens. Mais tarde, a criança pode mostrar o conjunto todo em movimento para o pai orgulhoso. Sim, o meu filho de seis anos está criando os seus próprios desenhos animados.

Ele também adora o EasyBeats, um aplicativo musical no qual você insere uma trilha instrumental de cada vez. Ele constrói ritmos complexos, uma camada de cada vez.

Mas então, como é que aplicativos como esses podem ser ruins para uma criança? Seria isso realmente muito diferente de jogar com recortes de papel? Ou blocos? Ou um conjunto de tambores de brinquedo?

Quando está jogando, ele sente-se mais atraído por jogos como Cut the Rope (um jogo de raciocínio, baseado na física) ou Rush Hour (problemas de estratégia). Até mesmo o Angry Birds envolve algum tipo de raciocínio. É necessário planejar com antecedência e calcular os recursos de forma inteligente.

Antigamente, nós costumávamos reclamar do tempo que as crianças passavam em frente à televisão – mas os pais geralmente abriam uma exceção para programas educacionais como “Sesame Street” e “Between the Lions”. Mas como é que isso é diferente? Não deveríamos abrir exceções para aplicativos criativos e baseados na solução de problemas?

Em outras palavras, eu tenho pensado muito ultimamente. Seria um aparelho desse tipo automaticamente nocivo para os nossos filhos simplesmente pelo fato de ser eletrônico? E se ele estimular um amor pela música, uma afinidade pelo teatro e proficiência em estratégia e resolução de problemas? Seria ruim para uma criança gostar tanto de exercícios mentais? Estaria eu sendo realmente um bom pai por retirar essa diversão do meu filho?

Por ora, eu estou tentando aplicar o mantra: “Moderação em todas as coisas”. Enquanto o iPad for usado como parte de uma dieta equilibrada que contém mais atividades físicas e não eletrônicas, eu acho que o meu filho provavelmente estará bem.

Mas eu adoraria ouvir as opiniões dos leitores – sem julgamentos – a respeito desses comentários.