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Fones de ouvido "isolam" usuário ao reduzir ruído externo; leia teste com modelos

Fone de ouvido QuietComfort 15, da americana Bose, cancela bem os ruídos externos - Divulgação
Fone de ouvido QuietComfort 15, da americana Bose, cancela bem os ruídos externos Imagem: Divulgação

David Pogue

Colunista do The New York Times

24/01/2012 06h00

Nos velhos tempos, ninguém precisava de muita coisa para desfrutar de uma viagem aérea: óculos de proteção contra o vento, um biplano confiável e uma música no coração. Mas atualmente a lista de equipamentos é um pouco maior: bagagem de mão, um travesseiro cervical e uma máscara de dormir. Isso para não mencionar outros objetos que se adequam às normas da Administração de Segurança de Transportes dos Estados Unidos: mocassins, pasta dobrável para laptop e relógio de plástico.

E headphones redutores de ruído externo.

Os headphones tradicionais transmitem a música diretamente para os nossos ouvidos. Já os modelos dotados da tecnologia redutora de ruído Noise-cancelling (NC) além de transmitirem música também reduzem todo ruído inconsistente à nossa volta, como o barulho de turbinas de avião, aspiradores de pó e discursos de campanhas presidenciais.

O.k, eles não reduzem o barulho de discursos. Isso foi uma piada. Os headphones NC não reduzem realmente barulhos irregulares como discursos e choros de bebês que estão na fila de poltronas ao nosso lado. Mesmo assim, a supressão do ronco das turbinas do avião contribui para reduzir a “fadiga de ruído”, um cansaço persistente provocado pela exposição a um barulho alto por horas a fio. Esses aparelhos também permitem que nós ouçamos músicas ou assistamos a vídeos no trem ou no avião a um volume muito menor (e mais seguro).

Fones

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    Fone Sennheiser PXC 310 (US$ 300) tem bom cancelamento e permite conexão bluetooth

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    Fone de ouvido Monster by Dre Dre é de grife, mas falha ao cancelar ruído de ambientes extern

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    Com o melhor design dos fones testados, o AKG K495 NC custa US$ 350 nos EUA

Durante anos a Bose lidera o mercado de headphones NC. Os headphones da Bose são incrivelmente bons, mas também incrivelmente caros. O último modelo da companhia, o QuietComfort 15, custa US$ 300. Eles estão no mercado há mais de dois anos. Sem dúvida, no decorrer desse período, alguém deve ter lançado headphones concorrentes mais baratos ou mais sofisticados.

Mão na massa

Para testar essa hipótese, em escolhi os últimos modelos de dez companhias. Eles são, em ordem alfabética: Able Planet NC1100B (US$ 250), AKG K495 NC da Harman (US$ 350), Audio Technica ATH-ANC7B (US$ 125), Bose QuietComfort 15 (US$ 300), Creative HN-900 (US$ 100), JVC HANC250 (US$ 103), Monster Beats da Dr. Dre (US$ 300), Panasonic RP-HC720 (US$ 90), Sennheiser PXC 310 (US$ 300), Sony MDR-NC200D (US$ 200) e Sony MDR-NC500DM3 (US$ 400). Eu consegui colocar todos eles, incluindo as suas embalagens pretas de transporte, em uma volumosa bolsa de lona. É claro que isso despertou a curiosidade de funcionários da Administração de Segurança de Transportes.

Eu testei os aparelhos em quatro voos de uma costa a outra dos Estados Unidos, trocando constantemente de headphones, testando cada um deles para determinar a eficácia do NC e a fidelidade do som (e é claro que os passageiros sentados ao meu lado ficaram perplexos).

O que eu descobri foi que, no que diz respeito à aquisição de headphones NC, apenas oito fatores são importantes:

Fatores para a escolha de um fone

- NOISE CANCELLLING. Todos eles funcionam da mesma forma: um microfone externo avalia o som ambiente, e a seguir emite as ondas sonoras de frequência oposta, cancelando desta forma parte desse ruído externo.

Mas existe uma variação enorme em termos de eficiência de NC. Por exemplo, o Monster Beats pode ser o fone de ouvido mais bonito do mercado, mas o usuário conseguiria mais eficiência em termos de redução de ruído se tapasse os ouvidos com toalhas de papel Kleenex. Praticamente não há diferença entre ligar e desligar o sistema NC nestes headphones.

Os headphones Audio-Technica, Creative, Able Planet e JVC fazem um melhor trabalho no que se refere a cancelar frequência baixas ou médias. Mas eles ainda deixam muito ruído intocado. Os modelos da Panasonic, da Sony e da AKG têm um desempenho melhor (o sistema de selagem bem projetado da Panasonic começa a bloquear os ruídos antes mesmo de ligarmos o botão de NC).

Mas nenhum deles chega perto dos headphones Bose. Ao usarmos este aparelho temos a impressão de que o mundo externo desapareceu. É algo como a diferença entre estar em um concerto de rock e a alguns quilômetros de distância do palco.

O QuietComfort fez uma pressão ligeiramente desconfortável nas minhas orelhas, fazendo com que eu experimentasse aquela sensação que se tem às vezes dentro de uma avião que está descendo. Mas as avaliações dos usuários online indicam que em faço parte de uma pequena minoria.

 - BATERIA. Headphones NC precisam de energia elétrica. Alguns deles trazem baterias recarregáveis embutidas, como é o caso do Sennheiser 310 (duração da carga, 20 horas) e o AKG (10 horas).

Outros precisam de pilhas de tamanho AA ou AAA: o Audio Technica (40 horas), o Panasonic (34 horas), o Bose (35 horas), o Creative (40 horas), o Sony MDR-NC200D (22 horas), o Able Planet (50 horas) e o Monster Beats (12 horas).

Um deles – o Sony NC500DM3 – tem os dois sistemas: uma bateria recarregável (16 horas) e um compartimento no fio para pilhas AA (12 horas a mais), apenas por questão de garantia.

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    Fone da Audio Technica custa cerca de US$ 140, mas tem bateria de longa duração: quase 20 h

- REPRODUÇÃO DE SONS COM O NC DESLIGADO. A maioria desses headphones reproduz música mesmo quando não estão ligados, ou seja, a carga da bateria só é utilizada quando há necessidade de cancelamento de ruídos. Alguns deles, no entanto, ficam totalmente mudos quando nós desligamos o NC, algo que se constitui em uma surpresa infeliz. Entre eles estão o Bose, o Beats e o Sony NC500DM3.

- COBRINDO PARCIALMENTE OU INTEIRAMENTE A ORELHA. Existem dois tipos de headphones NC: aqueles que possuem grandes concavidades que cobrem inteiramente as orelhas, e aqueles dotados de alto-falantes menores, que simplesmente ficam sobre a orelha.

(Há quem adore os tipos in-ear – que não são exatamente headphones, mas algo como earbuds personalizados que são plugados no canal do ouvido do usuário. Mas eu acho esses modelos desconfortáveis para voos longos. Mas, é aquilo que já se sabe: certas pessoas adoram os tampões de ouvido de espuma vendidos nas farmácias. Esses tampões não tocam música, mas por 25 centavos eles são ótimos para o cancelamento de ruídos, e ninguém os supera em duração de bateria).

A vantagem dos headphones menores, como o Sony NC200D, o AKG e o JVC, é exatamente o fato de eles serem pequenos. Eles não se constituem em um grande volume a ser carregado. Mas, após algumas horas de uso, esses modelos podem provocar dores na cartilagem da orelha, e esse é um sofrimento tão esquisito que eu me sinto quase embaraçado por mencioná-lo.

Já os modelos que cobrem inteiramente a orelha não têm esse problema. Mas é claro que eles são enormes e vêm em embalagens de transporte ainda maiores.

A exceção brilhante fica por conta dos headphones Beats. Embora sejam do tipo que cobre inteiramente a orelha, os seus alto-falantes podem ser dobrados em um ângulo de 180º por sobre o apoio de cabeça (para ter uma ideia de como isso funciona, imagine a sua mão dobrando-se até ficar paralela à parte interna do seu pulso). O resultado disso é um aparelho com alto-falantes grandes que pode ser carregado em uma embalagem muito menor.

- BOTÃO MONITOR. Quando estamos em um voo, às vezes precisamos das nossas orelhas para outras tarefas, como responder a perguntas de comissários de bordo e vizinhos de poltrona. A maior parte dos usuários de headphones lida com tais situações simplesmente removendo os headphones.

No entanto, os headphones Sony e Beat oferecem um botão “Monitor” que, ao ser ativado, simultaneamente interrompe a reprodução da música e faz com que o usuário possa ouvir os sons externos. É possível ouvir o que as pessoas estão falando sem que se tenha que remover os headphones.

- FIDELIDADE MUSICAL. Suprimir os sons indesejados é uma das duas metas principais desses headphones; a outra é reproduzir sons com qualidade.

Porém, não é possível obter um som com a qualidade exigida pelos audiófilos com headphones de US$ 200 ou US$ 300. Mas os modelos Bose, AKG, JVC e Sony proporcionam uma boa potência, graves sólidos e distintos, tons intermediários claros e agudos perfeitos. O aparelho da Beats é especializado em graves retumbantes, conforme seria de se esperar devido à herança rapper dessa marca. Os modelos da Sennheiser têm um ótimo som, mas não oferecem muita potência, fazendo com que passagens mais sutis de música clássica desapareçam completamente no avião.

O som da Audio Technica e do Able Planet não tem nada de extraordinário. O som do Creative é nítido e equilibrado, mas as passagens suaves perdem-se durante o voo. O fone da Panasonic não tem muita potência, mas o sistema de cancelamento de ruídos é tão bom que podemos usá-lo a um baixo volume e ainda assim ouvir tudo.

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    Melhor custo-benefício, fone RP-HC720, da Panasonic, apresenta boa qualidade sonora

- RECURSOS ESPECIAIS. O Bose e o Beats trazem um microfone no fio, e o usuário pode deixá-lo ativado para ligações de smartphone. O Able Planets tem um controle de volume no fio.

O Sennheiser é o único modelo com Bluetooth, o que significa que não é necessário um fio para que se ouça música ao telefone. Com ele, a experiência do ouvinte pode ser wireless.

- PREÇO. De forma geral, jamais houve uma ilustração melhor daquela regra segundo a qual aquilo que obtemos corresponde ao preço que pagamos. O caro AKG K495 (US$ 350), por exemplo, é o Lexus dos headphones: um design maravilhoso de metal escovado, materiais luxuosos, fio coberto de tecido que evita emaranhados e é extremamente confortável. O som desse aparelho é ótimo e ele elimina completamente os ruídos de frequência baixa e intermediária dentro do avião.

Entretanto, nem mesmo o AKG supera o sistema de cancelamento de ruído do Bose (US$ 300). A tecnologia da Bose ainda está alguns anos à frente da concorrência.

O compacto Sony MDR-NC200D (US$ 200) também se destaca pelo excelente sistema de cancelamento de ruídos e pelo som claro e alto. Entre os modelos que cobrem totalmente a orelha o Panasonic RP-HC720 é uma excelente pedida: US$ 90 por cancelamento de ruído e uma qualidade sonora, recursos que justificariam que ele custasse US$ 250.

Headphones NC de qualidade fazem uma enorme diferença no que diz respeito ao estresse provocado pelo voo. Agora que as passagens já estão caras, pode parecer loucura sugerir que alguém gaste mais algumas centenas de dólares com acessórios como esses. Mas a alternativa pode ser ainda pior: ter que algum dia gastar dinheiro com fisioterapeutas e massagistas, com aparelhos de audição ou com terapia para os nervos.

(Tradução: UOL)