Topo

Apple melhora conexão e tela do iPad, mas ultradefinição "come" mais armazenamento

David Pogue

Do The New York Times

16/03/2012 06h05

Na sexta-feira (16), o novo iPad chegará às lojas. Certifique-se de pedir pelo nome: iPad.

Porque se você pedir o iPad 3, os representantes da Apple vão olhá-lo de um jeito estranho. O modelo do ano passado era chamado iPad 2, mas este modelo de terceira geração se chama simplesmente iPad. (Por que não continuar com o padrão de numeração? “Isso seria muito previsível”, diz Phil Schiller, vice-presidente sênior de marketing da Apple.)

Na verdade, o novo iPad deveria se chamar iPad 2S. Antigamente, a Apple acrescentava a letra S para os modelos de iPhone que não eram exatamente novos mas haviam sido melhorados (iPhone 3GS, iPhone 4S). É exatamente isso que está acontecendo com o novo iPad. Suas melhorias técnicas o mantém no topo dos aparelhos mais desejados – à frente do concorrente Android que tenta abocanhá-lo – mas não tomam nenhuma nova direção.

Tela de ultradefinição...

A maior característica nova é o que a Apple chama de tela Retina: como as do iPhone 4S, é uma tela muito, muito nítida. É quatro vezes mais nítida do que a do iPad 2 – de fato, é a tela mais nítida de um aparelho móvel. Ela tem 3,1 milhões de pixels, ou seja, 1 milhão de pixels a mais do que numa TV de alta definição. (Pelo menos a Apple diz que é esta a quantidade de pixels que ela tem; eu desisti de contar depois de três dias.).

A princípio, a avalanche de pixels (e o aumento da saturação de cor) significa que as fotos, vídeos, mapas e textos devem ficar tão boas a ponto de deixar cair o queixo – e, em aplicativos que foram reescritos para a nova tela, isso de fato acontece. Os aplicativos da Apple, como Photos, Maps e iBooks, são incrivelmente nítidos e claros.  

... e suas consequências

Bem como os aplicativos melhorados para o iPad – iMovie, GarageBand, a planilha Numbers e o processador de textos Pages. E no que diz respeito aos aplicativos de touchscreen, o novo iPhoto para iOS é uma obra-prima.

Mas os aplicativos que não foram reescritos não se beneficiam tanto. Na maioria deles, o texto fica automaticamente mais nítido, mas não em todos. Depois de ler um texto absurdamente nítido no Mail e Safari, você ficará desapontado com a digitação relativamente grotesca no aplicativo Kindle da Amazon, que não foi atualizado. (A Amazon diz que uma atualização para o Retina está a caminho.)

Novo iPad

  • Kevork Djansezian/Getty Images/AFP

    Detalhe do app iMovie: programa de edição de vídeo recebeu upgrade e permite fazer traillers

Da mesma forma, vídeos em alta definição ficam extremamente brilhantes. Este é o primeiro tablet do mundo que de fato mostra filmes de alta definição em 1080p. Mas os filmes de streaming do Netflix não são feitos para a alta definição do iPad (ainda, diz o Netflix), então eles não ficam melhores.

Há outro preço a se pagar por toda essa definição: em memória. Testes feitos pela Macworld.com revelaram que os gráficos dos aplicativos feitos para Retina consomem duas a três vezes mais da memória não-expansível do iPad do que os aplicativos anteriores ao Retina. Para atualizar seus aplicativos para a nova tela, as companhias de software precisam refazer seus gráficos numa resolução muito mais alta, o que significa arquivos bem maiores.

(Pior que isso, cada aplicativo costuma ser escrito numa versão única e universal para todos os modelos de iPad. Então esses aplicativos também comerão o mesmo espaço extra, sem motivo, dos iPads antigos – e até nos iPhones, uma vez que muitos aplicativos são escritos para rodarem tanto no tablet quanto no telefone. Em outras palavras, os donos de iPhones também acabarão perdendo espaço de armazenamento por causa do efeito dominó da melhora nos gráficos.)

Internet 4G LTE

A revolução de resolução não é a única mudança no iPad que “não deve ser numerado”. Outra grande mudança é o 4G LTE.

Isto é, os modelos de iPad agora podem entrar nas redes de dados super rápidas 4G que a Verizon e a AT&T construíram nas grandes cidades norte-americanas.

(A Apple não mudou os preços e configurações para o novo iPad. O modelo básico ainda custa US$ 500, tem apenas Wi-Fi e 16 gigabytes. O modelo topo de linha ainda custa US$ 830, tem 64 gigabytes de armazenamento e também pode entrar na internet via rede de celular. Você precisa escolhar ou o modelo da AT&T ou o da Verison, nesse caso, e pagar uma taxa mensal – US$ 15 a US$ 50 por mês, sem necessidade de contrato. Esses iPads também podem entrar na internet no exterior, embora apenas à velocidade de 3G; a LTE usa frequências diferentes em outros países.)

Estar na 4G da LTE é muito, muito bom. Os aplicativos são baixados rapidamente. As páginas da internet aparecem rápido.  

Você não precisa esperar para os vídeos carregarem antes de começar a tocá-los. Os iPads da Verison oferecem o “tethering” – um serviço que converte a conexão de Internet via celular em um hot spot Wi-Fi – para que os laptops que estão próximos possam usar a mesma alta velocidade de internet. (A AT&T diz que está trabalhando para ter o tethering.)

Meu iPad de teste da Verizon teve velocidades de donwload de 6 a 29 megabits por segundo em San Francisco, Boston e Nova York – em muitos casos, mais rápido do qeu o serviço de modem a cabo domiciliar. De acordo com testes da PC Magazine e outras, a rede 4G da AT&T é menor, mas costuma ser mais rápida. Não há dúvida quanto a isso: a vida começa no 4G.  

Bateria continua duradoura

Agora, o 4G é famoso por acabar com a bateria. Ele devora eletricidade como um time de futebol num concurso para ver quem come mais cachorros-quentes.

A Apple, entretanto, estava determinada a manter a mesma bateria do último modelo do iPad: nove a dez horas depois de uma carga. Em meu teste de uso ininterrupto durante o dia todo, ele conseguiu funcionar por nove horas.

Para conseguir isso, a Apple adotou uma estratégia tripla. Primeiro, ela desenvolveu ou adotou componentes que usam menos energia (o Bluetooth 4.0, por exemplo). Em segundo lugar, criou vários truques de software e circuitos.

Em terceiro lugar, ela incorporou uma bateria mais grossa e mais pesada. O novo iPad tem um milímetro a mais de espessura, e 51 gramas a mais do que o iPad 2. É uma diferença muito sutil, mas os dedos acostumados a usar o antigo iPad sentirão isso, e é ruim.

É interessante que você pode desligar a antena LTE no aplicativo Settings (Configurações). Sem esse consumo de energia, sua bateria provavelmente vai durar bem mais.

Outras melhorias

O que mais é novidade? Uma câmera de 5 megapixel que tira fotos bem melhor do que o iPad 2 tirava. (O que não quer dizer muito.) Você pode capturar vídeos de 1080p de alta definição, e uma função de estabilização dá uma mão quando a sua está tremendo ou se mexendo.

Um minúsculo microfone agora aparece no teclado da tela. Ao selecioná-lo, você pode falar para digitar, da mesma forma que no iPhone 4S.

Para a maioria das pessoas, é uma grande bênção; digitar num vidro nunca foi uma atividade divertida. O reconhecimento é rápido e acurado, pelo menos quando você tem uma boa conexão com a internet (a transcrição é feita por servidores longínquos).

É estranho, entretanto, que o mecanismo de transformar fala e texto seja a única parte do Siri, o novo software de controle inteligente de voz da Apple, que o novo iPad herdou do iPhone 4S. Você não tem o resto das funções do Siri: a capacidade de determinar alarmes, enviar mensagens de texto, olhar compromissos na agenda e procurar fatos na internet simplesmente perguntando em voz alta. O fato de que o Siri completo não esteja disponível parece mais uma estratégia do departamento de marketing do que uma limitação técnica.

O mundo mudou desde que o iPad 2 foi lançado. Rivais menores, inferiores e bem menos mágicos como o Kindle Fire e o Nook Tablet custam apenas US$ 200. (É por isso, provavelmente, que a Apple continua vendendo o iPad 2 por US$ 100 a menos que os novos modelos.)

Dezenas de imitações de iPad surgiram – e, em muitos casos, desapareceram. (Será que devemos fazer um minuto de silêncio para o TouchPad da Hewlett-Packard e o PlayBook BlackBerry? Acho que não.)

Mas os rivais sobreviventes ainda são vendidos em números minúsculos comparados aos do iPad, e é pouco provável que isso mude agora.

O novo iPad não introduz nada que não tenhamos visto antes, quer no iPhone ou nos tablets rivais. Não há um momento “mais uma coisa” à la Steve Jobs aqui; a Apple simplesmente pegou seu iPad e acrescentou a tela, bateria e tecnologias de celular mais recentes.

Se você estiver em busca de um tablet, eis o lado bom: pelo mesmo preço que antes, agora você pode comprar um iPad atualizado que ainda tem um visual melhor, é mais integrado e com um design mais consistente do que o de qualquer um dos rivais.

E se você já tem o iPad 2, eis um lado bom melhor ainda: pelo menos desta vez, você não precisará se sentir tão obsoleto quanto de costume. (Tradução de Eloise De Vylder)