Topo

Aparelho cria até ''cantores fantasmas'' para acompanhar músicos ao vivo; veja teste

VoiceLive Play: aparelho é uma caixa de metal com botões que podem ser acionados com os pés, de forma que você pode ativar e desativar os efeitos sonoros durante um show ao vivo - Divulgação
VoiceLive Play: aparelho é uma caixa de metal com botões que podem ser acionados com os pés, de forma que você pode ativar e desativar os efeitos sonoros durante um show ao vivo Imagem: Divulgação

David Pogue

The New York Times

14/05/2012 06h05

A internet afetou bastante a música pop. Sem a internet, nós ainda estaríamos comprando músicas em lojas de discos. A Apple ainda seria apenas uma companhia de computadores. E Justin Bieber provavelmente estaria trabalhando em um Burger King em Ontário.

No universo online, os artistas podem levar as suas músicas diretamente para o público. Não há mais intermediários, executivos de gravadoras e cartas de rejeição de trabalhos. Quem for bom em breve conquistará fama e fortuna – ou pelo menos um enorme número de visitas de internautas.

Looping

  • Um outro recurso interessante do aparelho é o looping. Ou seja, podemos gravar a nós mesmos cantando em um ritmo de percussão, durante até 30 segundos. O aparelho tocará esse fragmento continuamente, e nós acrescentamos a ele uma nova melodia. A seguir, o aparelho reproduz esse conjunto de duas melodias e nós acrescentamos uma terceira – e assim sucessivamente

Mas, atualmente, não basta ter uma grande voz; é necessário também um ótimo processamento. Hoje em dia não existe nenhuma música que toque no rádio que não tenha sido digitalmente alterada com efeitos como reverberação (eco), compressão (atenuação dos picos de volume) e autotune (correção das notas fora de tom).

Esse tipo de trabalho pode ser feito por meio de softwares como o GarageBand e o Audacity. Mas o VoiceLive Play (US$ 250 na internet), um aparelho lançado pela companhia de processamento de voz TC Helicon, oferece todos esses efeitos e mais – ele é capaz de até mesmo gerar cantores fantasmas para fazerem um fundo musical.

O aparelho é uma caixa de metal com botões que podem ser acionados com os pés, de forma que você pode ativar e desativar os efeitos sonoros mesmo durante uma apresentação ao vivo. É como se fosse uma pedaleira para guitarra, só que para cantores (é claro que pode-se utilizar o aparelho também no estúdio).

Podemos até mesmo criar com ele uma espécie de lista de efeitos que corresponda às músicas que estivermos executando, e saltar de um efeito para outro pressionando botões com os dedos dos pés.

É verdade que processadores de voz não são nenhuma novidade. Mas a programação da maioria deles é algo tão complicado que parece exigir uma formação em engenharia acústica e, provavelmente, em design de cabines de ônibus espaciais. A intenção dos criadores do VoiceLive Play foi colocar recursos espetaculares de áudio em um aparelho que não fosse mais difícil de utilizar do que o painel de controle de um elevador.

O aparelho é ligado à tomada. A seguir conecta-se a ele fones de ouvido, ou alto-falantes, ou um computador, e depois um microfone (é necessário usar um microfone com um conector pro-style XLR).

Depois disso, é só começar a explorar os recursos do aparelho. Com o girar de um botão, podemos utilizar 237 padrões de processamento pré-programados. Cada um deles reproduz o processamento vocal de uma música pop bem conhecida. Eles são identificados por nomes como “In Air 2Night” (o sinistro eco metálico de “In the Air Tonight”, de Phil Collins), “Hey Jude-y” (que reproduz a sua voz no estilo clássico dos Beatles), e “Cali Hotel” (a harmonia tripla de “Hotel California”, do Eagles).

É verdade: harmonia tripla. Neste aparelho, o resultado é surpreendente. Quem conhece algo sobre música sabe que nenhum cantor consegue se harmonizar tão bem com a sua própria voz quanto ele próprio (ou com a voz de irmãos, razão pela qual grupos familiares como o von Trapps e o Jonas Brothers são tão harmônicos).

Mas que tipo de magia negra vudu seria capaz de fazer tal coisa? Afinal, há pelo menos três notas em um acorde. Se você entoar um dó médio, um chip de computador não terá como saber que notas harmônicas tocar com ele. Um dó médio pertence a uma gama de acordes diferentes. E se o computador escolher as notas erradas, o resultado conflitante fará com que até mesmo o ouvinte menos sensível a músicas desafinadas proteste.

Só existe uma maneira pela qual um equipamento eletrônico pode ser capaz de saber que notas harmônicas gerar: ouvindo. E o VoiceLive Play de fato escuta a banda que está tocando, registra uma amostra dos acordes e calcula as harmonias automáticas corretas para a sua voz em milésimos de segundo.

Ele “escuta” a banda – ou a guitarra, ou o piano –, seja através de um cabo de áudio ou de microfones inseridos no aparelho. Esses microfones, que a companhia chama de RoomSense, se constituem também em uma forma excelente de transmitir o som do aposento e da banda para a mixagem que é reproduzida pelo headphone (o RoomSense é um dos diversos recursos que não estão disponíveis em aparelhos de concorrentes, como o similar Boss VE20).

  • Divulgação

    É verdade que processadores de voz não são nenhuma novidade. Mas a programação da maioria deles é complicada. A intenção dos criadores do VoiceLive Play foi colocar recursos espetaculares de áudio em um aparelho simples

De vez em quando, geralmente durante notas rápidas em uma melodia, o aparelho chega a uma conclusão errada em relação a um acorde, e o resultado é um breve momento de dissonância. No entanto, em geral, as harmonias são ricas e excelentes. Um vídeo de música que pode ser visto no YouTube no j.mp/JcdbVG mostra um modelo de VoiceLive mais caro, mas ele se constitui em uma ótima demonstração de harmonização automática.

A companhia pretende oferecer novas harmonizações pré-programadas todos os meses. O usuário pode baixá-las para o aparelho através da conexão de USB com o computador – um recurso exclusivo desta máquina – para mantê-lo atualizado em relação às últimas tendências da música pop. E é possível modificar quaisquer dessas harmonizações pré-programadas e a seguir gravá-la com novos nomes.

Um dos botões do VoiceLive Play para se acionar com o pé chama-se Hit; basta um toque para ativar um efeito sonoro. Em outras palavras, durante uma execução musical, você pode cantar o verso de uma música de forma simples, e a seguir pressionar Hit para adicionar harmonia. Ao pressionarmos continuamente o botão Hit, cancelamos continuamente todos os efeitos. O recurso foi criado para ser usado em conversas entre as músicas, que soariam meio estranhas em uma harmonia tripla.

Um outro recurso interessante do aparelho é o looping. Ou seja, podemos gravar a nós mesmos cantando em um ritmo de percussão, durante até 30 segundos. O aparelho tocará esse fragmento continuamente, e nós acrescentamos a ele uma nova melodia. A seguir, o aparelho reproduz esse conjunto de duas melodias e nós acrescentamos uma terceira – e assim sucessivamente. Em um vídeo musical encantador no YouTube, no link j.mp/KKwfZr, uma cantora acrescenta uma terceira e, a seguir, uma quarta parte vocal a sua própria apresentação ao vivo de “Danny Boy”, utilizando esse recurso de looping em tempo real.

  • Divulgação

    O aparelho é ligado à tomada. A seguir conecta-se a ele fones de ouvido, ou alto-falantes, ou um computador, e depois um microfone (é necessário usar um microfone com um conector pro-style XLR)

 

O único problema do VoiceLive é o recurso Voice Cancel. Em tese ele permite que nós nos conectemos a um iPod, a um fone ou a um computador e comecemos a reproduzir uma música pop, e o VoiceLive removeria magicamente a voz do cantor, deixando apenas o som instrumental original da banda – em uma espécie de karaokê turbinado. O usuário vai se sentir como Taylor Swift fazendo dublagem na noite em que ela teve laringite.

Infelizmente, esse recurso não funciona. Assim como aparelhos anteriores que alegavam contar com tal recurso, o VoiceLive Play apaga tudo o que estiver no centro da mistura de sons stereo, da esquerda à direita – que é onde o principal vocalista aparece na maioria das músicas pop.

O problema é que outros sons podem também aparecer no centro da mistura sonora, como, por exemplo, a bateria. Por outro lado, o vocalista principal nem sempre está no centro. E a reverberação dele geralmente não se encontra também nessa posição, de forma que poderemos até nos livrar do vocal, mas não do seu eco, em um efeito verdadeiramente bizarro. O aparelho geralmente reduz pelo menos um pouco a voz do cantor, mas não se deve esperar uma supressão total.

É importante também observar que mesmo que este seja um dos aparelhos do gênero mais fáceis de utilizar, isso não significa necessariamente muita coisa. Tudo o que o usuário fizer além de utilizar os recursos pré-programados exigirá uma imersão no manual do usuário – que só está disponível na internet – e uma grande dose de experiências prazerosas.

O VoiceLive Play é capaz de fazer muitas coisas mais, como mostrar ao usuário quando este está desafinando e criar efeitos tradicionais de estúdio como equalização, coro, distorção e outros. O aparelho pode fazer com que a nossa voz adquira um tom profissional, tanto ao vivo quanto no computador. A qualidade de áudio é sensacional, e os recursos pré-programados são extremamente convincentes.

Mas quem não faz parte da faixa financeira de Justin Bieber não comprará o VoiceLive apenas para que este sirva de brinquedo. Mesmo assim, é importante mencionar que você e as crianças próximas poderão se divertir durante horas transformando as suas vozes em vozes de robôs, esquilos ou anjos (eu deixei que dois garotos pequenos fascinados usassem o efeito Barry White, de forma que a mãe deles pudesse escutar como seria a voz dos dois quando eles fossem estudantes de segundo grau. Ela ficou apavorada).

Não nos iludamos: um aparelho de processamento de voz é um produto de nicho específico. Mas graças aos controles altamente simplificados, à replicação de músicas pop novas e à qualidade profissional, o VoiceLive Play acaba de ampliar bastante esse nicho.