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14/06/2007 - 07h06

TV digital inaugura patamar de interatividade e integração

Marcelo Ayres

Para o UOL Tecnologia
A TV Digital vem sendo pesquisada e estruturada há algum tempo. Os Estados Unidos foram os pioneiros nas pesquisas sobre o assunto e os primeiros a definir um padrão de transmissão digital, em 1982.

Atualmente, a TV digital é realidade na Europa e na Ásia (especialmente Japão e Coréia do Sul) —além, claro, nos Estados Unidos. O Brasil planeja implantar seu modelo de TV digital até 2010, dentro de um sistema com infra-estrutura e padrão de transmissão adequados.

O professor Marcelo Zuffo, do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP, membro ativo do grupo que definiu as bases tecnológicas e o modelo digital no país, explica que "até o final da introdução da TV digital no Brasil, em 2010, espera-se uma revolução no conceito de TV por meio de uma intensa convergência digital com a Internet e com a telefonia fixa e móvel".

Entre as diversas inovações tecnológicas do sistema, estão: a modulação digital de sinal, a mobilidade, as transações bidirecionais de informação multimídia, a portabilidade e a maior qualidade de imagem —a tão falado HDTV (televisão de alta definição).

Zuffo destaca ainda que a capacidade de troca de informações e dados multimídia de forma bidirecional proporcionará serviços de automação doméstica, segurança, governo eletrônico, educação à distância e entretenimento, entre outros, através da TV digital.

Diferentes padrões pelo mundo
Existem, hoje, quatro padrões de TV digital no mundo. O ATSC-T (Advanced Television Systems Committe), dos EUA; o DVB-T (Digital Vídeo Broadcasting), da Europa; o ISDB-T (Integrated Services Digital Broadcasting), do Japão; e um sistema em desenvolvimento na China, o DMB-T (Digital Modulation Broadcast).

Zuffo ressalta que estes padrões estão ligados aos blocos macroeconômicos e procuram considerar a proteção para a indústria eletroeletrônica e evitar os custos de propriedade industrial.

Pioneirismo americano
Segundo o professor, os americanos pagaram o preço pelo pioneirismo e por não fazer um "exercício de futurologia". O ATSC-T não considera tecnologias modernas como os celulares, o Wi-Fi e o WiMax, por exemplo.

Evolução natural do sistema analógico, o padrão americano é direcionado principalmente à transmissão de sinal digital de alta definição (HDTV). Entre 1991 e 1992 os EUA já possuíam seis sistemas digitais em teste no país. No ano seguinte um grande fórum discutiu os resultados dos testes e propôs a escolha de um para se tornar o padrão definitivo.

Em 1997 já existiam aproximadamente 1.600 emissões de sinal digital. No ano de 1998, as pesquisas contabilizavam que 50% da população americana já acessavam o sinal digital. Mais recentemente em 2003, 750 estações de TV trabalhavam com o sistema DTV (digital relevision).

Além dos EUA, o ATSC-T é utilizado no Canadá, México e na Coréia do Sul, que curiosamente é dona de patentes do sistema americano.

Integração européia
O padrão europeu começou a ser desenvolvido em 1993, aproveitou muito da experiência e evitou os problemas americanos. Com alguns recursos de mobilidade, foi o primeiros a trazer as universidades para o trabalho de pesquisa e desenvolvimento.

O DBV-T é um sistema bem flexível, o que permite atender às peculiaridades de cada país do continente europeu. Zuffo explica que "a Europa trouxe para o desenvolvimento do padrão a preocupação de harmonização entre os países, mas deixou um pouco a desejar nos quesitos técnicos".

Em 1993 começaram as primeiras transmissões pelo sistema de TV por assinatura do Canal Plus, da França. O ano de 1998 é considerado o marco da transmissão de TV digital aberta na Europa, com a abertura do sistema na Suécia. Na Alemanha, o padrão funciona desde 2003.

Japoneses, os mais recentes
O padrão japonês é o mais avançado de todos e chegou a este ponto aproveitando-se dos erros americanos e da experiência européia —tanto que baseou muito de sua tecnologia no DVB-T europeu.

"O modelo japonês considera flexibilidade, convergência, modulação de alta qualidade, mobilidade, portabilidade e alta definição", explica Zuffo.

Ele começou a ser desenvolvido no final dos anos 90 e foi o primeiro a utilizar a compressão de vídeo MPEG-4. Além disso, o padrão ISDB-T permite a segmentação, ou seja, a divisão do canal digital em vários sub-canais, que permitem transmitir diversos serviços simultaneamente.

No Brasil
O Brasil baseou sua escolha no sistema japonês, mas fez importantes modificações que o transformaram em um padrão compatível com as mais recentes tecnologias —protocolo IP e padrões de tecnologia móvel como GPRS e GSM.

"O grande trabalho do grupo de pesquisadores foi direcionado para gerar um padrão que fosse robusto, flexível e escalonável. Além disso, ele é compatível com a realidade da renda do brasileiro", diz Zuffo.

A robustez é explicada pela qualidade do sinal em função do seu alcance. Quando o sinal é emitido, ele tem de ser constante e forte do começo ao fim da transmissão, na residência. Já a flexibilidade é explicada pela quantidade de sub-canais gerados a partir de um único canal.

Outro destaque do padrão brasileiro foi a participação de vários setores da sociedade: governo, universidades, sociedade e empresas.

O grande desafio do Brasil, segundo o professor, está na infra-estrutura de transmissão, uma vez que hoje em dia as emissoras já trabalham com equipamentos e estúdios digitais.

TV por assinatura
As TVs por assinatura estão prontas e já transmitem o sinal digital para as residências dos assinantes. O problema é que os atuais decodificadores ainda não repassam o sinal digital para os televisores.

Eles recebem o sinal digital e o convertem para analógico antes de repassá-lo à TV. "Para que o sinal seja de ponta a ponta digital é necessário uma nova geração de decodificadores, que a partir do ano que vem já poderão ser fabricados a preço de mercado", afirma o gerente de desenvolvimento de negócios da TVA Digital, Dante Compagno Neto.

Assim como na TVA Digital, os assinantes da NET Digital também precisarão de um decodificador digital para ter o sinal digital passando para a sua TV. "Além disso, será preciso utilizar cabos diferenciados, como HDMI e o de áudio óptico, para conectar ao home theater e ter um som surround multicanal e Dolby Digital", explica o gerente de produto do PayTV da Net Digital, Alessandro Maluf.

Neto diz que a experiência de transmissão totalmente digital que aconteceu durante a Copa do Mundo da Alemanha foi um treino muito importante para mostrar o que é possível atingir com o sistema digital. A TVA Digital trouxe o sinal gerado na Alemanha em full HD até o assinante, que participou da experiência.

A transmissão de sinal digital permite a utilização do HDTV. Isto irá gerar um novo modelo de trabalho como lembra Maluf: "É uma mudança completa, desde a captação de imagem por meio de câmeras HDTV até o cuidado com os cenários, pois os detalhes ficarão mais aparentes". Esta é mesma linha defendida por Neto, da TVA Digital, para quem também será necessária uma nova maneira de fazer a maquiagem e acertar a iluminação.

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