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30/10/2007 - 07h02

XO não custa só US$ 100, mas vale o investimento

Rafael Rigues

Para o UOL Tecnologia
Criado pela OLPC (One Laptop per Child, ou "Um Laptop por Criança"), uma organização sem fins lucrativos, o XO-1 está sendo desenvolvido como uma ferramenta de aprendizado de baixo custo voltada principalmente às crianças de países em desenvolvimento, com projeto baseado nas teorias de aprendizado construtivista de Jean Piaget, Seymour Papert e Alan Kay.

A OLPC é chefiada por Nicholas Negroponte, conhecido como o fundador do "Media Lab" do Instituto de Tecnologia de Massachussets, nos EUA, e patrocinada por empresas como AMD, Brightstar Corporation, eBay, Google, Marvell, News Corporation, SES, Nortel Networks, Red Hat e Intel, que doaram US$ 2 milhões cada.

O XO-1 é mais popularmente conhecido como o "Laptop de US$ 100", apelido atualmente incorreto derivado de uma estimativa inicial de preço por unidade em lotes de 1 milhão de unidades. O preço final é mais alto, estimado em US$ 188 por máquina.

As máquinas atualmente em uso são protótipos, com o início da produção em larga escala (pela QUanta, em Taiwan) previsto para breve. Até o momento Argentina, Brasil, Camboja, Costa Rica, Egito, Grécia, Líbia, Nigéria, Pakistão, Peru, República Dominicana, Ruanda, Tunísia e Uruguai, além de alguns estados dos EUA, demonstraram interesse no projeto. Brasil, Uruguai, Camboja e Nigéria são alguns dos países que já testam a máquina nas escolas.

O Peru confirmou um pedido de 40 mil unidades neste ano, com possibilidade de 250 mil no ano que vem, e o Uruguai confirmou a compra de 100 mil unidades, decisão tomada após uma comparação entre o XO-1 e o Classmate PC, da Intel. O Brasil ainda avalia o XO-1, Classmate PC e outras soluções, como o Mobilis, da Indiana Encore, com candidatos a adoção no projeto Um Computador por Aluno (UCA), do Governo Federal.

Configuração

O hardware é baseado em um processador AMD Geode LX-700 de 433 MHz, com 256 MB de RAM. O sistema operacional, baseado em Linux, fica armazenado em 1 GB de memória Flash. O monitor tem 7,5 polegadas pode operar em dois modos: monocromático de alta resolução (1.200 x 900 pixels), para leitura de textos sob a luz do sol, por exemplo, e colorido (cerca de 800 x 600 pixels), para uso normal como um notebook.

Ele pode girar e se fechar sobre o teclado, convertendo a máquina em um tablet para leitura. A interface wireless, no padrão 802.11 b/g, usa duas antenas para melhor recepção. Para multimídia há uma câmera VGA colorida, alto-falantes e microfone.

Energia

O consumo de energia foi um dos principais fatores levados em consideração durante a criação da máquina. Como foi projetada para uso em países em desenvolvimento, não é possível contar com a presença de uma tomada por perto sempre que necessário, e é essencial maximizar a autonomia da bateria.

Para isso vários "truques" são utilizados. O processador, por exemplo, tem baixíssimo consumo de energia, apenas 0,8 watts. O monitor substitui os tradicionais filtros de cor por uma grade de difração plástica, que pode ser produzida com baixo custo e tem o benefício de aproveitar melhor a luz gerada pelo "backlight", um LED branco em vez das tradicionais lâmpadas fluorescentes (que consomem mais energia).

A interface wireless tem taxa de transferência limitada (2 MBits/s) para economizar energia, e seu chipset permite que o laptop atue como um roteador, repassando informações a outros XO, mesmo quando o processador está desligado.

Não há partes móveis como discos rígidos, unidades ópticas, drives de disquete ou sequer ventiladores, o que também ajuda a aumentar durabilidade do equipamento. O resultado é uma autonomia de bateria de seis horas em uso normal.

As máquinas usam a interface wireless para se conectar umas às outras, formando uma rede em malha ("mesh network") que reforça o aspecto social do projeto.

Trabalho em grupo

A tela principal da interface gráfica (chamada Sugar) mostra uma representação da criança ao centro, com os amigos e colegas na vizinhança espalhados ao redor. Ocasionalmente, elas podem estar agrupadas em torno de uma tarefa conjunta, como a criação de um desenho, e basta um clique para se juntar ao grupo.

Um servidor (apelidado de XS) pode hospedar conteúdo compartilhado com os laptops, e também servir como "gateway" para conexão à Internet e como base para um sistema de prevenção anti-furto: os laptops podem ser configurados para deixar de funcionar após determinado período de tempo sem se "autenticar" com o servidor da escola.

Os softwares inclusos, todos desenvolvidos como projetos de software livre, são chamados de "atividades", e incluem um editor de textos (baseado no Abiword), software de desenho (baseado no TuxPaint), navegador web (baseado no Firefox), compositor musical (TamTam), e os EToys (baseados na linguagem de programação Squeak, uma implementação de Smalltalk) que podem ser descritos como um "ambiente para criação multimídia", combinando gráficos, sons e interatividade para gerar desde simples animações a até mesmo joguinhos completos.

A interface gráfica não usa a tradicional metáfora do desktop, com pastas e janelas, à qual estamos acostumados. As atividades rodam em tela cheia, embora seja possível rodar mais de uma ao mesmo tempo, e uma "moldura" acinzentada, que surge sempre que o cursor do mouse é movido para a borda da tela, é usada para alternar e iniciar atividades e acessar menus.

No Brasil, várias entidades estão envolvidas no projeto, como o LSI (Laboratório de Sistemas Integráveis) da USP, com teste dos sistemas e desenvolvimento de software, o LEC (Laboratório de Estudos Cognitivos) da UFRGS, que desenvolve modelos pedagógicos para uso do computador na sala de aula, a UFF (Universidade Federal Fluminense), que realiza testes de rede, o Certi (Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras) e o CenPRA (Centro de Pesquisas Renato Archer), com validação técnica, funcional, pedagógica e ergonômica, o SERPRO, com testes de hardware e o Instituto Nokia de Tecnologia, com testes de software, melhorias na interface gráfica e ferramentas para auxílio no desenvolvimento.

Cerca de 800 crianças já usam o XO em testes em escolas brasileiras, 400 delas em São Paulo, e 400 no Rio Grande do Sul. Cem unidades do laptop estão em uso na Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu, na periferia de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, por alunos entre a 1ª e a 8ª séries do ensino fundamental.

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