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08/02/2012 - 18h31 / Atualizada 08/02/2012 - 20h12

Estudo sobre o 11/09 revela que ruído de navios estressa as baleias

PARIS, 8 Fev 2012 (AFP) -O som contínuo dos motores de linhas comerciais de navegação não só altera o comportamento das baleias, mas também pode afetar os mamíferos gigantes fisicamente, causando estresse crônico, revelou um estudo inédito publicado nesta quarta-feira.

Segundo os cientistas, a descoberta foi possível por um evento que, à primeira vista, não aparenta ter qualquer relação com a vida dos cetáceos: os ataques às torres-gêmeas do World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2001.

Somente uma catástrofe desta magnitude, explicaram os especialistas, poderia ter provocado uma queda tão repentina do tráfego marítimo, possibilitando medir o impacto de diferentes níveis de poluição sonora no mar.

Ao longo dos últimos 50 anos, o ruído provocado por navios cargueiros e militares, juntamente com sonares de alto decibel usados na exploração de petróleo, aumentou gradativamente em intensidade e alcance.

As baleias se comunicam nas mesmas ondas de baixa frequência emitidas por estas embarcações, na faixa de 20 a 200 hertz (Hz), e algumas espécies se adaptaram para emitir sinais acústicos mais altos e frequentes.

Semanas antes dos ataques de 11 de setembro, os cientistas chefiados por Rosalind Rolland, do Aquário da Nova Inglaterra, fizeram um estudo sobre as baleias franca do Atlântico Norte que se reúnem no fim do verão na Baía de Fundy, no Canadá, para alimentar e cuidar dos filhotes.

A partir de julho de 2001, os cientistas usaram cães treinados para encontrar matéria fecal das baleias flutuando na superfície da água. A cada ano, eles coletaram amostras ao longo de um período de seis semanas até 2005.

O cocô de baleia contém elementos químicos relacionados a hormônios, denominados glucocorticóides, liberados em condições de níveis altos de estresse que podem mudar de um dia para o outro ou até mesmo em questão de horas.

Os glucorticóides são secretados em situações de crise: agressão de um predador ou competidor, fome, sede. A curto prazo, esta liberação de hormônios ajuda os animais ao fornecer uma reserva de energia.

Mas no longo prazo, picos constantes do hormônio se tornam um mal, retardando o crescimento, enfraquecendo o sistema imunológico e comprometendo a capacidade reprodutiva.

Quando os cientistas notaram uma diminuição a queda nos níveis de ruído subaquático, eles perceberam que esta seria uma oportunidade para investigar se a poluição sonora era causa de estresse para as baleias franca.

Eles descobriram que mudanças na concentração do hormônio combinavam perfeitamente com a queda súbita e a retomada gradual do tráfego marítimo na região.

"Não havia, no nosso conhecimento, outros fatores afetando a população que pudessem explicar esta diferença, além da queda no tráfego marítimo", concluiu o estudo, publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B.

Estudos com animais terrestres demonstraram que este tipo de estresse crônico pode ser causado pelo ruído de carros de neve, turistas e tráfego em rodovias.

Por viverem, se alimentarem e procriarem tão perto da costa, as baleias franca, espécie considerada em risco crítico de extinção, já são ameaçadas por colisões com embarcações e pela pesca de arrasto, duas causas principais de morte entre estes grandes cetáceos.

"A poluição sonora de fontes antropogênicas representa uma perturbação menos visível, mas abrangente para estas baleias costeiras, que pode ter consequências negativas para a viabilidade da população", concluiu o estudo.

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