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10/03/2010 - 07h00 / Atualizada 10/03/2010 - 13h24

Chatroulette cria "roleta russa" virtual ao unir webcam e desconhecidos

GUILHERME TAGIAROLI | Do UOL Tecnologia

No início eram 500 por dia, depois 50.000, hoje tem 1,5 milhão de visitas. Os números, fornecidos pelo russo Andrey Ternovskiy, 17, em entrevista à revista alemã “Der Spiegel” impressionam, mas foi isso que ele conseguiu em menos de 6 meses com o Chatroulette. O serviço, que conecta desconhecidos em um chat com webcam, cresceu 45.700% nos últimos 3 meses, segundo o Alexa, que mede a audiência de sites.

O diferencial é que o Chatroulette tem o caráter surpresa: não é o usuário que escolhe com quem quer interagir. Como uma roleta – daí o nome “roulette” –, o serviço aleatoriamente escolhe alguém com quem o usuário vai conversar na tela. Caso não queira falar com o internauta que aparecer, basta clicar no botão “next” (próximo). Há ainda o botão “report”, para reportar abusos. Veja no vídeo abaixo como funciona:

  • Repórter Guilherme Tagiaroli, do UOL Tecnologia, conversa com estranhos no Chatroulette

“É mais interessante que um chat convencional, pois você vê quem está falando. Em um bate-papo normal, por exemplo, as pessoas podem fingir ser de um sexo que não são”, disse a estudante universitária Fernanda Lawrence, 20, que usa o Chatroulette há pouco mais de três meses. “Em meu pouco tempo de uso fiz amizade com um francês e um americano.”

O gerente geral do Bate-Papo UOL, Ricardo Fotios, diz ver o serviço mais como uma brincadeira, algo no estilo de um "amigo virtual oculto", do que como uma ferramenta de chat. “Não acho que as pessoas passariam horas de seu tempo livre tentando achar alguém ao acaso, pois seria mais eficiente filtrar perfis nas plataformas de bate-papo convencionais. Em tese, todos os serviços de bate-papo promovem encontrar pessoas desconhecidas, só que permitem o agrupamento por afinidade”, compara.

Surpresa desagradável
O Chatroulette tem seu lado bom e seu lado ruim. Em alguns acessos que o UOL Tecnologia fez, foi comum ver pessoas com partes íntimas à vista ou pedindo para mostrar algum órgão sexual. Pelo conteúdo inesperado, o site pode assustar os desavisados ou ser inadequado para menores de idade.

Fernando Metj, diretor de prevenção da Safernet, uma ONG que defende os direitos humanos na web, acha que os riscos são grandes para quem se expõe. “Às vezes um pedófilo ou algum usuário mal-intencionado pode aproveitar a exposição do Chatroulette. É possível, por exemplo, gravar a imagem de uma pessoa para chantageá-la ou vender para sites especializados em pornografia.”

  • Reprodução/Arquivo Pessoal

    Abaixo na imagem, a estudante Fernanda Lawrence, 20, usando o Chatroulette

Fernanda, do começo desta reportagem, reprova a falta de respeito de alguns usuários que ficam nus diante da câmera. “Isso incomoda. Com a popularização, tem crescido o número de pessoas que se expõem. Por isso há até quem deixe de usar o serviço, mas não há nada que um ‘next’ não resolva.”

O serviço, pela sua interatividade, também pode ajudar pessoas que estejam estudando línguas. É o caso da estudante M.L.,16 (o nome não foi divulgado por se tratar de uma menor de idade). “Eu gosto do chat, pois é uma forma para praticar e melhorar meu inglês”, disse ela, que frequentemente conversa com pessoas dos Estados Unidos.

Os países que mais acessam o serviço, segundo o Alexa, são Estados Unidos (29,6%), França (9,4%) e China (9,2%). Cerca de 1,6% do total de acessos é feito por internautas brasileiros.

O fundador do Chatroulette, Andrey Ternovskiy, 17, alega que já recebeu 200 e-mails de empresas de capital de risco do Vale do Silício e propostas do Google e do Skype para visitar os Estados Unidos. De acordo com informações do "Der Spiegel", analistas estimam que o site valha algo em torno de 10 milhões de euros.

Segurança e cuidados
Assim como o Orkut, que no Brasil é proibido para menores de 18 anos, o Chatroulette é recomendável para pessoas com mais de 16 anos. Porém, até por não ter um cadastro, qualquer um pode entrar. A reportagem apurou que há vários menores de idade no Brasil que utilizam o serviço. “Em meia hora de testes, pude ver cenas adultas sem ser alertado sobre o conteúdo. Acho este comportamento pouco atraente para quem está querendo encontrar amigos”, disse Fotios, do UOL.

Fernando Metj também faz um alerta. “Às vezes os pais pensam ‘meu filho está seguro, pois está no quarto dele usando o computador’. Mas não: eles devem conversar com os filhos e procurar saber o que fazem na internet.”

O diretor de prevenção da Safernet ressaltou que os responsáveis não devem proibir o acesso, mas procurar conscientizá-los dos problemas que a imprudência no ambiente virtual pode causar. Quanto aos pais que não são muito ligados à tecnologia, o conselho é se inteirar. “Os pais procuram saber onde o filho estuda e quem são seus amigos, mas não sabem o que os filhos fazem na internet, para que eles usam ou com quem eles conversam.”

  • Reprodução/Chatroulolz

    Serviço de bate-papo aleatório permite encontros bizarros, como o do "Batman" com o "presidente dos Estados Unidos", Barack Obama

A recomendação para pais com filhos adolescentes, que naturalmente “tem o prazer pelo proibido”, define Metj, é manter uma relação de diálogo e explicar que a internet é um espaço público. E qualquer informação pode virar pista para um criminoso. “Pela webcam, às vezes, é possível saber toda a dinâmica da casa”, finalizou.

A entrevistada M.L., 16, afirmou que a mãe sabe que ela usa o serviço de chat com webcam. Em comparação, E.S., 14, alegou que os pais não têm conhecimento sobre o uso do site. “Eles nem imaginam que eu acesso o Chatroulette. Mas se eu falasse para eles, acho que nem daria nada”.

Outros chats
Conversar com internautas através de uma webcam não é uma novidade do Chatroulette. Há uma série de programas e serviços da internet que possibilitam que usuários falem com outras pessoas – conhecidas ou não.

Um dos principais exemplos de programa dessa categoria é o Skype. Após fazer o download do software, basta que outro usuário, também com o programa instalado, esteja online e tenha câmera para iniciar uma videoconferência. O Windows Live Messenger também têm funções parecidas.

O UOL, com o serviço de Bate Papo, possibilita, desde o início de 2009, que o usuário use uma webcam para interagir com os internautas que estiverem na sala do chat, sem a necessidade de instalar programas. No entanto, o acesso à câmera só é liberado se ambos os usuários estiverem de acordo.

O Google também oferece um alternativa parecida de bate-papo por voz e vídeo. O internauta, após instalar um plugin, disponível gratuitamente, pode falar com seus contatos do Orkut e do Gmail, que estejam online.

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