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10/03/2010 - 07h00 / Atualizada 10/03/2010 - 07h00

O jovem fundador do Chatroulette conta como viu a explosão do site

Benjamin Bidder
DER SPIEGEL

O Chatroulette, um site que conecta os usuários aleatoriamente via vídeo, pode ser a próxima grande coisa online. Investidores estão fazendo fila para participar da ação. Em uma entrevista no quarto onde cresceu, o estudante de Moscou de 17 anos, Andrey Ternovskiy, que criou o site, conversa sobre dinheiro e formas de livrar seu site de pervertidos seminus.

Spiegel Online: Andrey, você tem 17 anos e ainda está na escola. Quanto dinheiro para os gastos você recebe de seus pais?

Ternovskiy: Uns mil rublos por semana, cerca de 25 euros. Por que você pergunta?

  • Reprodução

    O estudante russo Andrey Ternovskiy, 17, criou o Chatroulette em novembro do ano passado

Spiegel Online: Nós nos perguntamos se você sabe como lidar com dinheiro. Sua invenção, o Chatroulette.com, já é comentado como a próxima grande coisa na Internet. Alguns especialistas já sugeriram que ele pode valer algo entre 10 milhões e 30 milhões de euros.

Ternovskiy: Não se preocupe. Eu sei lidar com dinheiro. Eu sou frugal e sei manter minhas economias. No passado, eu só comprava um sorvete de vez em quando. O restante do tempo eu economizava para um novo computador, webcam e outros acessórios.

Spiegel Online: Como você teve a ideia para o Chatroulette.com?

Ternovskiy: Eu sempre quis um site desses. Meus amigos e eu costumávamos conversar por vídeo pelo Skype, mas isso ficou tedioso após um tempo. Eu sempre sabia quem estava esperando por mim e com quem falaria. Então eu pesquisei no Google por um programa de bate-papo por vídeo que funcionasse de modo mais aleatório. Não existia nada assim. Então eu me sentei e escrevi o programa em dois dias e duas noites. E essa foi a primeira versão do Chatroulette.

Spiegel Online: Você esperava tamanho interesse? Afinal, até a “CNN” exibiu uma matéria a seu respeito e o “New York Times” escreveu sobre você. E você realmente criou o site apenas para você e seus amigos. Não houve divulgação. Mas então outras pessoas o descobriram – primeiro algumas centenas, depois aos milhares.

Ternovskiy: Para ser sincero, eu o divulguei em vários fóruns de Internet após lançá-lo. Eu esperava que seria um sucesso, mas fiquei impressionado com seu tamanho. No início de novembro, eram apenas 500 visitantes por dia. Um mês depois, eram 50 mil. O Chatroulette agora conta com cerca de 1,5 milhão de usuários. Aproximadamente 33% deles são dos Estados Unidos, 5% da Alemanha –destes, a maioria é de Berlim. Mas há virtualmente pessoas de todos os países usando o Chatroulette.

Spiegel Online: Como você lida com essa taxa de crescimento tremenda? Há pessoas que alegam que um jovem de 17 anos não poderia administrar um projeto desses, que ele exigiria muito mais recursos.

Ternovskiy: Tudo funciona graças à Internet. Eu administro meu site com um programa gratuito, o Google Analytics. E os recursos de servidor podem ser alugados de sites especiais; eu também pago a conta online. Eu também contratei quatro programadores para trabalharem comigo no site.

Spiegel Online: Nós estamos sentados em seu quarto de infância: há uma cama, uma mesa e dois monitores. Onde seus funcionários trabalham? Onde fica seu escritório?

Ternovskiy: Eu não tenho um. Eu encontrei meus funcionários pela Internet. Um deles eu conheço há cinco anos – eu o conheci online – e ele vive na Virgínia (Estados Unidos). Outro vive em Belarus.

Spiegel Online: De onde você tira dinheiro para tudo isso?

Ternovskiy: Eu disse aos meus pais: “Mãe, pai, o site está expandindo. Vocês devem investir agora”. Meus pais fizeram isso e seus $10 mil foram suficientes para começar. Eu já devolvi o dinheiro a eles há algum tempo. E estou ganhando um bom dinheiro no momento, graças aos pequenos links de publicidade no site para um serviço de encontros online. De vez em quando nós nos encontramos em um restaurante de Moscou e pego um envelope cheio de dinheiro.

Spiegel Online: Você tem investidores batendo à sua porta?

Ternovskiy: Eu recebi 200 e-mails apenas de empresas de capital de risco do Vale do Silício. O Skype me convidou para ir aos Estados Unidos. E o Google também me contatou.

Spiegel Online: Você vai vender?

Ternovskiy: Não, o site será sempre meu. Eu vou continuar desenvolvendo o Chatroulette pessoalmente. Mas eu posso imaginar algum tipo de esquema envolvendo ações da empresa.

Spiegel Online: Onde você aprendeu programação? Você é um estudante de uma escola de Moscou. É onde se aprende esses conhecimentos, na escola na Rússia?

Ternovskiy: Não se trata só de habilidade, trata-se de sorte. Na verdade, tudo o que eu sei eu aprendi pela Internet. Para ser honesto, eu raramente vou à escola.

Spiegel Online: Por quê?

Ternovskiy: Eu sou um nerd. A Internet é tudo para mim. A escola me entedia. Eu tenho meu próprio modo de aprendizado: eu leio a Wikipedia. A escola é uma perda de tempo e eu prefiro usar esse tempo para programação e para os negócios.

Spiegel Online: O czar russo de Internet, Yuri Milner, se encontrou com você recentemente. Seus empreendimentos online representam 70% de todo o tráfego na Internet de língua russa. Um encontro mais típico para ele é com o presidente Dmitry Medvedev. como parte da comissão para modernização da Rússia. Ele realizou uma reunião privada com você que durou uma hora e meia. Qual foi a impressão que você teve dele?

Ternovskiy: Que ele está realmente interessado no meu projeto. E então eu relaxei e desfrutei do meu sucesso. O escritório dele fica no 57º andar e tem uma vista incrível de Moscou.

Spiegel Online: O que você deseja realizar no final?

Ternovskiy: Eu sempre quis ter um site bem-sucedido. Agora eu tenho. E agora gostaria de ter minha própria empresa, um escritório, funcionários. E quero que seja nos Estados Unidos, porque lá fica o centro da cultura TI (tecnologia da informação). Todos os grandes nomes em TI estão no Vale do Silício –Google, Microsoft.

Spiegel Online: Mas os impostos são muito altos nos Estados Unidos.

Ternovskiy: Eu posso registrar a empresa na Suíça.

Spiegel Online: O Chatroulette é minimalista e, de certa forma, um retorno aos tempos não civilizados e selvagens da Internet. Seu site atrai muitos exibicionistas. Alguns até mesmo dizem que o Chatroulette é a antítese do Facebook, onde quase tudo pode ser controlado. Logo, ele tem o potencial de ser um passatempo agradável ou poderia se transformar em uma plataforma totalmente nova para interação online. Mas atualmente ninguém parece saber exatamente o que é, o que poderia ser.

Ternovskiy: Para mim, é como a rua de uma cidade grande, onde você vê todo tipo de rostos desconhecidos. Alguns desses rostos agradam você, outros enojam. O Chatroulette é uma rua na qual você caminha e pode conversar com quem você quiser. O programa torna a Internet mais parecida com a vida real. Quanto aos “malucos e tarados”, eu estou trabalhando em uma solução. Eu integrei uma função de relatório de ocorrência no Chatroulette. Se três usuários se queixarem da mesma pessoa, então aquele usuário é automaticamente impedido de usar o sistema. Com isso, atualmente já há muito menos deles.

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