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12/03/2010 - 10h00 / Atualizada 18/03/2010 - 16h50

Portal Brasil peca em acessibilidade e traz dificuldades para encontrar informações

CINTIA BAIO | Do UOL Tecnologia
  • Reprodução

    Portal quer reunir mais de 500 serviços públicos em um único lugar

Após 3 anos de projeto e cerca de R$ 7 milhões investidos, o novo Portal Brasil, do Governo federal, estreou no último dia 03/03. O objetivo do site é facilitar o acesso a mais de 500 serviços públicos —como informações sobre RG e previdência— em um único lugar. Para o presidente Lula, o portal será uma espécie de Google brasileiro, onde a população “vai entrar e vai poder saber de tudo aquilo que a gente faz, de cada centavo que a gente gasta", como disse em seu programa semanal de rádio, Café com o Presidente.

Portal Brasil em números

Investimento: R$ 11 milhões
Tempo do projeto: 3 anos
4.000 horas de planejamento
Mais de 37 mil horas de desenvolvimento de conteúdos
95 vídeos produzidos e editados com gravações em 12 estados
Mais de 2.000 páginas incluindo arquivos de imagem, vídeo e MP3
Mais de 1.000 textos produzidos em português
Fonte: Secom

No entanto, alguns especialistas ouvidos pelo UOL Tecnologia acreditam que ainda falta muito trabalho para que a engenharia do site permita encontrar informações precisas e de forma rápida. As principais críticas em relação ao novo Portal concentram-se na distribuição confusa da informação, prioridade desnecessária para notícias e erros de acessibilidade.

“Se o objetivo do site é reunir serviços, eles é que deveriam estar destacados, não as notícias. A Agência Brasil já tem essa função”, diz Érico Fernandes Fileno, designer de Interação e coordenador de pós graduação em Design Centrado no Usuário, em Curitiba, Paraná. O profissional acredita que se o Portal focasse mais em prestação de serviços, as informações seriam encontradas mais facilmente. 

Em uma rápida pesquisa pelo termo RG, por exemplo, só foi possível encontrá-lo ao usar a busca do site. Não foi possível localizá-lo na listagem de serviços —na filtragem pela letra R, de RG ou na filtragem pela letra C, de Carteira de Identidade.

No último Café com o Presidente, Lula disse que o Portal Brasil está com apenas 30% do conteúdo previsto. De acordo com a Secom, Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, o site contará com mais de 95 vídeos, 2 mil páginas e mais de mil textos produzidos em português com traduções para o inglês e espanhol.

Acessibilidade

Outro ponto que incomodou os especialistas foi a possível falta de testes de acessibilidade para o Portal. Em um artigo publicado por Leda Spelta, diretora do projeto Acesso Digital e deficiente visual, são apontadas várias dificuldades de leitura.

Ao entrar na página inicial, o software de leitura diz “Omi”, em vez de “Home”, por não estar configurado adequadamente, por exemplo. “‘Ômi - Portal Brasil’. Ômi não é o masculino de Muié; é a pronúncia da palavra ‘home’, quando não está codificada corretamente com a indicação de que é uma palavra da língua inglesa”, explica ironicamente a diretora.

Além disso, as descrições das fotos não estão configuradas corretamente. Por conta disso, o deficiente visual não consegue entender o que representa a imagem. Um erro grave na opinião de Leda.

Para Horácio Pastor Soares, também do projeto Acesso Digital, a falta de adequação do site para deficientes visuais fere a constituição (Lei 5296, que traz as diretrizes sobre acessibilidade) e poderia ser evitada a partir de testes simples. “Era preciso fazer novos testes antes de colocá-lo no ar. Assim, erros básicos poderiam ser evitados”, sugere Soares.

De acordo com a empresa TV1, responsável pelo projeto, foram feitos testes de acessibilidade duas semanas antes do portal estrear, que "serviram para apontar os problemas de acessibilidade ainda existentes". Em entrevista por e-mail, a TV1 afirmou que melhorias devem ser feitas até o final de 2010.

Em relação à disposição de conteúdo, a empresa diz que "todos os conteúdos do Portal são trabalhados também como notícias", distribuidas pela primeira página do site.

Investimentos

Pane no Portal

Um dia após o lançamento do Portal Brasil, o site ficou fora do ar.

Na página inicial, o internauta encontrava a mensagem “estamos trabalhando para melhorar o desempenho do Portal Brasil. Você poderá acessá-lo novamente em algumas horas”.

O problema foi resolvido após
uma atualização de servidores.

Até agora, foram investidos R$ 7 milhões no projeto, mas outros R$ 4 milhões ainda estão devem ser gastos, de acordo com o valor da licitação. De acordo com especialistas, o preço pago pelo projeto está acima do praticado pelo mercado. “Quando vi o valor, me perguntei se o mercado está pagando pouco ou se o Governo é quem está pagando demais”, brinca Fileno.

Para se ter uma ideia, um site de uma grande operadora e de um banco particular custaram, cada um, cerca de um terço do valor pago pelo Governo, de acordo com Fileno, que participou de tais projetos. “O nível de aprofundamento de um serviço online de banco, por exemplo, é maior porque envolve segurança da informação. E mesmo assim, é possível criá-lo por um preço menor”, explica.

Embora se diga que o portal tenha levado três anos para ficar pronto, a concepção e a construção duraram menos de sete meses, de acordo com o cronograma publicado no site da Secom. Em 2007 foi decidido que era preciso criar um portal que reunisse todas as informações do Governo. Entre a decisão e o início do projeto, passaram-se 19 meses —contando o período de consulta pública e o de licitação.

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