UOL Notícias Tecnologia

20/05/2010 - 12h20 / Atualizada 20/05/2010 - 12h28

Com repórter infiltrado, jornal chinês revela bastidores da fábrica do iPhone e iPad

Da Redação
  • Reprodução

    Jornalista chinês trabalhou infiltrado durante 28 dias em fábrica terceirizada da Apple

A fábrica Foxconn, na China, presta serviços para a Apple e vem ganhando atenção por conta dos suicídios cometidos entre seus funcionários. Para investigar o que acontece neste local – onde um jornalista da agência de notícias Reuters já foi agredido ao tentar fazer uma reportagem --, o jornal chinês “Southern Weekend” infiltrou seu repórter Liu Zhiyi na linha de produção, onde ele trabalhou por 28 dias. “Eu não queria descobrir por que eles se matam, mas como vivem”, escreveu o repórter, de acordo com o blog “Engadget”, que publicou uma tradução da reportagem na íntegra.

O jornal já havia tentado sem sucesso infiltrar outros repórteres e Liu Zhiyi contou o motivo: a idade. A fábrica em Shenzhen geralmente seleciona pessoas com cerca de 20 anos e, por ter pouco menos de 23, o jornalista conseguiu ingressar na linha de produção. Os funcionários recebem no décimo dia de cada mês cerca de US$ 132, que é o salário mínimo, além das horas extras trabalhadas – apesar de ser “voluntário”, todos têm de assinar o contrato que permite trabalhar além do limite de horas.

A Foxconn produz de forma terceirizada o iPhone, o iPad e o iPod, além de outros produtos da Apple. O repórter afirma que todos esses eletrônicos passam pelas mãos dos funcionários chineses, que provavelmente não poderão comprá-los. O iPhone, por exemplo, sai por cerca de US$ 322, ou mais do que o salário de um mês inteiro. Ainda de acordo com Liu Zhiyi, os trabalhadores parecem invejar aqueles que podem se afastar por conta de alguma lesão no trabalho ou, como recentemente aconteceu, intoxicação na fábrica.

“Quando se fala sobre os suicídios de seus colegas [que somavam seis quando o trabalho investigativo começou], há uma reação surpreendentemente calma. Às vezes, alguma piada seria feita sobre o assunto, como se fossem todos de fora”, escreveu, de acordo com o “Engadget”. “Quando se pergunta qual o sonho deles, você geralmente terá a mesma resposta: começar um negócio, ganhar dinheiro e então fazer o que quiser.”

Um dos funcionários, identificado como Wang Kezhu, reclama do trabalho, mas diz que não conseguiu fazer cursos, por “não entender uma palavra”, então desistiu. Sem conhecimento específico, aceitou o primeiro emprego que apareceu. Na fábrica, conta Liu Zhiyi, não há nada de especial, além de códigos alfanuméricos que aparecem nos prédios altos. As máquinas, caixas e também o uniforme dos funcionários segue um mesmo padrão.

A reportagem conta ainda que as pessoas na Foxconn trabalham, andam e comem no ritmo acelerado das máquinas, o que fez com que o repórter passasse a fazer tudo mais rápido (“apesar de isso não me fazer bem”), mesmo sem ter alguém que o apressasse. O expediente começa às 4 da manhã, que é quando esse ritmo alucinante tem início.

“A superfábrica com cerca de 400 mil pessoas não é a sweatshop [expressão que define fábricas onde as condições de trabalho são ruins] que a maioria imaginaria. Ela oferece acomodação que chega à escala de uma cidade de médio porte, de forma organizada. Comparada a outras [fábricas], as instalações são bem equipadas e superiores, com o tratamento aos funcionários de acordo com as especificações-padrão”, conclui o jornalista. “Milhares de pessoas vêm aqui todos os dias para encontrar seu lugar, para encontrar um sonho que elas provavelmente nunca irão realizar.”

Últimas Notícias

Hospedagem: UOL Host