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03/08/2010 - 07h00 / Atualizada 20/01/2011 - 16h59

''Não dá para ter serviço 3G de Jaguar se você pagou por um Gol'', diz sindicato de telefonia

ANA IKEDA || Do UOL Tecnologia
  • 'É preciso que se quebrem as amarras para que a população possa desfrutar do serviço”, afirma Eduardo Levy, presidente do SindiTele, sobre alta carga tributária paga pelas operadoras

Nem toda a culpa pela má qualidade dos serviços de internet móvel no Brasil pode ser atribuída exclusivamente às operadoras. É o que defende Eduardo Levy, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTele). Numa comparação com carros, Levy explica que planos de banda larga móvel com valores mais baixos pressupõem garantias menores de manutenção de velocidade, pela própria característica da tecnologia. “Não dá para ter um serviço 3G de Jaguar se você pagou para ter um Gol”, compara.

Entre os gargalos enfrentados pelas operadoras na prestação de serviços 3G, Levy aponta as diferentes legislações municipais e a alta carga tributária brasileira. “Um dos caminhos a ser seguido pelas prestadoras é a expansão da rede. Mas isso poderia ser feito de forma mais rápida não fosse a legislação de uso do solo, por exemplo. Ela varia de município para município e muitas vezes é um entrave para as empresas que trabalham na passagem de fibras óticas ou precisam instalar centrais de rádio”, explica o presidente da SindiTele.

“Em relação aos impostos cobrados pelo governo, eles chegam a até 40% e encarecem a conta do usuário final. No caso dos modems, usados para a conexão 3G, por exemplo, a carga tributária pode alcançar 70%, seja na importação dos aparelhos como na montagem deles em solo nacional”, detalha. O preço de instalação das estações rádio-base, que emitem o sinal 3G, também seria mais alto no Brasil do que no restante do mundo, segundo ele.

Procurada pelo UOL Tecnologia, a assessoria de imprensa da Anatel não respondeu ao pedido de entrevista para participar da reportagem.

Quanto às constantes reclamações dos usuários, em relação às baixas taxas de velocidade e quedas de conexões, Levy pondera que essa é uma dificuldade enfrentada pela própria natureza da tecnologia. “A tecnologia 3G é igual em todo o mundo. Quando o usuário está com o rádio FM ligado e entra num túnel, já sabe que ele ficará mudo, porque não existem antenas dentro desses locais. O problema é semelhante com a internet móvel: o sinal tem dificuldade de penetrar em determinados locais”, exemplifica Levy.

Metas inacessíveis

Além disso, ele alerta que é necessário levar em conta outros obstáculos, como a concentração de usuários em uma mesma “célula”. “Cada célula tem uma capacidade máxima. Muitos usuários conectados ao mesmo tempo nela podem experimentar uma velocidade menor.” Nesse caso, caberia à operadora identificar os pontos com maior demanda de conexão e aumentar o número de antenas. “O problema é que isso encarece o serviço. A garantia de banda pode existir, mas isso custará mais caro para o usuário”, prevê.

Em relação aos patamares mínimos que a Anatel propõe na nova regulamentação sobre a gestão de qualidade da telefonia celular, Levy afirma que o risco das operadoras não conseguirem cumprir os indicadores é grande, como no caso da velocidade mínima igual a 30% da contratada nos horários de pico. “Não conheço nenhum lugar do mundo em que o serviço seja oferecido dessa forma”, afirma categórico. Ele alega que existem situações que as operadoras não podem prever que podem causar momentos de sobrecarga de usuários em pontos de conexão, diminuindo as taxas de velocidade alcançadas.

A melhoria dos serviços de internet 3G depende, segundo o presidente, de investimentos das operadoras na expansão da rede – além da diminuição da carga tributária por parte do governo e de acertos nas legislações que influem no serviço, para facilitar a instalação da infraestrutura necessária para isso. Ele conclui que o governo onera muito o setor de telecomunicações. ''É preciso que se quebrem as amarras para que a população possa desfrutar do serviço”.

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