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03/08/2010 - 06h59 / Atualizada 09/02/2011 - 11h40

Saiba quais os obstáculos para a internet 3G no Brasil melhorar

ANA IKEDA || Do UOL Tecnologia

De todas as reclamações sobre a internet móvel enviadas à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), quase a metade eram de casos de usuários que simplesmente não conseguiram se conectar à rede 3G. Dos que se conectaram, três em cada dez reclamaram das baixas velocidades de navegação. A má qualidade do serviço levou a Anatel a abrir uma consulta pública para criar parâmetros de qualidade para a banda larga móvel. Mas o problema – conforme revelam especialistas consultados pelo UOL Tecnologia – vai além da regulamentação: depende de investimento das operadoras e esbarra na natureza da própria tecnologia.

De acordo com dados da consultoria Teleco, o Brasil alcançou cerca de 13,9 milhões de acessos à rede de internet móvel, dos quais 10,4 milhões são feitos por celulares e outros 3,5 milhões via modems 3G. Isso significa que do total de celulares utilizados no país, 7,5% são 3G. O número de acessos móveis ultrapassou o de banda larga fixa em março deste ano, o que demonstra que no país a 3G funciona como uma espécie de “tapa buraco” da internet fixa, concentrada nos grandes centros urbanos.

  • "A deficiência da banda larga fixa acaba sendo suprida pelo serviço móvel. Mas o sistema não foi concebido para isso”, adverte Ruy Bottesi, presidente da AET

“Aqui, há uma deturpação da finalidade da rede 3G. A deficiência da banda larga fixa, que o Plano Nacional de Banda Larga tentará corrigir, acaba sendo suprida pelo serviço móvel. Mas o sistema não foi concebido para isso”, diz Ruy Bottesi, presidente da Associação dos Engenheiros de Telecomunicações (AET).

Uma das dificuldades próprias da natureza da tecnologia, conforme aponta Eduardo Levy, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTele), é a do sinal 3G não ultrapassar certos obstáculos. “Quando o usuário está com o rádio FM ligado e entra num túnel, já sabe que ele ficará mudo, porque não existem antenas dentro desses locais. O problema é semelhante com a internet móvel: o sinal tem dificuldade de penetrar em determinados locais”, exemplifica. Outro problema é a concentração de usuários numa mesma região, que acabam sobrecarregando o sistema. “Cada célula tem uma capacidade máxima. Muitos usuários conectados nela ao mesmo tempo podem experimentar uma velocidade menor”, diz Levy.

Para agravar o problema, há ainda a demanda por tráfego, que aumenta exponencialmente. “Não é apenas o número de usuários que cresce, mas também o que eles consomem através da rede”, lembra Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. Tude afirma que é possível esperar no mínimo que o tráfego dobre a cada três anos, mundialmente. Outro dado, da Cisco, revela que em 2014 o tráfego móvel em todo o mundo chegará a 3,6 exabytes/mês (para armazenar 1 EB em dados, seriam necessários 71 datacenters que, juntos, ocupariam nove campos de futebol).

Investimento e desoneração fiscal

  • Divulgação

    Para Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, as operadoras devem investir na infraestrutura da rede 3G, como em backhauls

Mesmo com essas limitações, a qualidade da internet móvel pode melhorar caso haja um investimento maior das operadoras na infraestrutura da rede nos próximos anos. “As operadoras tendem a concentrar investimentos nas áreas onde há mais consumidores. Para elas, investir em infraestrutura fora dessas áreas é muito caro. Mas essa despesa poderia ser compensada a longo prazo com o aumento no número de clientes”, aponta Bottesi.

Para o presidente da Teleco, uma solução é aumentar o espectro de frequências utilizadas pelas operadoras para fornecer o serviço de 3G – atualmente são utilizadas as faixas de 850MHz e 1900/2100MHz – e até mesmo lançar mão de novas tecnologias, como a rede 4G, capaz de transmitir dados em até 100 Mbps. A título de comparação, a rede 3G consegue alcançar 21 Mbps, mas os planos vendidos pelas operadoras chegam no máximo a 7 Mbps.

Ainda segundo Tude, é necessário que as empresas invistam na criação de um número maior de backhauls, infraestrutura responsável pelo tráfego da rede central até as redes “secundárias” – numa comparação mais simples, o backhaul faz o mesmo papel que estradas vicinais que chegam às cidades e, quanto mais vias, melhor o fluxo dos veículos (no caso, dados).

A alta carga tributária que recai sobre o serviço de internet móvel, que fica em torno de 40%, também desestimula a expansão do setor. "O governo precisa reduzir impostos para tornar o negócio mais atraente. É preciso desonerar quem presta o serviço e quem paga por ele", diz Bottesi.

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