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23/04/2011 - 09h00 / Atualizada 25/04/2011 - 17h13

Vovós criam blogs para conversar com a família, fazer amigos e também negócios

Larriza Thurler || UOL Tecnologia

Sabe aquelas vovós que passam o dia tricotando, jogando conversa fora ou preparando receitas? Esquece. Ou melhor, atualiza. Agora, muitas delas fazem tudo isso na web. Com o computador, as vovós podem manter o papo em dia com familiares que moram longe, fazer novas amizades, trocar dicas culinárias e até vender suas peças feitas à mão. Quando elas conseguem reunir tudo isso em um único espaço, surgem os blogs criados e alimentados por essas internautas que, se não chegaram à terceira idade, estão a poucos passos dela.

  • Vovó Edna, 17 netos: "Falo com meus netos via SMS, escuto música e leio livros no celular".

Marisa Miani, de 57 anos, que recebeu o apelido de Baísa da netinha, é uma delas. Professora aposentada há 11 anos, ela criou o blog Eu que fiz para compartilhar receitas, fazer amizades e vender seus trabalhos manuais em sua loja virtual.

Casada há 38 anos, vive em Mogi das Cruzes (SP), tem dois filhos – Sandra e André – e uma neta de oito anos. Marisa conheceu o mundo virtual em 1993, com a ajuda do filho, que é fera no assunto. O blog existe desde 2002, mas com outros nomes. O atual está no ar há quatro anos.  “Ele surgiu por conta da minha vontade de ensinar, compartilhar o que sei e também fazer amigos”, afirma.

Atualmente, todas as suas vendas de trabalhos manuais são feitas por meio de encomendas no blog. “Nem me interesso em vender na minha cidade”, brinca. Além do comércio eletrônico, ela se orgulha das amizades virtuais, que ocasionalmente tem a oportunidade de transformar em presenciais nas viagens que gosta de fazer pelo país.

Compartilhar histórias

A internet também foi o espaço encontrado por Neuza Guerreiro de Carvalho para fazer amizades, compartilhar suas experiências e, ainda, preservar a memória. Aos 80 anos, vovó Neuza mantém a forma física com a musculação, que faz há 10 anos. Já a saúde psíquica com certeza é beneficiada pelo Blog da Vovó Neuza, criado em 2008 por insistência do filho e incentivo de Karen Kipns, coordenadora executiva da Casa das Rosas, onde ela frequenta eventos culturais.

  • Vovó Marisa Miani, 57anos, criou o blog para fazer amizades e vender seus trabalhos manuais

“Meu filho achava que o blog me daria mais visibilidade em relação aos textos que escrevia e para partilhar memórias de vida. Ultimamente, no entanto, tem sido usado para divulgação de eventos ligados a mim”, conta ela, que é licenciada em História Natural (atuais Biociências e Geociências) da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH) da Universidade de São Paulo.

Ela gostou tanto da experiência que ainda mantém outro blog,somente sobre a cidade de São Paulo. Papo não falta. E, antenada, também tem Twitter @VoNeuza – que não é tão atualizado, pois 140 caracteres não bastam para tanta história.

A diferença geracional não atrapalhou suas iniciativas no mundo virtual. Neuza tem um casal de filhos – a filha mora na Itália e o filho, no Brasil – e quatro netos. “No começo, eu ouvia os meninos e meu filho conversarem e parecia chinês. Como sou muito curiosa, não podia ficar à margem. Hoje, nesses quase 13 anos de convivência 'internetiana', já acrescentei mais de 60 palavras ao meu vocabulário cotidiano”, brinca. Com a família que mora na Itália, ela fala somente por Skype. “Briga-se, ama-se, compartilha-se coisas boas ou ruins, tudo pela internet. A vida em São Paulo é muito complicada para permitir muitos contatos pessoais”, conta.

Manter contato com queridos

Estreitar os laços familiares também foi um fator que motivou a americana Edna Henke, 64, a criar seu próprio blog. Ela e o marido têm cinco filhos, 17 netos e 85 sobrinhos. Edna já usava ferramentas como MSN para manter o contato com todos. Daí para o blog Grandma Henke (em inglês) foi um pulo. 

“Falo com meus netos via SMS, tiro fotos, escuto música e leio livros no celular. Meu marido e filhos são todos especialistas em tecnologia e me ajudam quando tenho alguma dificuldade. Quem na verdade me encorajou a fazer um blog e me ajudou foi meu genro”, relembra. “Se vejo ou ouço algo divertido, para cima, ou que me emociona, começo a pensar em como poderia descrever aquilo para alguém. Tento escrever como estivesse falando para uma pessoa, cara a cara. Gosto de contar histórias do passado e também sobre nossos netos”, afirma.

Edna confessa que se surpreendeu com as pessoas interessadas no que ela escreve e na quantidade de amigos que fez pelo blog. “Amo escrever e descobri que era animador ter um lugar no qual poderia me expressar sobre o que quisesse. Meus netos são os amores da minha vida e quero que eles me conheçam bem, mesmo se moram longe”, disse.

Sexagenária, ela se sente no melhor momento da vida. “Eu e meu marido trabalhamos muito a vida toda e só nos aposentamos há alguns anos. Por isso, procuramos nos divertir o máximo possível. Dois de nossos filhos moram perto de Seattle, em Washington, então compramos uma motorhome e agora viajamos para lá para passar o verão. Mas sempre procuramos um lugar com acesso à internet, para manter contato com as crianças em Utah. Não posso mais me imaginar sem estar conectada e em contato com aqueles que amo”, disse.

 

  • Toalha de mesa confeccionada por vovó Baísa: um dos ítens à venda no blog 'Eu que fiz'

Potencial para crescer

 

Existem cada vez mais vovós conectadas à internet. Segundo dados da Pnad 2009 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, a população com mais de 50 anos foi a que apresentou maior expansão entre as faixas etárias pesquisadas, com alta de 148,3%, entre 2005 e 2009. Ainda assim, somente 15,2% daqueles com 50 anos ou mais utilizaram a internet em 2009 - o que representa 6,2 milhões de pessoas. E as mulheres foram as que mais contribuíram para este aumento. De 2008 a 2009, houve um incremento de 46,1% no número de mulheres com mais de 50 anos, contra um acréscimo de 35,5% do número de homens que acessaram a rede.

Se você quiser engrossar as estatísticas, mas precisa de um empurrãozinho, as vovós dão alguns conselhos:

Vovó Edna:“Entregue-se e comece. É um caminho muito bom para sentir sua família próxima, mesmo se a distância os separa. É algo que se pode fazer quieto, em casa. Pense que está sentado conversando com um de seus familiares. Amigos ou familiares podem ajudar.”

Vovó Baísa:“Acredito que a melhor maneira de uma vovó aprender a usar a internet deve ser comprar um computador e fazer as aulas com um profissional que se disponha a ensiná-la em seu aparelho em casa. Assim, aprende só o que realmente quer saber e o restante você vai descobrindo sozinha. Se houver dúvidas ou problemas, este profissional é acionado via e-mail ou telefone e rapidamente a vovó será socorrida. Cursos formais não são indicados para vovós, por serem muito detalhistas, cansativos e também por ensinar muita coisa que a vovó nunca vai utilizar.”

Vovó Neuza:“Coloque um blog no ar se tiver alguma coisa a dizer, ou será trabalho perdido e só vai criar mais uma responsabilidade. Para falar 'abobrinhas', já tem muita gente fazendo isso. Eu aprendi a maioria das coisas por tentativa e erro, quebrando a cabeça, sim, e perdendo muita coisa que tive que digitar de novo.” 

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