UOL Notícias Tecnologia

28/07/2011 - 15h54

Alternativos fazem 'vaquinha' na web para concretizar projetos; grupo juntou R$ 58 mil

RODRIGO VITULLI || UOL Tecnologia

Além de uma ideia, a realização de um projeto profissional exige financiamento. Leis de incentivo à cultura, patrocínio estatal e privado são os caminhos mais comuns na busca de investimentos. Uma alternativa, porém, tem se mostrado viável e conquistado a adesão de milhares usuários da web no Brasil. O chamado crowdfunding, que ao pé da letra significa “o investimento feito por multidões”, aposta no poder colaborativo da internet para reunir micro investimentos de milhares de pessoas em torno de uma ideia promissora. E tem tido sucesso.

  • Reprodução

    Grupo Transparência Hacker arrecadou mais de R$ 58 mil para o projeto Ônibus Hacker

Um julho, o grupo de hackerativistas Transparência Hacker optou pelo método crowdfunding para financiar a ideia do Ônibus Hacker. O objetivo do projeto é comprar e reformar um ônibus usado para que funcione como um escritório móvel. O “QG” ambulante do grupo pretende viajar por cidades brasileiras disseminando a cultura do colaborativismo digital e ajudando comunidades a solucionar problemas de administração por meio do ciberativismo.

Em pouco mais de 50 dias, o grupo conseguiu angariar cerca de R$ 58 mil (a meta era R$ 40 mil) no site de crowdfunding Catarse.  “Nossa proposta não seria viável se fosse financiado de outra forma”, explica Liane Lira, umas criadoras do ônibus Hacker. “A ideia visa levar transparência pública. A partir do momento que você tem uma empresa por trás, você tem que prestar contas de alguma forma e isso pode nos limitar em vários aspectos”, completa Liane.

Como funciona?

O site norte-americano Kickstarter existe desde 2009 e serviu de inspiração para empreendedores do mundo todo. Sua premissa inicial é fazer com que pessoas contribuam, por meio da web, com pequenas quantias em prol de um projeto. Cada projeto precisa estabelecer uma meta de arrecadação mínima para ser realizado. Se o valor for alcançado, o idealizador recebe a contribuição e assume o compromisso de concretizar a ideia. Os administradores do site, por sua vez, colhem uma pequena quantia do total arrecado para custeio, manutenção e lucro. O conceito parece ter chegado com força no Brasil e já existem, pelo menos, seis exemplos similares ao Kickstarter no país.

“No Brasil, a cultura da colaboração coletiva financeira, principalmente pela web, está em crescimento. Ainda assim, é bastante crua em relação a outro mercados, como o americano. É um desafio adaptar esse modelo de negócios”, afirma Diego Reenberg, sócio do Catarse, que, desde janeiro deste ano, ajudou a financiar, além do Ônibus Hacker, diversos projetos que, juntos, arrecadaram por volta de R$ 500 mil.

Um dos cases de maiores sucesso da história do crowdfunding no Brasil envolveu a “A Banda Mais Bonita da Cidade”.  O grupo bombou na web com o clipe da música “Oração”, hoje com mais de seis milhões de acessos. Depois do sucesso repentino, o grupo decidiu financiar no Catarse o primeiro álbum, oferendo aos fãs a possibilidade de contribuir com quantias diferenciadas para cada música individualmente. Ao todo, as 11 músicas que comporão o CD arrecadam cerca de R$ 50 mil. 

Não é doação?

Apesar da comparação inevitável, os criadores dos sites de crowdfunding evitam utilizar o conceito de doação. Isso porque todos que contribuírem com algum projeto podem usufruir das chamadas recompensas. Os colaboradores podem, de acordo com regras pré-estabelecidas, receber pequenos benefícios, que vão desde uma música de demonstração (no caso da gravação de um álbum) até um protótipo de um produto. “É por esse motivo que nossa proposta pode ser vista como uma mistura de mecenato com comércio eletrônico. Essa troca propicia isso”, completa Reenberg.

Além da questão cultural, outro contratempo torna o desafio dos sites de crowdfunding ainda maior: a legislação brasileira não companha as novidades tecnológicas. Portanto, não existe uma lei específica que enquadre a prática em uma categoria existente. A troca de produtos ou brindes, chamados também de recompensas, evitam que a modalidade seja caracterizada como um investimento puro e que os “colaboradores” cobrem cotas de projetos bem sucedidos no futuro.

Olha eu aqui

  • Reprodução

    Banda Sururu na Roda consegiu investimento necessário para gravar álbum por meio da web

Em muitos casos, a visibilidade trazida com os sites de microfinanciamento na web podem valer mais do que o dinheiro em si. Muitos dos projetos divulgados nessas plataformas ganharam a atenção da mídia e viralizaram. Por esse motivo, os especialistas dão a dica: um vídeo de divulgação bem feito e um forte presença na web são fundamentais.  “Os sites de microfinanciamento acabam funcionando como uma grande vitrine, na qual você pode mostrar uma pequena demonstração do seu trabalho”, explica Vanessa Oliveira, sócia do site Movere.me. “É uma maneira de mostrar que o projeto está ativo”, completa.  

Há cinco meses no ar, o Movere.me já ajudou a financiar projetos como o da banda Sururu na Roda, que propôs a gravação de um álbum em homenagem ao compositor carioca Nelson Cavaquinho. Com valor excedente ao vislumbrado inicialmente (R$ 1.165,00 a mais do que os R$34 mil projetados), a banda já está em processo de mixagem do álbum e deve lança-lo em breve. As pessoas que apoiaram o projeto com o valor mínimo de R$ 5 reais tiveram o nome divulgado no site da banda junto com um agradecimento especial. As recompensas também envolveram a distribuição do CD, worskhops individuais de percussão, jantares com integrantes da banda e eram oferecidos de acordo com o valor doado. “Gostamos da proposta e evitamos o processo desgastante de correr atrás de patrocínio. Foi uma oportunidade única para fazer música da maneira que a gente acha mais legal e autêntico”, declara Fabiano Salek, percussionista do Sururu na Roda.

Apesar dos vários casos de sucesso, muitos projetos não são concretizados nos sites de crowdfunding, seja porque a ideia simplesmente não colou ou não foi bem estruturada: “As pessoas não podem achar que o dinheiro vai vir por um milagre. O autor tem que correr atrás, ver o crowdfunding como uma maneira de trabalho, divulgar, acreditar na própria ideia e ter vontade. Os projetos em que o autor não colocou empenho não deram em nada”, ressalta Vanessa Oliveira, do Movere.me. 

Veja mais

Últimas Notícias

Hospedagem: UOL Host